Eh pá, parece que anda por aí gente muito enxofrada por eu dizer o que é uma realidade cultural.
Aliás um cientista do social só pode estudar e dizer a realidade, tal como a interpreta, cientificamente. Cabe a outros fazerem a refutação, com argumentos. De preferência científicos.
Peço desculpa a todos os que se sentiram melindrados, mas especialmente ao Dr. Aquilino por ter usado o seu nome. Interpretei, tal qual como pus no blog, a questão da escolha destes temas "inéditos", e dos ensaios destes, para apresentar aquando da apresentação do livro da Deana Baroqueiro.
Foi o que me apercebi, foi graças à sua persistência, não foi fácil, não queriam aceitar sequer a Dança do Fidalgo, a única pérola que, à data, Paço dos Negros podia apresentar em qualquer parte do mundo em qualquer festival de dança popular. Recusavam-se sequer a dançá-la, em Paço dos Negros, terra onde nasceu e foi recolhida. Não sei se por vergonha, se por ignorância. Não interessa, a segunda conduz à primeira.
Para ensaiarmos a D. Inês, essa pérola do romanceiro nacional, recolhida em Paço dos Negros e com uma característica local muito própria, entre dezenas aqui recolhidas, recordo que foi uma carga de trabalhos. Depois, mostrando que pouco lhes interessaria conseguir a melhor interpretaçaõ, só faltou digladiarem-se, que «eu sou mais artista que tu para interpretá-la. Uma vergonha»
Para aceitarem apenas estas duas pérolas da nossa cultura, não se conseguiu mais, e o momento, a Deana, o livro D. Sebastião e o Vidente, que põe Paço dos Negros no centro da trama, que levou à perda da independência, exigiam mais, pois para aceitarem uma ideia nova, provada cientificamente, pareciam, como diz o povo, carneiros por corda, ou animal quando vai para o matadoiro.
O seu cânone do gosto ainda só lhes permitia aceitar o fandango de varapaus, essa fraude, esse embuste circense que nunca existiu, criação de um renomado folclorista dos anos 50. (informem-se, com espírito humilde, pronto a aprender, junto de um insigne folclorista de Santarém actual).
Hoje já temos mais peças que, de algum modo nos transportam para este nosso glorioso passado, graças às nossas pesquisas e à cultura das nossas velhinhas avós, algumas já partiram, a quem todos muito ficamos a dever.
A propósito, dou-lhes a ouvir mais uma pérola recolhida nesta nossa magnífica Ribeira de Muge, que talvez remonte ao século XVIII. Démos-lhe o nome de "canção de escravas".
Peço desculpa pela má gravação, mas foi ao primeiríssimo ensaio, na Academia: ontem, dia 14. No próximo melhoraremos, e substitui-la-emos.