quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Representações da Ribeira de Muge

Vale de Negros, era o nome pelo qual era representada a região onde se situava o Paço dos Negros, nos séculos XVIII/XIX.


RIZZI-ZANNONI, Giovanni Antonio, ca. 1736-1814

Les royaumes de Portugal et d'Algarve

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Representações de Paço dos Negros através dos tempos

Representação do Paço dos Negros. Na segunda metade do século XVI era conhecido como Paços da Serra.


SECO, Fernando Álvares, fl. 1561-1585

Portugalliae que olim Lusitania
 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O ritual da Adiafa na Ponte Velha

O ritual da adiafa constituía o comemorar de um fim de ciclo. Por vezes o fim de um longo período que poderia ser até bem penoso, mas que tinha o condão de transformar um espaço e um tempo profano de algum modo num tempo e num espaço sagrado, de festa, funcionando como terapia individual e colectiva, na cura dos males do corpo e do espírito.


Cantando e bailando, havia uma troca, ofereciam e recebiam: os efeitos de agradar, a protecção, a segurança: «O patrão dava (...) mas a gente tinha que lhe dar....». Os artigos que eram objecto de troca: Bolos e bananas; coisas boas e raras naquele tempo, as primícias. O doce do arroz doce. O pão e o vinho, com todo o seu simbolismo. O carneiro, sempre o carneiro, (numa região onde predomina o porco), o símbolo da oferenda a Deus: Abraão, a imolação de Isac. Não podemos esquecer que estes momentos eram sempre acompanhados de música e danças. Os cantares eram omnipresentes.

O nosso rancho/Vem a chegar/Saiotes feitos/Sempre a cantar.

Sempre a cantar/Desta maneira/Vimos trazer /A nossa bandeira.


Adeus ó patrão Manel/Mais a patroa Maria/Adeus até p´ro ano/Ou será para toda a vida.

J. Vitória uma das mulheres que viveu esta e outras adiafas: «No fim dos trabalhos havia sempre uma adiafa. O patrão dava a adiafa mas a gente tinha que lhe dar uma bandeira. Uma bandeira muita grande, carregada com bolos e bananas. O patrão dava a comida e o vinho. Era sempre batatas com carneiro. Na ceifa era arroz doce. Na monda era o carneiro.Fazia-se aquilo para agradar ao patrão. A gente dantes fazíamos tudo para agradar ao patrão».

Estas práticas, mesmo que perdendo o cunho sacrificial religioso, mas por uma certa solenidade posta nas atitudes e realizações, pelo simbolismo, a sociedade mantém a capacidade de transformação dos espaços e vivências.

Os capatazes oferecem a bandeira,1954


Ranchos da Ribeira de Muge

Rancho da Ponte Velha, monda do arroz,  em dia de adiafa - anos 50




sábado, 26 de dezembro de 2009

Arqueologias e barbaridades

De quando era jovem, eis o que nos diz um antigo jornaleiro, cavador, de Paço dos Negros, nascido em 1932, José Moreira Fernandes, de quando, cerca de 1950, andou a arrotear terra de arroz, no Arco, junto a Paço dos Negros:


«No chão, dentro da terra de arroz, estavam os prumos da ponte. A ponte saía para o lado da ribeira da Calha do lado esquerdo da ribeira (de Muge). A estrada que saía era a direito a subir o cabeço. Não ia pela borda da ribeira como vai hoje.
Depois é que fizeram a estrada mais dentro, pela borda da ribeira da Calha acima e depois para a Lamarosa, era pelo Arneiro Alto.
Tinha dois prumos, que era onde estava o tal arco. Mas o arco completo já não o conheci.
Estavam dois prumos em tijolo. Eu andei lá a cavar, a arrotear a terra. Andávamos a cavar para fazer terra de arroz. E era para escangalhar os tais dois prumos.
O capataz, que era o Navalhas, dizia para o Manel Rato: – Manda a enxada!
O Manuel Rato mandou a enxada, escangalhou a enxada. Partiu a enxada.
Era dois prumos que havia. Devia ser coisa antiga.»

Ao ouvir este relato, de pessoas que não sabem ler, nem escrever, veio-nos à memória a indignação de Mário Saa, porque um cavador, em Água Branca, ali ao cimo da Ribeira de Muge, porque sabia ler, «ao encontrar inumerável quantidade de moedas» … e «… bem assim uma prancha de argila, com inscrição, prontamente estilhaçada e dispersa pelo próprio jornaleiro que a encontrou… o qual, homem novo, sabia ler e escrever. (É incurável o mal da “barbaria”; não há letras que a extirpem!)».

Atreves-te, Mário Saa, a dizer que não tinha o direito de escavacar a inscrição de imediato a olho de enxada, só porque sabia ler!? Se tu visses o que por aqui se passa, não só não fazem, como impedem, até perseguem  quem o faz, até armam brigas a ver aquele que consegue destruir mais, e afirmam que sabem ler, que têm muitos poderes, até têm canudo e tudo; mais, até se afirmam defensores da cultura. Se visses, fartavas-te de rebolar no túmulo.


Pegão de Ponte "Romana" da ribeira de Muge.




Vista da saída da antiga ponte, sentido da ribeira




Vista do que foi a estrada, saída da Ponte,  no sentido da cumeada.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Curiosidades sobre o Paço dos Negros da Ribeira de Muge

Neste documento comprova-se que o Paço acabou de ser construído em 1514. Antão Fernandes que era escrivão no almoxarifado de Almeirim em 1514, em 1515 é o almoxarife da Ribeira de Muge.
Pelo tamanho das alcatifas, a maior deveria ter cerca de 20m2, pode inferir-se do tamanho do salão que a recebeu. Salão que existe no Paço. Assim haja vontade de o encontrar.


cc,1,16,93

«Sejam certos os que esta carta virem como é verdade que Diogo Rodrigues almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja recebeu de Rui Leite tesoureiro da casa del rei nosso senhor seis sacos d’irlanda …/… e assim três alcatifas de Castela, a saber: uma delas de vinte e cinco palmos que foi avaliada em três mil e seiscentos réis e outra de vinte palmos que foi avaliada em dois mil e oitocentos réis e outra de doze palmos que foi avaliada em mil e quinhentos réis as quais alcatifas são de Castela as quais coisas lhe foram entregues por Duarte Fernandes reposteiro do dito senhor e por que é verdade que do dito Rui leite recebeu as coisas sobre ditas lhe mandou fosse feita neste almoxarifado por mim Antão Fernandes escrivão que os sobre ele dito Diogo Rodrigues carreguei em receita. Feita em Almeirim aos 25 dias de Novembro de 1514»


Diogo Roiz                                                                               Antão Fernandes

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Aforamento de Paço dos Negros


Trecho da escritura de Aforamento de Paço dos Negros, acontecido nos anos de 1903 e 1904.
RETIRADO

João de Oliveira Caniço, um dos pioneiros desse aforamento, nascido em 1864 e falecido em 1963.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Trajes da Ribeira de Muge

Rapariga da Ribeira de Muge - Paço dos Negros, anos 40

Traje de trabalho - (corte do mato)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Muro da Cerca Quinhentista, do Paço

Ao assistir a uma palestra, pelo Arqueólogo Cláudio Torres, em Coimbra, sobre "Património que Futuro?", senti vergonha  de como desprezamos e desvalorizamos o nosso património, seja ele património edificado, sejam as memórias colectivas: os cantos ancestrais, as danças, os contos, as histórias de vida . Ao ouvir este Sábio, e ao ver como as pessoas se enredam na  sua ignorância a defender a sua Quinta, senti como as pessoas de Paço dos Negros, não sabem sequer, nem sonham, as potencialidades e mais valias que lhe podem advir, com a defesa do seu património, nestes tempos de modernidade e transformação. E mais, como os seus representantes, que deviam contrariar esta ignorância, antes se apoiam nela, para reinarem.

Muro da Cerca do Pomar, abandonado,  construído em 1511


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Choça

Um dos mais arcaicos tipos de habitação. Utilizado pelos pastores nas suas "transumâncias". Foto actual, tirada em Paço dos negros, na Ribeira de Muge.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Galeria de Almoxarifes do Paço da Ribeira de Muge

Aos possíveis leitores deste blogue, ofereço a galeria completa deste almoxarifado, como correcção do erro na última mensagem, em que referi Duarte Peixoto como o 4º e não o 5º almoxarife que foi.

1 - 9/2/1514 - DIOGO RODRIGUES. Exerceu o cargo de almoxarife das obras desde 1511.


2 - 1515 - ANTÃO FERNANDES.

3 - 30/5/1522 - LUIS DA MOTA.

4 - 30/9/1546 - ESTEVÃO PEIXOTO.

5 - 17/9/1574 - DUARTE PEIXOTO.

6 - 30/7/1621 - ESTEVÃO PEIXOTO DA SILVA.

7 - 29/4/1644 - JOÃO RODEL FIGUEIRA.

8 - 30/3/1656 - FRANCISCO DE ALMEIDA.

9 - 10/2/1667 - JORGE PEIXOTO DA SILVA.

10 - 2/2/1679 - FELIPE PEIXOTO DA SILVA.

11 - 22/2/1679 - JOSÉ SOARES DA MOTA. Na menoridade de Filipe Peixoto da Silva.

12 - 10/4/1685 - PAULO SOARES DA MOTA. Ainda na menoridade de Filipe Peixoto da Silva. Mais tarde, em 1695, após desistência de Filipe, na maioridade, foi confirmada a sua nomeação definitiva.

13 - 23/7/1750 - JOÃO DE SEIXAS HENRIQUES.

14 - 3/3/1769 – PAULO SOARES DA MOTA.

Em 1790 quando saiu a propriedade do Paço dos Negros da Fazenda Real, e após a extinção do almoxarifado, João Evaristo de Sá Seixas, era almoxarife da Capela do Paço dos Negros da Ribeira de Muge. Tinha de ordenado 40.000 réis.

Em um documento de 4 de Julho de 1801, reza: “Este paço foi dado em Exmo. Marquês de Tancos e se conserva o ordenado ao dito almoxarife por ter a seu cargo a dita capela que existe.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Duarte Peixoto - 4º almoxarife do Paço da Ribeira de Muge

Duarte Peixoto 1574-1621




«Dom Sebastião etc. aos que esta carta virem faço saber que por parte de Duarte Peixoto filho de Estêvão Peixoto cavaleiro da minha casa almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja me foi apresentado um alvará passado pela chancelaria por que me pedindo por por falecimento de seu pai lhe fazer mercê do dito ofício de que o treslado do dito alvará é o seguinte: eu el-rei faço saber aos que este alvará virem que havendo respeito ao conhecimento que há que Estêvão Peixoto cavaleiro fidalgo de minha casa me serve no ofício de almoxarife dos Paços da Serra e em outras coisas em que me tem servido hei por bem e me praz de lhe fazer mercê de por seu falecimento fazer mercê a Duarte Peixoto seu filho do ofício dos ditos Paços assim e da maneira e com o mesmo ordenado que o ele tem Estêvão Peixoto seu pai e para minha lembrança e sua guarda lhe mandei dar este alvará pelo qual Estêvão Peixoto tendo tal ofício se fazer dele por seu falecimento outro tal em forma a Duarte Peixoto seu filho na maneira que dito junto declaração que o dito ordenado...» Ch. Henrique e D. Sebastião, 31, 330v-331.


Principais características deste almoxarifado: Deverá continuar a receber 24.000 anuais. Ter um cavalo para guardar a coutada. A menção indistinta de Paço da Ribeira de Muge e Paço da Serra, tal com no tempo de seu pai.
Pela primeira vez aparece a obrigação de reparar e consertar o Paço, a referência ao cultivo do Pomar, para o que receberá 24.000 réis anuais.
Será este um sinal de que os negros já não seriam suficientes, ou já não existiriam no Paço?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Grande História é Feita de Pequenas Histórias

En 2003, perante o que nos parecia uma indignidade no tratamento da História da minha Terra, publiquei n"o Almeirinense".



«Almeirim, uma História mal contada?

Que a cidade de Almeirim tem que contar ninguém duvida.
Outros mais conhecedores da cidade, dos seus problemas e das suas gentes, disso tratarão. Pretendo sim falar de história. Da História que é a deste nosso concelho:
Neste ano da graça de 2003, numa visita ao Paço da Ribeira de Muge, M, morador neste Paço, fazendo de cicerone a este pobre escriba, entre outras afirmações, asseverava: «...aqui é o túmulo do Rei Preto...»
Dois meses depois, a surpresa de ouvir da boca de Jesuína Fidalgo, neta de Manuel Francisco Fidalgo, que adquiriu o Paço ao conde de Azambuja, a frase atribuída a este, para seu bisavô Manuel Tomé Magriço: - «Tomé, isto não tem história daqui para trás, só para a frente. Vocês não encontram história para trás, só para a frente».
E continuava: «O rei tinha uma filha. Tinha um preto que era criado do rei. O preto mete-se com a princesa e engravida a princesa. Eles para ninguém saber que ela já tinha tido um filho, mandaram para aqui o preto degradado para criar o filho aqui. Para ninguém dar notícia. O rei tinha vergonha do neto preto. Era um escândalo para a alteza das outras nações. Quem contava a lenda disto, que o rei tinha escondido aqui o neto, era o conde o D. Manuel, que era o dono do Paço. É uma lenda mas é verdade. Depois criou-se aqui o preto. Depois ficou o Paço dos Negros».
Intrigado com as convictas afirmações, vou reler «O Paço dos Negros da Ribeira de Muge e os seus Almoxarifes», separata da publicação Brasões e Genealogias, de Frazão de Vasconcellos, publicação datada do ano de 1926, onde vemos a páginas 5: «Cremos que o Paço da Ribeira de Muge só se chamou dos Negros a partir dos fins do século XVI e que esta designação deve originar-se no facto de – no tempo del rei D. Manuel – para ali terem ido escravos negros que lá viveram e tiveram sucessão. O povo do sítio começou, certamente, a designar o Paço real por Paço dos Negros, para o distinguir de outro que junto da mesma ribeira havia, chamado Paço de Cima. Ao Paço dos Negros chamavam, e ainda hoje chamam, também, Paço de Baixo.
Em 1528 foram feitos os seguintes pagamentos pelo almoxarifado de Santarém, que confirmam, a nosso ver, o que acima dizemos;
« E 42$670 rs. ao almoxarife dos paços da Ribeira de Muja e escravos e filhos deles. – E 25$580 rs. mais ao dito almoxarife pera mâtimêto de hû escravo além dos outros. – E 2$00 rs. mais ao dito almoxarife pera corregimêto das ferramenta e compras doutras novas, e para canas, fio, thamiça.- e 2$580 rs. mais ao dito almoxarife para mântimêto e vestido e calçado da mulher preta, com que casou Diogo Lopes, preto».
(Torre do Tombo – Corpo Cronológico, P. J. M. XL. Doc. 53).

Perante o transcrito, pomos questões como:
Basear-se-ão as afirmações atribuídas ao conde de Azambuja na realidade?
Porquê permanece na memória do povo do lugar, a existência de um rei Preto?
Porquê “25$580 rs. mais ao dito almoxarife pera mâtimêto de hû escravo além dos outros”? Quem era este “escravo especial” que custava 25$580 rs?
Quem é este Diogo Lopes e esta mulher preta? Porquê, sendo escravos, tinham estes, direito a uma tença especial? Porquê, na descrição, separá-los dos restantes, apondo-os a seguir aos utensílios?
Seria a vinda de alguns nobres, para as caçadas, como é de bom tom referenciar, motivo bastante para a vinda de negros?
Teriam, outros Paços bem mais frequentados pela nobreza e pela própria corte, sido dotados, também eles, de servidores negros no século XVI?
Não seria a localização deste Paço, nos confins da Serra de Almeirim, quase inacessível nesta época, mas não demasiado afastado, um local propício para o desterro e abafamento de uma qualquer situação incómoda, que as novas descobertas e contactos, originavam?
As questões ficam no ar.

Precisa-se escavações. Historiadores, investigadores, cuja dúvida seja para eles um assalto permanente. Dos acomodados e escandalizados, já temos o suficiente.
Manuel Evangelista»
O Paço e Moinho em 2003




Visto do interior do Pátio em 2003

domingo, 13 de dezembro de 2009

A Escrava Maria

Um vestido para Maria, a escrava da Rainha no Paço da Ribeira de Muge.
Será esta a escrava de que falámos anteriormente e que servia os cabreiros e maioris da Rainha, no Paço. Paço da Serra era, como por vezes, nestes anos,  era designado o Paço da Ribeira.


2112 réis para compra de um vestido que deu a Maria Preta que Miguel Cabreiro trouxe que estava nos Paços da Serra /em Setembro de 1552.


Contadores da minha casa mando-vos que leveis em conta a Álvaro Lopes meu tesoureiro os dois mil cento e doze reis que despendeu no vestido de Maria escrava atrás contido segundo se mostra por assento de Diogo Martins escrivão de seu cargo. Feito em Lisboa a xiii de Setembro. Aleixo de Morais o fez de 1552.
Rainha

Recebido Aleixo de Morais

Para levarem em conta ao tesoureiro os 2112 reis contidos neste rol que despendeu no vestido de Maria escrava que veio de Almeirim. cc, 1, 88, 112

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cabeço de Ferro de Raposa

Cabeço de Ferro, junto à ribeira de Muge, em Ferrarias, junto a Raposa.


Em tudo idêntico aos dois Montes da Borra de Ferro do Paço dos Negros, que segundo informações dos que os transportaram em carroças, no ínicio dos anos 50, para fazer as estradas de Paço dos Negros para Raposa, e para Marianos e a rua do Vale João Viegas, e aos quais se refere a "Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, Tomo XXVIII: 251", e segundo as dimensões relatadas dos mesmos, e as densidades apresentadas por este minério, seriam umas dez mil toneladas de escórias.

Curiosidades sobre o Paço dos Negros da Ribeira de Muge

Na carta de Pedro Matela, ao Rei, de 22-4-1511, dando conta do estado das obras do Paço, este revela-nos de algum modo, de onde vieram as madeiras, 90 carros, nomeadamnte de castanho de que temos vários documentos, (de Dornes, no Zêzere?), e quem teria sido o carpinteiro: Pedro Anes, nomeado em 1507 «Mestre de carpintaria de todas nossas obras, onde quer que elas estiverem...»

«Outrossim senhor me disseram que viera a essa cidade muita madeira parece-me que será vosso serviço mandar dar para esta obra a que for necessária por que mais brevemente se fará que esperar pela madeira de Dornes que não pode vir tão cedo e se vossa alteza ordenar de a mandar dar haver ser mester cento e noventa carros de madeira de toda sorte vossa alteza me escreva se há por bem de a dar e mandareis logo por ela e se não esperássemos pela de Dornes nos não será tão cedo e assim seja mester tabuado de castanho e se Pedro Anes há-de fazer a obra mande-o logo vossa alteza com a madeira.

trecho da carta cc,1,10,26

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Na senda dos escravos da Ribeira de Muge

Mezinhas para os Escravos do Rei


Trecho da carta, onde Pedro Matela dá ordem a Henrique Nunes: «Pedro Matella cavaleiro da Casa d’el-rei nosso senhor e seu contador na comarca dos escravos desta mui nobre e sempre leal vila de Santarém e da vila de Abrantes, corregedor perpétuo da vila de Almeirim, vos mando a vós Henrique Nunes, almoxarife do almoxarifado desta dita vila de Santarém, que qualquer dinheiro que tiverdes do ano passado de mil quinhentos e vinte e nove, deis e pagueis a Simão Roiz, boticário, os 1210 réis atrás contidos nesta carta de Mestre Luís, os quais 1210 réis foram de mezinhas para os ditos escravos do dito senhor», CC, 2, mac 164, fol.48.


"O recibo"

Senhor contador


O bacharel Mestre Luís, físico dos escravos desta vila, que tenho cargo de curar os escravos del-rei nosso senhor, da Ribeira de Muge, digo que é verdade que eu contei umas mezinhas a Simão Roiz de certas receitas que ele deu de sua botica para os ditos escravos, as quais mezinhas foram mandadas dar por o dito contador e assinadas por ele e por o físico, e ao fazer desta conta foram todos perante ele nos quais se montaram 1210 réis, e para lhe serem pagos lhe dei este por mim assinado e feito em Santarém ao primeiro dia de Agosto de 1530 anos.
Assinatura indecifrada


Eu Simão Roiz boticário digo que é verdade que eu recebi de Henrique Nunes almoxarife estes 1210 réis neste mandado atrás escrito e por ser verdade que os assim recebi assinei este conhecimento por mim feito e assinado. Feito aos 13 dias do mês de Agosto 1530 anos.

Simão Roiz.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Prioridades de gente bem pensante

Ontem, 4-12-09, aconteceu mais um acidente grave na via principal de Paço dos Negros. O local é uma curva muito perigosa, que foi feita em séculos passados pelos burros, e depois confirmada pelos homens, que são seres inteligentes.
Podemos ver no mapa, que, pelo ponteado, os limites da propriedade, demarcados em 1815, 27-4, eram em linha recta. No local assinalado, em recta, estava posicionado o 11º marco, RA - REI E ATALAIA.


Um dos 19 marcos (1815)
 
trecho de Mapa de Paço dos Negros


Certo é que hoje em vez de se dar prioridade a melhorar o perfil desta via, que tem várias lombas e curvas, que prejudicam a visibilidade, e já ceifou, em poucos anos, três vidas jovens, e muitos mais acidentes, dá-se prioridade a promessas de rotundas, na terra, que dão nas vistas, mas que nem de longe tem mostrado ser a primeira necessidade.

Hoje, depois das obras de santa engrácia que desde 2005 decorrem na localidade, vê-se aí muita indignação, eu não vejo porquê, se ao passar nas ruas de Paço dos Negros, é uma aventura e ao mesmo tempo uma festa. Com a necessária adaptação, pois o mar é de pó, ou de lama, mas também de água, só me faz recordar um verso que uma velha mulher da terra me cantou há uns anos.

O mar é uma brincadeira


Não custa nada a passar

Até dá gostos à gente

Quando vai a balançar

Lembra-me certas coisinhas

Quando me eu ponho a pensar.


Parabéns pois ao iluminado que conseguiu este feito e este efeito.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Os Escravos da Ribeira de Muge - cont.

Este documento informa-nos de quantos escravos viviam no Paço da Ribeira de
Muge, no ano de 1529. Que além dos escravos vivia ali um negro de nome Fernando Frade.

trecho de doc, CC, 1, mac 43, fol.110.


Eu, el-rei, mando a vós almoxarife ou recebedor do almoxarifado de Santarém, que das rendimento dele do ano passado de quinhentos e vinte e oito deis a Luís da Mota, almoxarife dos meus Paços da Ribeira de Muge, seis mil cento e vinte e cinco réis que monta ao acrescentamento que fez aos escravos e suas mulheres e filhos, que estão nos ditos Paços de seu conduto e calçado à razão de um real por dia mais aos homens e mulheres para conduto e de vinte réis por mês a cada um para calçado e aos filhos meio real mais por dia ao que dito e dez réis por mês para calçado os quais tem dezoito escravos homens quatro mulheres e oito filhos, segundo se viu por certidão do contador Pedro Matella e os ditos seis mil cento e vinte e cinco réis se montam de tempo de sete meses e vinte e cinco dias os ordenados do dito ano passado entrando aqui 542 réis que Fernão Frade o dito tempo vence soldo (?) dois mil réis que cada ano lhe acrescentei e não foram no caderno do apontamento nem tiveram pagamento do dito tempo por não apresentarem nos livros da minha fazenda o alvará do dito acrescentamento os quais dias se lhos pagareis posto que não foram no dito caderno e não tendo dinheiro do ano passado pagar-lhe-eis do rendimento do ano presente e por este conhecimento do dito almoxarife lhes serão levados em conta. Manuel da Costa o fez em Lisboa a 18 de Outubro de 1529. Fernão de Álvares o fez escrever

Rei

6.125 réis no almoxarifado de Santarém ao almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge que montam no acrescentamento que V.A. fez aos escravos que estão nos ditos Paços e a suas mulheres e filhos como acima hei declarado dareis de 7 meses e 25 dias do ano passado e que se paguem posto que não foram no caderno e não tendo dinheiro do ano passado lhe pague deste.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arqueologia científica e arqueologia manhosa

No traslado da carta escritura do Paço da Ribeira de Muge, de 3 de Maio de 1511, referente aos moinhos existentes, lemos:

Trecho da carta, Conselho da Fazenda, Liv. 136.


«...e da outra parte com os canos da água que vem da fonte que se chamava antigamente do Meichieiro que ora é de El Rei, o qual moinho tem duas pedras com uma casa grande, e defronte ao dito moinho tem mais três casas…»

Estando provado o moinho referenciado ser o antigo moinho do Paço, que aparece bem documentado durante vários séculos, que se situava, até recentemente, junto ao Monte da Borra de Ferro, serão estas três casas as casas a que se refere a Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, Tomo XXVIII: 251, publicação de 1947, uma oficina? onde se teriam fundido os «deux monticules constitués par des scories de fondition, probablement contemporains du chateau?


Foto ruínas: de ferraria? - a cem metros do paço




Ruínas - idem





Ou serão antes, as casas pertencentes às ruínas que se vêm por debaixo do Paço quinhentista, a construir nesse ano?





Realmente está este espaço, do Paço e da Cerca, a precisar de trabalhos de um profundo estudo arqueológico, um trabalho de arqueologia que respeite a ciência, que parta das evidências concretas no terreno, e não numa pretensa pesquisa aleatória, fugindo das evidências como o diabo da cruz, que se presta a ser acusada de servir interesses obscuros, contrários à finalidade da ciência. Que foi o que aconteceu com as pesquisas recentemente efectuadas. Ciência e cientistas foram utilizados para provarem o que se pretendia, que era não haver interesse histórico/arqueológico no local. Assim, uns dizem ter tratado bem a ciência, os outros foram servidos com o resultado que manhosamente pretendiam. Ambos estão de parabéns. Desgraçadamente. Parabéns pois.

foto de o Mirante de 7-3-07




Pesquisa efectuada em descampado, a 30 metros do sítio cujas evidências são óbvias, local de ciência certa e resultados à medida da encomenda.

Ainda a Rainha D. Catarina e o almoxarife Estêvão Peixoto






CC, 1, mac 87, fol.83

6.000 réis de mercê ao almoxarife dos Paços da Serra em 552 Estêvão Peixoto


Contadores da minha casa mandamos que leveis em conta e despesa por este somente sem mais outro mandado nem consentimento a Álvaro Lopes meu tesoureiro seis mil réis que por meu mandado deu a Estêvão Peixoto almoxarife dos Paços da Serra a que deles fez mercê e este não passará pela chancelaria.. António d’Aguiar o fez em Almeirim a 6 dias de Fevereiro de mil 5 e 52. Pêro Fernandes o fez escrever.
A Rainha


Para os contadores que levem em conta e despesa por este somente autorizado 6.000 réis que por mandado de vossa Alteza deu a Estêvão Peixoto almoxarife dos Paços da Serra a que deles fez mercê e este não passará pela chancelaria.

Ribeira de Muge em Paço dos Negros

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Estevâo Peixoto - 4º Almoxarife da Ribeira de Muge

Alguma especificidades deste almoxarifado: Era escudeiro da Casa del rei. Passou a receber 10.000 reis de ordenado, que recebeu como retroactivo.  Era obrigado a ter um cavalo, para guardar a coutada, tal como o seu sogro e antecessor, Luis da Mota.  Foi dono de moinhos na ribeira de Muge. Neste período é por vezes o Paço da Ribeira de Muge designado, simultaneamente, por Paços da Serra. Era muito religioso e das relações da Rainha D. Catarina. Fez-se sepultar no Convento da Serra tendo deixado um legado em testamento, para que os frades rezassem 50 missas por ano.


trecho de alvará de nomeação,ch D. João III, liv 33, 176v.

Dom João etc. a quantos esta minha carta virem faço saber que confiando eu de Estêvão Peixoto escudeiro de minha casa que me praz mandar e como a meu serviço cumpre tenho por bem e lhe faço mercê do ofício de almoxarife dos meus Paços da Ribeira de Muge, assim e pela maneira que o foi Luís da Mota seu sogro, por cujo falecimento vagou e com o qual ofício ele terá e arrecadará de mantimento do dia que o dito seu sogro faleceu e ele começou de essa era em diante que fora a três do mês de Agosto do ano passado de 545 e que fez por esta procuração que tirou dante o Juiz de Fora desta vila de Santarém dez mil réis em dinheiro e dois moios de trigo e dois móis de cevada que é outro tanto como o dito seu sogro tinha e havia por minhas cartas e os 10 mil réis lhe serão pagos no almoxarifado desta dita vila de Santarém e dois moios de trigo e dois móis de cevada lhe serão pagos nas Jugadas desta dita vila, os quais dois moios de cevada serão para mantimento de um cavalo que será obrigado ter continuadamente para guardar a coutada da dita ribeira como o dito seu sogro o tinha e era obrigado. Contudo oficio e mando aos almoxarifes ou recebedores do dito almoxarifado e Jugadas que lhe pagueis o dito dinheiro e cevada por esta só carta e sem mais tirar outra de minha Fazenda e pelo traslado dela que os escrivães destes almoxarifados registarão em seus livros e seu conhecimento mando aos contadores que lhe levem em conta e despesa e aos contadores destes almoxarifados e Jugadas lhe façam fazer o dito pagamento presente e sem quebra alguma e assim haverá o dito Estêvão Peixoto os prós e percalços como dito e ordenados por meu Regimento ... a fez a 30 de Setembro de 1546.


Entrega do "Banco do Rei Preto" em 1-7-2005, que estivera em Almeirim durante 50 anos.


sábado, 28 de novembro de 2009

A Rainha D. Catarina e o Paço da Ribeira de Muge

Contrariando os Bárbaros de Almeirim, os tais do poderoso lóbi do Restopórtico, o Paço da Ribeira de Muge, o único que se mantém teimosa e orgulhosamente de pé, no concelho, foi um dos locais preferidos da Rainha D. Catarina que, em meados de 500 passava longas temporadas em Almeirim.


trecho do doc, CC, 1, mac 84, fol.87

64.380 réis que fizeram de custo e despesa dos pastores das vacas e cabras da Rainha nossa senhora de 550.

Eu a Rainha, mando a vós Lucas Datença, que tendes carrego de meu tesoureiro, e a qualquer outro que ao diante tiver o dito carrego, que de dia de S. Miguel, que passou a 29 de Setembro deste ano presente de 1550 em diante, deis em cada um ano, a Estêvão Peixoto, almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja, o dinheiro e coisas abaixo declaradas que lhe mando dar pela guarda e criação das minhas vacas e cabras que andam na dita Ribeira de Muja e de que ele tem carrego:

Para dois vaqueiros, de sua soldada, quatro mil e novecentos réis;
Ao maioral três mil réis, e ao rompeiro mil e novecentos;
E para seu vestido, mil e oitocentos réis, à razão de novecentos réis a cada um;
E para seu calçado mil seiscentos e oitenta réis, à razão de setenta réis por mês a cada um;
E para soldada de dois cabreiros, quatro mil e quinhentos réis:
Ao maioral, dois mil e quinhentos réis, e ao rompeiro dois mil réis;
E para seu vestido, mil e oitocentos réis, à razão de novecentos réis a cada um;
Para seu calçado mil seiscentos e oitenta réis, à razão de oitenta réis por mês a cada um;
E para mantimento dos quatro pastores e de uma escrava minha que lhe há-de amassar e lavar a roupa, cinco moios de centeio;
E para mantimento de seus cães, três moios de trigo;
E para mantimento dos ditos pastores e escrava, vinte alqueires de azeite e quatro milheiros de sardinha, e seis dúzias de peixe seco, e vinte cabos de cebolas e alhos;
E vinte e quatro varas de burel para cobertas dos ditos quatro pastores;
E vinte e quatro varas de almafega, para suas tendas;
E assim lhe dareis mais para mantimento das bestas de serviço dos ditos pastores, um moio de cevada.
E pelo treslado deste alvará geral e seu conhecimento....

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Paço dos Negros e a Rainha D. Catarina

É ESTE UM DOCUMENTO QUE PROVA OS INTERESSE ECONÓMICOS DA RAINHA DONA CATARINA NO PAÇO DA RIBEIRA DE MUGE.

trecho do documento, CC, 1, mac 84, fol.65.

4 mil reis que deu a Estêvão Peixoto que se lhe deviam de um moio e 36 alqueires de cevada e palha e carreto em 550.


Contadores da minha casa mando-vos que por este somente sem mais outro mandado nem consentimento leveis em conta a Álvaro Lopes meu tesoureiro 4. 000 réis que por meu mandado verbal deu e pagou a Estêvão Peixoto almoxarife d’el-rei meu senhor dos seus Paços da Ribeira de Muja por outros tantos que ele despendeu em um moio e trinta e seis alqueires de cevada que comprou para as minhas vacas que traz na dita ribeira e assim no carreto da dita cevada e de certa palha que mandou levar para as ditas vacas e outras despesas miúdas que com elas fez e este não passará pela minha chancelaria. João de Seixas o fez em Lisboa a 4 de Junho de 1550. Manuel da Costa o fez escrever.
A Rainha

Que por este somente, leveis em conta a Álvaro Lopes nosso tesoureiro quatro mil réis que por mandado verbal de V. Alteza deu e pagou a Estêvão Peixoto almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja, que os despendeu com as vacas que nela traz de V. Alteza segundo acima declaradas e que este não passará pela chancelaria.

A barbárie 2009 - aspecto actual do Paço da Ribeira de Muge




terça-feira, 24 de novembro de 2009

Um casamento na capela de S. João Baptista de Paço dos Negros

São inúmeros os casamentos que se realizaram na capela de S. João Baptista de Paço dos Negros, nos séculos passados. Dedicação de Capela até há cinco anos desconhecida, desprezada, transformada em celeiro, e que após um reboco, bem ou mal feito há dois anos, aguarda, vergonhosamente, por um telhado, prometido há muito pela Câmara Municipal de Almeirim. Espera-se que caia este Inverno?
Uma câmara que em alturas de eleições, num debate na rádio, “se gabou de nadar em dinheiro” e que o esbanja em Almeirim.





Documentos paroquiais, freguesia de Santo António de Raposa, Torre do Tombo, microfilme 1506.


Aspecto actual da capela

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Os galegos, os barrões, os bimbos, os caramelos, os ratinhos e os gaibéus




Um conto de Entre Muge e Sorraia, esta região tão deserta e tão desconhecida, zona de muitos caseiros, boieiros, cabreiros, porqueiros, onde este conto foi recolhido:
A primeira metade do século XX foi a época do pão. Semeavam-se extensas áreas de trigo em todas estas charnecas de Entre-Muge-e-Sorraia.
Mas como nessa época não havia foices caseiras que chegassem para ceifar tanto pão, vinham segadores de outras regiões do país, das Beiras principalmente e, a esses trabalhadores os de cá alcunhavam-nos de nomes vários: galegos, barrões, bimbos, caramelos, ratinhos, gaibéus.
Uma safra, um caramelo que veio a ser alcunhado de João Aldrabão, veio lá de cima ceifar para Vicentinhos, depois casou com uma cachopa que morava na Calha do Grou e foram morar numa barraca num vale que, por isso se passou a chamar “Caramelo”; já casou por pensar que assim se livraria da fome, e resolveu cá ficar para sempre.
Uns anos depois, veio um grupo de ceifeiros da terra dele e vizinhas, para ceifar trigo no Salgueiral. Por acaso o João Aldrabão foi parar a essa ceifa. Então, alguns dos mais novos já não os conhecia, começou a perguntar sobre a sua parentela.
– Eu xou filho da ti Ana Cancaburrana e do ti Jaquim Ripolecas – respondeu-lhe um dos galegos.
O João Aldrabão ao ouvir aqueles nomes, largou a foice, abraçou-se ao outro a chorar: – Atão tu éje o meu irmão Jéi, porque eu também xou da Murteirinha e também xou filho da ti Ana Cancaburrana e do ti Jaquim Ripolecas.
– Então o noxo pai? Como está ele?
– O noxo pai está no xemitério da Murteirinha.
– Então o noxo pai morreu!
– Ele não morreu, foi Deus que o matou.
– Xó xe foi à traixão! Pois que cara a cara Deus não era homem para ele, porque o noxo pai era mui valente.
– E a noxa courela? A têm xemeado de trigo?
– Xim. Ainda o ano paxado deu o mijaneiro da noxa mana Ana, três vezes rajinho.
– E a noxa mana Rosa, deve já estar uma mulherjinha…
Está mui valente, mas danhou-xe.
– Atão ela morde na gente?
– Não, mas começa a roncar como os porcos, agarra-xe aos homens que nem com um pau cheio de zagarrunchos xe dejapega.
Nesse grupo andava um ceifeiro dos Paços, de alcunha o Até Gozas, por sinal amigo de trunfar a cachorra; ao saber do parentesco do galego com o Aldrabão, a meter a pichinha, disse para o irmão do João Aldrabão:
– Ó gaibéu, ê tenhe ouviste dezer que bocêses qande vãim ceifari p’ó Ribateijo deixum a mulher intregue ó padre.
– Nã xinhor. A gente quando vem ó Ribatejo leva a mulher ó xapatero, e ele coge-lhe a paxaxa com uma linha de xapatero. E a ponta que crexe a gente mete-lha no cu.
– Ó raio!...
E o ribatejano gozão, queimou-se, até deu dois pulos: – Vá meter a ponta no cu dos filhos da ti Ana Cancaburrana!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O almoxarifado da Ribeira de Muge, cont.

Por mais que os que regem esta terra,  queiram fazer de conta que o Paço nunca existiu, logo não existe, ele existe mesmo.

Luis da Mota, terceiro almoxarife


Dom João etc. a quantos esta nossa carta virem fazemos saber que confiando nós de Luís da Mota, cavaleiro da nossa casa que neste nos servirá bem e fielmente e com todo cuidado que cumpre a nosso serviço e a boa guarda dos nossos Paços da Ribeira de Muja, e das coisas nossas que em este estão, querendo-lhe fazer graça e mercê temos por bem e o damos daqui em diante por almoxarife dos ditos Paços, assim e pela maneira que o foi Antão Fernandes que o dito ofício tinha e se finou e porém mandamos ao nosso contador de Santarém e a todos os nossos oficiais e para quem esta nossa carta for mostrada, e o conhecimento pertencer que hajam daqui em diante ao dito Luís da Mota por almoxarife dos ditos paços e o meta em posse do dito ofício e lhe faça entregar todas as coisas que em ele estão de que o dito Antão Fernandes tinha cuidado e lhe deixar o dito ofício servir e dele usar como havia por o dito regimento e provisão dele que o dito cargo tinha sem lhe nisso pôr dúvida nem embargo algum com o qual ofício queremos que haja de mantimento em cada um ano 8 mil rei e dois moios de trigo e dois moios de cevada que é outro tanto como sempre tinha o dito Antão Fernandes, segundo vimos por certidão da dita coutada de Santarém que proveu o regimento da carta (?) tinha e haverá o pagamento do dito dinheiro por esta guisa a saber: os ditos 8 mil réis no almoxarifado da dita vila de Santarém e os dois moios de trigo por a renda que tereis nos moinhos da dita ribeira e os dois moios de cevada que lhe damos para um cavalo que será obrigado a ter continuadamente para guardar a coutada da dita ribeira segundo o fazia o dito Antão Fernandes lhe pagará o nosso almoxarife d’Almeirim e mandamos os ditos almoxarifados tanto de Santarém como de Almeirim que lhe paguem o dito dinheiro trigo e cevada por esta só carta sem mais tirar outra de nossa fazenda e por o traslado dela que se registará em seus livros por os escrivães destes almoxarifados em seu livro mandamos que lhe seja levada em conta e ao dito contador que o fará assinar por o qual Luís da Mota jurou em a nossa cláusula aos santos evangelhos que bem e verdadeiramente serve o dito cargo e lhe fica registado de sua moradia e guarda que tinha em nossa casa. Dada em Lisboa a 30 de Maio, Pedro Fernandes o fez de 1522 anos.(D. João III, 51,126).

Assinatura indecifrada.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Moinhos, caminhos, e descaminhos da Ribeira de Muge

Teve a Ribeira de Muge ao longo de seis séculos cerca de 20 moinhos, os quais foram recebendo designações diversas. Tiveram como construtores, donatários ou arrendatários, as mais diversas personagens, desde moleiros, criados, clérigos, frades, escudeiros, almoxarifes, desembargadores, fidalgos.
De entre outros, as referências ao moinho do Paço, do Pinheiro e da Ponte Velha, remontam a finais do século XV, inícios de XVI, anterior à construção do Paço. Era seu titular Vasco Palha, contador-mor de Santarém e almoxarife no Paul da Serra, na ribeira de Muge. Moinhos estes, e terrenos, que cedeu em escambo ao rei D. Manuel para a construção do Paço.
São contudo, três moinhos a sul de Raposa, aqueles cujas referências são as mais precoces.
Vemos em uma carta de D. Duarte, de 1434, na qual, por mor de uma contenda, foi ordenado fazer a demarcação dos concelhos de Muge e Santarém, pela estrada que vai para Coruche, pelo moinho da Riguefeira: «…as terras e termos daqui em diante sobre que a dita contenda é, será partida e declarada por esta guisa que se segue: e assim como vai da estrada pelos moinhos da Riguefeira para Coruche, e que da estrada para fora da contra Muja fique por seu termo e desce pelas outras divisões de uma e outra contra parte segundo ao que o concelho é divisado e demarcado e o concelho de Santarém haverá por seu termo da dita estrada para cima e em tal guisa que os moinhos que se chamam da Riguefeira fiquem em sua terra e seu termo». (ficaria este no concelho de Santarém e dois no de Muge).
Termo este, Regueifeira, que delimita a montante o termo de Muge, como confirmam várias cartas de D. Duarte, em que o dito paul vai desde a Ponte da vila até à Regueifeira, ou vice-versa.
Termo este que tomaria, ainda no século XV, o nome de Moinho de Vasco Velho, designação que manteria durante vários séculos e que aparece na delimitação da mata e coutada da Ribeira de Muge, até ao século XVIII, onde sempre diz: desde o moinho de Vasco Velho; com o tempo alternando a montante até: Mem Fernandes, Pego da Curva, Marmeleira…
Outros moinhos e outras designações se foram construindo e tomando.
O Porto da Regueifeira em 1459 era designado de Porto de Lançarote, do nome do seu titular, grada figura, morador em Muge. Teve outros titulares como, Aires de Sousa Coutinho e sua mulher, Filipa da Cunha, quando em 1568, sob a designação de “Moinho junto do Pontão”, foi feita esmola aos frades do convento de Nossa Senhora da Serra. Doação que durou até ao século XIX.
Este Porto da Regueifeira, em 1434 Lançarote, e Pontão desde meados do século XVI, vem confirmar sulcos ancestrais, bem racionais por sinal, já que evitavam penosos declives e encurtavam distâncias, como se pode hoje confirmar no terreno. no mapa anexo pode ver-se a estrada do Convento da Serra ao Pontão.)
O Porto da Corte dos Pegos (actual estrada da Raposa), aparece no século XVI, a encimar a Coutada das Éguas que vai desde o Porto da Regueifeira, até ao Porto das Cortes dos Pegos. Pegos das Ferrarias que ainda hoje são conhecidos e cantados, na Raposa.



Moinho da Ponte Velha


Hoje os caminhos da Ribeira de Muge são outros. São descaminhos. São caminhos de interesses. São caminhos de ignorância. A ribeira está a saque. Poluída. Abandonada há mais de 30 anos. Indivíduos que deveriam ser responsáveis, enchem a boca na sua defesa e ignoram-na. Baseando-se em conhecimentos que não têm, sem qualquer estudo científico que sustente a sua decisão, alguns sem conhecerem sequer onde fica a Ribeira, além da incúria que patenteiam para com os monumentos ainda de pé, agem como mercenários em terra alheia, preparando-se para lhe dar a machadada final. Será legítima a indignação dos cidadãos conscientes? Será que não é legítimo a um cidadão interrogar-se: Porquê?

Ribeira de Muge entulhada e poluída




terça-feira, 17 de novembro de 2009

Campinos da Ribeira de Muge


«Manuel de Abreu nós el-rei vos enviamos muito saudar encomendamos-vos e mandamos que tanto que esta virdes compres doze vacas muito pequenas e as mais formosas e remendadas que puderdes haver e dois touros isso mesmo pequenos e formosos e tanto que os tiverdes comprados os envieis por um homem que para isso tomamos com este nosso moço de estribeira que a isso enviamos que os traga aos nossos Paços da Ribeira de Muge para aí andarem e o dito homem vos levará conta de Diogo Rodrigues almoxarife dos ditos Paços que declarará que os recebeu de nós e ficam sobres eles carregados em receita e por ele mandamos que aos nossos contadores que vos levem em conta o que custaram e isto cumpri assim com toda a diligência e brevidade por que cumpre assim o nosso serviço. Escrita em Lisboa aos 20 dias de Agosto André Pires o fez de 1513. E assim comprais também dois bois para andarem com um carro. Rei.» (CC, 1, maço 13, fol. 43).

(Em recibo, de 30 de Setembro, assinado pelo Almoxarife das Obras, Diogo Rodrigues, diz o custo de cada uma das 16 peças.)

Temos ouvido, por vezes, opinião de que na Ribeira de Muge nunca houve campinos. Manda a verdade dizer que na Ribeira de Muge haverá pelo menos 500 anos que existe a actividade ligada aos toiros, como se pode ver na carta acima, em que nos anos da construção do Paço da Ribeira de Muge, logo vieram 12 vacas, 2 bois e dois toiros.
Várias herdades na Ribeira de Muge, como os Gagos e a Ponte Velha, os tiveram, e outras como nas Talasnas parece que mantêm ainda a criação de toiros bravos.

“Último” campino da Ribeira de Muge” que morreu em Maio de 2007 e, até morrer, o víamos passar na sua bicicleta, a fazer o percurso Várzea Redonda – Paço dos Negros, sempre fardado a rigor.

A nossa homenagem a António Simões.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Paço dos Negros romano - Ponte Romana

Pegão de ponte; romana?, na ribeira de Muge, no sítio do Arco, lugar de Ponte Velha, junto a Paço dos Negros. (descoberta pelo Mestre Eurico Henriques)
Serviria a via Santarem-Évora
(consultar: http://www2.ipa.min-cultura.pt/pls/dipa/wsearch2.psitio



Antigo Mapa da estrutura viária da peninsula Ibérica

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Paço dos Negros da Ribeira de Muge Romano


Cerâmicas encontradas no Paço dos Negros da Ribeira de Muge



(Associação de defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Paço dos Negros da Ribeira de Muge, romano


Moeda romana – AEZ – de Valentinianus, século V – Paço dos Negros
(Associação de defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim)