Já há muito que tenho conhecimento de uma “moda” do Rancho Folclórico de Fazendas de Almeirim, denominada Verga Mota. Não sei, nem nunca ouvi, o significado e origem desta.
Talvez que nos Papéis de S. Roque, Henrique Leonor Pina, pela pena de Simão Vinagre, esse autor esquecido almeirinense de uns escritos quinhentistas, nos leve à origem desta pérola.
No ano de 1575, no regresso de Évora para Almeirim, onde fora acompanhar D. Sebastião, no Paço de Salvaterra Simão Vinagre encontra João Francisco Velanes, hortelão e pomareiro, que lhe falou de sua mãe e seu tio, Pasquim Velanes, italianos de Bérgamo, terra de belíssimos limões e cheirosas cidras, a que chamam bergamotas.
Vieram para Portugal, seu tio para cuidar especialmente das laranjeiras e jardins do Paço de Évora, por conta d’el-rei e escolha do senhor D. Álvaro de Castro, e mais tarde do Paço de Santarém e de Salvaterra. Em Santarém trabalhou com Joaquim Mendes, pomareiro do pomar real de Almeirim, já velhote, onde agora ia muitas vezes falar com o pomareiro seu amigo.
Falam das laranjeiras de Almeirim, de casca grossa, e das bergamotas que têm a casca mais fina.
Pesquisando na Internet vemos que ainda hoje, no sul do Brasil, se dá o nome de bergamota ou vergamota a uma espécie de citrino, uma tangerina de excelente qualidade.
É originária da Ásia. A origem do seu nome vem de onde a fruta era cultivada e vendida, em Bérgamo. Planta muito aromática, tem propriedades terapêuticas: anti-séptica, anti-inflamatória, antidepresseiva, antiviral, antibiótica. Combate diversos vírus, entre os quais os causadores da gripe, herpes, cobreiro e catapora. Devido às suas versáteis propriedades antibióticas, também trata de infecções bacterianas no sistema urinário e diversas condições de pele, entre as quais eczemas.
Analisando semanticamente o verso popular vemos que Vergamota é classificada de coisa rara, “pau de luxo”.
Numa época em que a terra ainda não estava distribuída, uma nova e tão excelente variedade de laranjas, quiçá cultivada apenas nos pomares reais, só poderia ser um luxo. Por vezes até, desdenhado por quem lhe não poderia chegar.
Verga mota, verga mota
Verga mota pau de luxo
Tenho raiva a quem é alto
Meu amor é pequerrucho
Clique para ouvir um excerto: VERGA MOTA
Será a moda desta época? Será mais tardia, do século XVIII e XIX quando o povo começou a ser dono das terras da coutada? Não me parece.
É este contributo que se for útil, neste renascer de Páscoa, quero deixar ao Rancho de Fazendas de Almeirim, que sei que está apostado em conhecer as raízes e dignificar a palavra FOLCLORE.