Nesta carta do Corregedor de Santarém dirigida a el-rei, vemos que no ano de 1542 ocorreram dois graves crimes na Ribeira de Muge: A morte de um moleiro e o abuso de uma mocinha. Uma mulher que se fora queixar ao rei, a Évora, e a justiça que funcionou.
O Corregedor diz que dera execução ao mandado, ordenado por el-rei e prendera os dois criminosos, com muito trabalho.
«Senhor, Tanto que ora comecei a servir de Corregedor por comissão do licenciado João Videira me foi dado em culpa um Diogo cabreiro que foi de Nossa Senhora da Serra por ser culpado na morte do moleiro da Ribeira de Muja e assim um vaqueiro de alcunha Mãodelete(?) que é culpado na força que foi feita na charneca a uma mocinha que ia com sua mãe... e esta se foi queixar a Vª Aª a Évora...»
Relata o Corregedor que apesar das dificuldades, andaram toda uma escura noite, pelas charnecas, à chuva, e andando mais de sete léguas, os foram prender prós lados da Erra.
E hoje, olhariam os nossos reis para uma pobre mulher injustiçada, que calcorreou 100 quilómetros a pedir justiça? Estarão os nossos muitos reizinhos engravatados, empenhados em fazer justiça, mormente a uma esquecida mulher numa qualquer ribeira desconhecida?
E estarão os nossos corregedores, agachados na sombra dos gabinetes, empenhados em calcorrear caminhos, de noite e à chuva, para executá-la?
Casal da Varzea Redonda, na paradisíaca Ribeira de Muge, cujo moinho foi mandado construir no ano de 1547.