quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Conversa entre amigos e lançamento de livro.

Conversa entre amigos sobre o Natal da nossa terra e as nossas memórias 

E ainda «Versos - o Romanceiro da Ribeira de Muge»"


É este o mote para a última iniciativa de 2015 da Academia Itinerarium XIV. A realizar no próximo dia 20 de dezembro, às 15.00h, no Paço Real da Ribeira de Muge (Paço dos Negros - Almeirim). Um pouco ao estilo de uma conversa sobre "o antigamente", como se passava o Natal aqui, algumas estórias caricatas que aconteciam no Dia de Natal, entrelaçada com poesia e narrativas recolhidas junto das pessoas que aqui viveram e vivem. Algumas destas serão contadas pelos próprios protagonistas ou autores. 

Mas como o espírito natalício impele a que haja um dar e um receber, pretende-se que quem nos visite fique não só a conhecer o Natal da Ribeira de Muge, mas também que nos dê a conhecer como era o seu Natal antigamente e como é hoje. Assim, o convite é que venham também partilhar o vosso Natal com todos nós. 

Dentro deste espírito de informalidade e de conversa, será apresentado o livro "Versos - O Romanceiro da Ribeira de Muge", da autoria de Manuel Evangelista, que reúne poesia e narrativas populares recolhidas pelo autor ao longo de vários anos que se dedicou ( e continua a dedicar) a estudar a cultura popular da Ribeira de Muge. 

A Academia Itinerarium XIV é constituída por um grupo de cidadãos de Paço dos Negros, e tem como objetivo a promoção da divulgação do património, história e etnografia deste local. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

"Versos" O Romanceiro da Ribeira de Muge.

No prelo. A sair antes do Natal. Uma eterna gratidão às mulheres que no-lo deram.

Índice
IN MEMORIAM  7
AS PRIMEIRAS PESQUISAS     9
ROMANCEIRO DA RIBEIRA DE MUGE, UM LEGADO CULTURAL     12
HISTÓRIA, TRANSMISSÃO DO ROMANCEIRO, E TRANSMISSÃO DA NOTÍCIA COMO ARTE   19
A DESCOBERTA DE ASPECTOS GENUÍNOS DA CULTURA LOCAL. O “PRIVILÉGIO DE REGRESSAR À IDADE MÉDIA”.       22
ESTRUTURAÇÃO E OBJECTIVOS DESTE ESTUDO  25
OS MESTRES   27
A CATEGORIZAÇÃO DO ROMANCEIRO     29
AGRADECIMENTOS      30

PARTE I – ROMANCES VELHOS  31
A NAU CATRINETA     34
DONA INFANTA (A BELA INFANTA, ETC.)     35
O ANEL DE SETE PEDRAS (A DONA INFANTA, BELA INFANTA, RICOLINA, ETC.) – versão 2  36
O LENCINHO (O ANEL DE OIRO, DONA INFANTA, BELA INFANTA, ETC.) versão 3    38
CLARALINDA (A BELA INFANTA) – versão 4  39
A NOIVA (CONDE DIRLOS, O REGRESSO DO NAVEGANTE, A NOIVA ARRAIANA, MENINA DA MANTILHA NOVA, CONDE FLORES, ETC.)  40
A NOIVA – versão 2  42
NOIVA – versão 3    43
A NOIVA – versão 4  44
A CONQUISTA DE LISBOA      45
D. MARQUES (D. MARCOS, D. LEONOR, A DONZELA QUE VAI À GUERRA, ETC.)       46
D. MARQUES – versão 2      49
JULIANA (O VENENO DE MORIANA, D. AUSENIA, D. JORGE, ETC.)   51
D. INÊS (BRAVO FRANCO, D. FRANCO, GALLO FRANCO, RICO FRANCO, ETC.) 52
MARIANA (CONDE DE MONTALVAR, CONDE CLAROS, ALBANINHA, D. LISARDA, ETC.)   54
MARIANA – versão 2  56
SILVANA (DELGADINHA, SILVANINHA, ETC.)  58
ADELINA (SILVANA, SILVANINHA, ETC.) – versão 2 60
CONDE DA ALEMANHA (CONDE ALARCOS, CONDE ALBERTO, ETC.)      61
CONDE DA ALEMANHA – Versão 2      63
LAURALINDA (CLARA LINDA, FILOMENA, D. ALDA, ETC.)     64
FREI JOÃO (A MORENA, FILOMENA, MORENINHA, ETC.)       65
FREI JOÃO – versão 2       67
O SOLDADINHO NOVO   68
O SOLDADINHO (BERNAL FRANCÊS, A AMADA DEFUNTA, A APARIÇÃO, ETC.) – versão 2      69
O SOLDADINHO – versão 3    70
A PASTORINHA 71
SANTA IRIA (IRIA A FIDALGA, SANTA HELENA, ETC) 72
DONA IRIA – versão 2       74
O CEGO (MINETA, O FALSO CEGO, ROMANCE DE ANINHAS, ETC.) – versão 3 75
O CEGO PANTOMINEIRO (O FALSO CEGO, O CEGO, O CEGUINHO, ETC.) – versão 4   76
A CONDESSA (A VISCONDESSA, CONDESSA DE ARAGÃO, ETC.)  77

ROMANCEIRO ANTIGO   79
QUINTA-FEIRA DE ASCENSÃO   81
ROSALINA     82
ROSALINA – versão 2 83
ROSALINA – versão 3 84
ROSALINA – versão 4 84
ONDE VAIS TU CRIANCINHA?   85
ONDE VAIS TU CRIANCINHA? – versão 2     86
A MULHER SOBERBA (ROMANCE DO HOMEM RICO, A MULHER AVARENTA, ETC.)  87
NUNCA TE DAREI PERDÃO      88
NUNCA TE DAREI PERDÃO – versão 2  88
PERDÃO EMÍLIA 89
UM SINAL NO CÉU     90
ROSITA (MORTE DE PARTO, BRANCA ROSA, ETC.)     90
A ROSA (BRANCA ROSA, ETC.) – versão 2   91
POMBA SEM FEL, (BELA AURORA A DOENTE, ROMANCE DOS DOIS NAMORADOS, ETC.)   93
SILVA DO VALE 94
UMA ALMA DO OUTRO MUNDO    95
CERTO DIA FUI À CAÇA (LINDO CANÁRIO, A FILHA DO REI, ETC.)  96
Ó VIRGINA Ó VIRGININHA     97
O BAILE DA MALDIÇÃO 99
ALBERTINA ERA A FILHA DO REI      100

ROMANCEIRO RELIGIOSO (SACROS E DEVOTOS) 101
O BOM JESUS DA AURORA      103
JUBILOSO SANTO ANTÓNIO     104
ORAÇÃO DE S. LÁZARO 105
ORAÇÃO DE S. CUSTÓDIO (DO ANJO CUSTÓDIO) 105
QUINTA-FEIRA DE ENDOENÇAS  107
VALHA-ME DEUS (A DEVOTA DA ERMIDA)      108
Ó MINHA TRISTE NOITE ESCURA (ORAÇÃO DO DIA DO JUIZO)  110
MAGNIFA DE NOSSA SENHORA   111
ORAÇÃO DAS SETE SEXTAS-FEIRAS     112
ORAÇÃO ÀS ALMAS     113
AS DOZE EXCELÊNCIAS (versão 1)    114
AS DOZE EXCELÊNCIAS* (versão 2)   115
Ó BOM JESUS  116
SANTA BÁRBARA E S. JEROLMO 116
“VERSO” DE SANTO ANTÓNIO   117
O SINAL DO CRISTÃO  118

PARTE II – ROMANCEIRO LOCAL       119
ANTÓNIO DOMINGOS    121
Ó MILITAR Ó GALUCHO 122
MANEL BRAZ   123
DAVID CRAVINAS (JOÃO DO GUARDA)   125
O AIVECA     126
MANUEL FAUSTINO     127
INÁCIO DO MOINHO    128
HUMBERTO PADEIRO    129
FLORENTINA   130
FLAUZINO RABECA     131
DEONILDE TACHA      132
FOI NA BARRAGEM DA PIPA    134
ZÉ LIMA FAZENDEIRO  135
VERSO DA …-… 136
FOI NUM RANCHO DE FAZENDEIRAS     137
DIA DA ESPIGA 139
MARIA DA CONCEIÇÃO  140
O CEGONHO    141
ALDEIA DE MARIANOS  142
ADEUS MINHA QUERIDA AMADA  142
ZÉ MOIRA     143
O LADRÃO DA COMPORTA       144
OS DE ALMEIRIM JÁ LEVARAM QUE CONTAR    144
O ACIDENTE DO TURIM 146

PARTE III – “VERSOS” VINDOS DE OUTRAS REGIÕES DO PAÍS 147
O SÁBIO E O BARQUEIRO      151
POMBINHO CORREIO    151
ANA ROBERTA  152
O ROUBO      154
MARIA DA PAZ 155
MULHER DA VIDA      156
Ó CRIADA TU MAL SABES (A CRIADA E O PATRÃO)    157
AURORA DA CONCEIÇÃO 159
“VERSO” DE UM CÃO FIEL     160
A ROSINHA COSTUREIRA       160
AUGUSTO NÃO PENSASTE BEM   163
ANTÓNIO VEIO DE VIAGEM     163
UM RAPAZ QUE ERA TROPA     164
LINDA ISAURA 165
A DONA MARIA ALICE  166
MARIA ADELINA DE ALDEGAS   166
NUMA ALDEIA ALENTEJANA     167
Ó MANUEL, MANUEL    168
OH “EMILHA”  169
A TECEDEIRA VIOLINDA       170
UM RAPAZ DE QUINZE ANOS    171
UM GAROTITO DE DEZ ANOS    172
MARIA ALBERTINA     173
A PERPÉTUA DA CALÇADA      174
ALICE ANGÉLICA      174
PEQUENA ABANDONADA  175
MENINA QUE VAI PASSANDO    176
O MEU VIZINHO ALBANO       176
JOAQUIM DA PORTELA  177
BALDONINHA   177
LUCIANA      178
CARMA  179
“VERSO” DA ÍNDIA    180
ALBERTINA    180
A ROSITA E O FERNANDO      181
ADEUS MINHA MÃE QUERIDA    182
NOVE DE ABRIL MEU AMOR - BATALHA DE LA LYS     183
AS 48 ESTAÇÕES      184
A MORTE DE D. PEDRO V      185
UM PRETO GRANDE ESTEIO     186
NUMA ALDEIA UMA POBREZINHA 186
UM VELHO DE BOM TEMPO      187
ERA UMA VEZ UM MARRECO     188
O CABREIRITO (OU MENINA QUE ESTÁS À JANELA, ETC.)     188
O NOIVADO    190
A FORMIGA E A NEVE  191

BIBLIOGRAFIA 193

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Valorizar o nosso património.

Com a devida vénia ao blogue de Samuel Tomé:

Samuel Tomé levou neste fim de semana o Moinho do Fidalgo ao III Encontro Nacional de Molinologia
Moinhos de Portugal com Samuel Tome
12 h
Samuel José Rodrigues Tomé
Moinho do Fidalgo - História, Tecnologia e valorização de um engenho centenário
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Evangelista Manuel

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Evangelista Manuel Um trabalho hercúleo o teu, sem dúvida. Na foto pode ver-se a capela de S. João Baptista, e, em baixo, o estado do moinho do Fidalgo, em Paço dos Negros, Almeirim, em 2003. Simplesmente não se vê, coberto de canas que está. Parabéns Samuel. Continua. E parabéns à Academia que tem lutado para que o nosso património seja reabilitado.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O senso comum como ciência, ou puro embuste ao mais alto nível?

Muito se tem discutido sobre a presença de marcos miliários junto a Alpiarça. Outros dizem entre Almeirim e Alpiarça. Os mais ousados decerto bem informados, decerto bebem do fino, talvez escondendo algo ao mundo científico, avançam com a frase: “recentemente identificados”). já que foram descobertos recentemente, eu gostaria de ver os ditos. Será isto senso comum como ciência, ou puro embuste ao mais alto nível?

Conferir o doc. abaixo:
…os marcos miliários recentemente identificados, pertencentes à via romana que ligava Lisboa a Mérida…
Brasão de Almeirim
Brasão de Almeirim
[GEOGRAFIA  E LOCALIZAÇÃO
Almeirim é uma cidade portuguesa pertencente ao Distrito de Santarém, com cerca de 10 520 habitantes.
Desde 2002 que está integrada na região estatística (NUTS II) do Alentejo e na sub-região estatística (NUTS III) da Lezíria do Tejo; continua, no entanto, a fazer parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, que manteve a designação da antiga NUTS II com o mesmo nome.
Pertencia ainda à antiga província do Ribatejo, hoje porém sem qualquer significado político-administrativo, mas constante nos discursos de auto e hetero-identificação.
É sede de um município com 221,80 km² de área e 22 766 habitantes (2006), subdividido em 4 freguesias.
O município é limitado a norte pelo município de Alpiarça, a leste e nordeste pela Chamusca, a sul por Coruche e Salvaterra de Magos, a oeste pelo Cartaxo e a noroeste por Santarém.]

Eis o que nos diz André de Resende no seu Livro “Antiguidades da Lusitânia”, O LIVRO ONDE TODOS DIZEM BEBER. Tradução de Raul M. Rosado Fernandes:
…Por outro lado, o caminho a partir de Santarém, sobranceiro ao ópido de Almeirim, era conduzido pelas nascentes do rio Alpiarça. [no original, per Alpiarsae fluvii initia ducebatur]. Em qualquer lado se vêm grosseiros fragmentos de colunas, das quais nada havia a transcrever.

Depois, apesar de ter encontrado no caminho quatro colunas caídas, apenas pude ler numa delas o seguinte:
«O imperador César Gaio Júlio vero, nobre general vencedor cinco vezes, com o poder tribunício, cônsul, procônsul, Pai da Pátria…».

Mil passos depois estão tombadas três colunas:
«O imperador César, divino Trajano Augusto, Germânico, Pontífice Máximo, duas vezes com o poder tribunício, restaurou onze».
A segunda estava partida e apenas tinha no fim estas letras:
«Restaurador da cidade de Roma».
[Na terceira]:
«Ao Imperador César Cláudio Tácito, Pio, Feliz, Invicto, Augusto, Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, procônsul…»

Mil passos depois e estavam três colunas, duas caídas, com letras desgastadas pelo tempo, e uma de pé que tem o seguinte:
«Ao Imperador César Marco Cláudio Tácito, Pio, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria…»

Mil passos a seguir estão duas colunas tombadas e no fim de uma delas apenas podem ser lidas as palavras:
«Cônsul pela quarta vez, procônsul, refez».

Mil passos adiante, junto à encruzilhada a que chamam Mestas, estão quatro colunas caídas. Três têm inscrições inutilizadas, mas numa lê-se:
«O Imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximiano, Pio, Feliz, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, Pai da Pátria, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria, ters vezes com o poder tribunício, cônsul Germânico Máximo, Dácico Máximo, e Gaio Júlio Vero Máximo, nobilíssimo César, Príncipe da Juventude, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, quarto filho do imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximino, Pio, Feliz, Augusto, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, Valentíssimo».

Do original, livro terceiro, eis a transcrição da última coluna:


Vemos que Resende localiza os miliários encontrados, NUM TROÇO DE 5 MILHAS, à distância de uma milha uns dos outros, nas nascentes "do Alpiarça", e o último em Mestas, [concelho de Abrantes].

Perguntamos: Valerá a pena ter medo de discutir estes temas, continuando iludir a ciência e a laborar em possíveis erros, e omitindo a verdade? Em troca de quê?


* negritos do autor.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Vamos apoiar um projecto

Eis um projecto que deveria ser imediatamente estudado e colocada a possibilidade de a Câmara de Almeirim apoiar, quiçá cedendo os seus terrenos (da Junta de Fazendas), mediante estudo, pois trata-se de uma oportunidade de desenvolver toda esta região da Ribeira de Muge. Existem 500 ha de terrenos que queriam delapidar com construção maciça de uma prisão, e invasão desinteressante. Penso que este será um projecto que trará diariamente muito turismo cultural. (Não conheço o Joaquim Fitas, mas como li que tem 10 ha de terreno, o que são 10 ha para um projecto deste interesse concelhio? Penso que deve ser a câmara a contactá-lo, de modo a fazer este estudo, se ele estiver interessado, claro, e não ficar à espera que as pessoas se sujeitem com pedintes que não são, mas cidadãos com direitos e deveres).

Dromedários, mochos, cangurus, falcões, gazelas, zebras, cisnes, veados. Esta é apenas uma pequena...
OMIRANTE.PT

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Preservar e valorizar

Carta Aberta ao Executivo da Câmara Municipal de Almeirim

Sobre a Conservação do Paço Real da Ribeira de Muge

Exmo. Sr. Presidente e Exmos. Srs. Vereadores,

A Academia Itinerarium XIV nasceu no seio de um grupo de cidadãos do lugar de Paço dos Negros, com o intuito de recolher, estudar, dignificar e promover a cultura da Ribeira de Muge. Por cultura da Ribeira de Muge entendemos não a da ribeira em si, mas a cultura popular das pessoas que vivem neste local. Por outro lado, incluímos em igual medidas no âmbito da nossa atividade tanto domínio histórico-patrimonial como também social e ambiental. É neste contexto que surge o Paço Real da Ribeira de Muge entrecruzado com a atividade da academia. Com efeito, temos não só estudado este espaço, como também ele tem sido o lugar nobre do desenvolvimento de algumas das nossas iniciativas.
Este local, que não devemos esquecer que é em grande parte propriedade do município, esteve durante vários anos votado ao abandono. Com efeito, há alguns anos atrás, um grupo de cidadãos de Paço dos Negros tomou a iniciativa de proceder à limpeza de entulhos que aqui existiam. Alguns desses mesmos cidadãos vêm mais tarde a integrar a academia.
Apesar de algumas obras já efetuadas, verificamos que há alguns elementos que estão em sério risco de conservação. Compreendemos que a altura não é melhor, do ponto de vista financeiro, para o empreendimento de um projeto de recuperação e valorização que este espaço merece. Contudo, vimos pelo presente meio manifestar a nossa preocupação por alguns elementos, que se encontram em estado de degradação ou em sério risco de conservação. A nosso ver, terão de ser empreendidas num curto-médio espaço de tempo algumas intervenções, a fim de que não só não se degrade mais o espaço, como também conseguir preservá-lo para o futuro, quando existir oportunidade de o valorizar.
Desta forma, cremos que importa assinalar os seguintes elementos:
  1. Portal: necessita de uma limpeza profunda e cuidada, uma vez que na parte superior deste foi-se desenvolvendo uma flora invasiva. Por outro lado, a própria estabilidade está em risco, assim como os revestimentos. Com efeito, são visíveis vários descarnamentos de rebocos na parede do portal, assim como nos próprios merlões. Chamamos à atenção que nestes revestimentos deverão ser utilizadas argamassas próprias, e não cimento portland (são visíveis na capela os efeitos nefastos da sua utilização).
  2. Páteo: a zona do antigo paço real que desapareceu (que forma um L entre a capela e o edifício onde fica a porta das casas-de-banho) foi pela academia devidamente fotografada e estudada, tendo inclusivamente sido produzida uma planta e uma maqueta do paço real. Foram, há alguns anos atrás, comprados e colocados por nós uma série de postes de madeira, para evitar que esta zona com vários pavimentos de tijoleira, arranques de paredes e cantarias de portas fosse danificada. Com o tempo, todos eles desapareceram. Verificamos que recentemente foram colocados outros. Saudamos essa atitude. Contudo, não só pela nossa experiência, como tendo presente que naquele espaço há moradores, está uma associação local e o próprio local é um ponto de atração de visitantes ocasionais, gostaríamos de sensibilizar o executivo municipal para os seguintes aspetos:
  • Apesar de vedada parcialmente, a zona em questão continua a ter acesso a veículos pela parte junto à vala, pelo que seria importante também vedar esta parte com pilaretes ou uma cerca. Sobre isto, fazemos nota que na nossa última iniciativa de 27 de junho estavam trilhos de tratores marcados no terreno, junto à vala e em cima da zona de tijoleiras.
  • Pela fragilidade do local, torna-se a nosso ver essencial tomar algumas atitudes no que diz respeito à conservação deste. Assim, e para termos a certeza que este bem poderá estar devidamente salvaguardado para quando num futuro mais ou menos longínquo for possível valoriza-lo e estudá-lo com mais profundidade, afigurar-se-ia como essencial colocar uma camada de areia (com cerca de 10 cm), seguida por um tapete geotêxtil e uma camada de saibro (com cerca de 15 cm). Isto levaria a que se pudesse circular a pé sem problemas sobre o lugar, e este deixaria de estar exposto às condições atmosféricas, que têm tido consequências visíveis sobre o mesmo. Permitiria este procedimento ser facilmente removido quando houver condições para valorizar o protegido.
  • Contudo, a interdição da circulação de veículos automóveis dentro do complexo será, no nosso entender, uma das medidas mais urgentes a tomar, e que melhor poderá abonar para uma conservação preventiva. Esta situação poderia ser tomada com a simples colocação de um pilarete a meio da entrada, no portal.
  1. Ponte pedonal de acesso ao moinho, sobre a Vala do Pomar: é visível a degradação desta estrutura, sendo a sua consolidação um imperativo. Para a conservar a limpeza da vala, neste troço, deve ser feita manualmente e não com recurso a maquinarias que degradam o espaço.
  2. Ponte a jusante, no limite da propriedade do município: esta ponte, que inicialmente era pedonal e tinha guardas laterais, que foram destruídas para permitir a passagem de maquinaria para o arroz, encontra-se também ela em visível estado de degradação. Para a sua conservação deveriam ser reforçados os pilares, o pavimento e ser interdita a passagem de viaturas. Relembramos que no passado as maquinarias agrícolas entravam nos canteiros de arroz pela estrada que dá acesso ao Arneiro da Volta, e aí poderá voltar a ser construído um acesso.  Verificar que na zona adjacente à direita e a jusante da ponte se encontram partes das anteparas (guardas laterais) que poderiam ser recolocadas e servir de modelo para a reconstrução das anteparas em falta.
A Academia Itinerarium XIV termina, certa de ter tocado na sensibilidade de V. Exs. para este assunto. Manifesta ainda a sua total disponibilidade para, em conjunto com o município, poder encontrar soluções que preservem e valorizem, mas também dinamizem o Paço Real da Ribeira de Muge.
O Secretariado da Academia Itinerarium XIV
Aquilino Manuel Pratas Fidalgo
Lucília Ferreira Cipriano Evangelista
Manuel da Conceição Evangelista
Maria Nélia Silva Castelo dos Reis
Samuel José Rodrigues Tomé
Esta carta será entregue individualmente a cada um dos membros do executivo municipal, e será dado conhecimento aos Grupos Municipais, ao Sr. Presidente da Assembleia Municipal, ao Executivo da Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim, Assembleia de Freguesia de Fazendas de Almeirim, Imprensa, rede de contactos da academia e publicação do blog da Academia Itinerarium XIV.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Moinhos da Ribeira de Muge

Com a devida vénia ao blog de Samuel Tomé.

Comunicação "Património Molinológico na Ribeira de Muge"

Foto de Manuel Evangelista

Resumo
Se entendermos por moagem o ato da transformação de grãos em matéria comestível, podemos afirmar que esta é uma das atividades que acompanha o ser humano desde as comunidades recolectoras, quando o Homem trincava grãos, sendo esta a mais primitiva forma de trituração. A partir daqui, e ao longo da evolução humana, o homem foi aperfeiçoando as técnicas de transformação do cereal, não só com a força humana e de animais, mas também com o aproveitamento da força da água e do vento.

No vale constituído pela Ribeira de Muge, onde os vestígios da presença humana são anteriores ao período da formação da nacionalidade, encontramos, de braço dado com a presença de vários povos, indícios de atividade moageira. 

Tendo nós estabelecido como limite para estudo a atividade molinológica ao longo desta ribeira entre as suas confluências com a Ribeira do Chouto (a montante) e a Ribeira da Lamarosa (a jusante), encontramos aqui, nos nossos dias, onze engenhos, nos mais variados estados de conservação (ou de ruína). Para além destes, temos ainda registos e memórias de outros tantos moinhos, já desaparecidos no que a vestígios diz respeito, mas que ainda permanecem nas memórias de alguns e na documentação do séc. XIV a esta parte.

Contudo, o grande desafio para quem investiga e estuda molinologia é conseguir adaptar os estudos genéricos à realidade a que se dedica. Porque, efetivamente, sendo os moinhos de rodízio (predominantes na Ribeira de Muge) os mais disseminados por Portugal, serão substancialmente diferentes neste local e em Trás-os-Montes, não só pela presença de materiais diferentes, para construção, como também por uma realidade económica distinta, que exige uma resposta diferente, aquando da construção e manutenção do engenho.

É precisamente esta realidade distinta que queremos vincar: aquilo que distingue os moinhos da Ribeira de Muge de todos os outros moinhos.

Decidimos estruturar a presente comunicação em três partes distintas. Na primeira contextualizamos os moinhos como elemento do processo de moagem, assim como as diversas tipologias que existem destes. Numa segunda fase, abordamos a evolução histórica dos engenhos nas margens da Ribeira de Muge. Por fim, fazemos uma descrição deste património do ponto de vista técnico e socioeconómico.


1. Sistemas tradicionais de moagem
Para partirmos para o estudo deste tema, há três perguntas que, a nosso ver, têm de ser respondidas:

A. O que é a moagem? A moagem é o processo de trituração de determinado bem. Numa aceção mais alimentar, a moagem é processo de transformação de um grão numa substância comestível (que não tem necessariamente de ser farinha).

B. Desde quando é que existe moagem? A moagem é uma atividade que acompanha desde sempre o homem. Podemos afirmar que a sua mais primitiva forma foi o trincar entre os dentes de sementes.

C. O que é um moinho e que tipos de moinhos existem? O moinho é a soma de três elementos: um aparelho motor (que pode ser acionado pela força da água, do vento ou pela força humana), a moega (casal de mós e demais elementos que efetuam a moagem) e o edifício que alberga o aparelho.


1.1. Primeiras técnicas de moagem
 
Imagem 1: Técnica do “bater” – Almofariz de pedra – Ilha da Madeira. Fotografia em “Sistemas Tradicionais de moagem”.
Imagem 2: Técnica do “esfregar” – Moinho de Rebolo (Museu dos Moinhos Vitorino Nemésio)

Os dois utensílios acima foram os primeiros utilizados para moer. O primeiro consistia em colocar o grão numa superfície, desferindo movimentos horizontais sobre este, por forma a obter um granulado. É a chamada “técnica do bater”, a partir da qual se evoluiu para o almofariz. A segunda técnica, chamada “técnica do esfregar”, obtinha-se por via do instrumento da segunda imagem, um moinho de rebolo, em que o cereal era depositado na calha e deslizava-se uma pedra sobre este. Tanto numa técnica como noutra não se obtinha farinha, mas sim um granulado, que era utilizado na alimentação, sob forma de papas.

1.2. Engenhos Tradicionais de Moagem


Imagem 3: Sistematização de tipologias de moinhos. Elaboração própria.

No que às tipologias de moinho existe, podemos agrupá-las, como mencionado anteriormente, em três grandes categorias, consoante a força motriz: Moinhos a Sangue (acionados pela força do homem ou de animais), moinhos hídricos (acionados pela força do vento) ou moinhos hidráulicos (acionados pela força da água). Dentro de cada uma destas categorias, existem sub-categorias, a saber:

A. Moinhos a Sangue:
a) Mós Manuais: são simples mós redondas, com um olho (buraco redondo, onde cai o cereal para ser moído), de acionamento direto.

b) Moinholas: também podem ser chamadas de zangarelhas, e o aparelho já é mais complexo que o das mós manuais. A grande evolução em relação a estas é a existência de um dispositivo que permite o acionamento indireto, através de uma manivela, chamado urreiro.

c) Atafonas: com a atafona o processo da moagem deixa de ser uma atividade doméstica e começa a revestir características mais industriais. A atafona é acionada por um animal, que gira em torno da moega (quando é de acionamento direto), ou à parte desta (quando a atafona é de acionamento indireto). O ofício de atafoneiro era distinto do de moleiro.

B. Moinhos de Vento
a) Moinhos de Vento de Torre Fixa: São estruturas cilíndricas, normalmente de alvenaria (apesar de existirem alguns exemplares de madeira). Dentro destas podemos criar duas sub-tipologias: os moinhos de vento saloios e os moinhos de vento serranos. Os primeiros predominam sobretudo a sul de Coimbra, e caracterizam-se por serem rebocados, caiados de branco e com uma barra de cor viva. A rotação do capelo (telhado), para apanhar o vento dominante, é feita por um dispositivo interior chamado sarilho, que consiste numa manivela à qual é ligada uma corrente que vai sendo presa no arganel. Quanto ao moinho serrano, as suas paredes são de silharia, e a rotação do capelo é feita por um dispositivo exterior – o rabo – que liga o capelo ao chão, e que é empurrado pelo moleiro na direção do vento dominante.

b) Moinhos de Vento Giratórios: são pequenos engenhos, feitos de madeira e com rodas, em que todo o edifício gira para apanhar o vento dominante. Tem um espigão fixo, que se torna o eixo sob o qual roda todo o engenho. As rodas estão assentes sobre uma circunferência de pedra, que atua como se fosse um carril, chamada carreira. A sua grande vantagem é que são de fácil desmonte e deslocação para outros locais.

c) Moinho de Vento de Armação: Estrutura metálica, de estilo americano, em que em vez de velas, o moinho tem uma roda de palhetas, que apanha o vento com superior eficácia em relação aos demais.

C) Moinhos Hidráulicos
a) Moinhos de roda horizontal: são moinhos em que existe uma roda, disposta na horizontal, na parte de baixo do moinho (os infernos), e em que a cada roda corresponde um casal de mós. Estas rodas podem ser rodízios ou rodetes. O rodete funciona dentro de um poço, feito à medida, e sob o sistema de turbina, ou seja, funciona submerso. Já o rodízio, se houver uma cheia e ficar submerso, deixa de trabalhar.

b) Moinhos de roda vertical: também chamados por azenhas, têm uma grande roda exterior, colocada na lateral do engenho, sob a qual cai água. Uma única roda de azenha pode tocar vários casais de mós, através de um veio principal, que pode ter várias entrosgas. Contudo, necessita de um caudal superior aos moinhos de roda horizontal.

c) Moinhos de Maré: são engenhos, normalmente de rodízio, que utilizam a diferença entre a maré alta e a maré baixa para trabalhar. Têm uma grande caldeira, que vai enchendo à medida que a maré vai subindo, e que é fechada quando esta atinge o ponto mais alto. Assim que os rodízios emergem, libertam a água sobre estes, acionando assim o moinho. É de todos os moinhos o mais dispendioso, daí ter normalmente sempre um elevado número de mós.


1.3. Desafios em estudar este tema
Estudar a atividade moageira tem algumas características próprias com as quais é preciso aprender a lidar. Em primeiro lugar, do ponto de vista histórico, é preciso ter presente que os moinhos alteram constantemente de nome. Com efeito, ora vêm agregados ao nome dos seus moleiros ou proprietários, ora à herdade/ quinta a que pertencem, ou ainda são mencionados com preciosismos geográficos. Por exemplo, um dos moinhos dentro do nosso objeto de estudo é referido, desde o século XIV, como Moinho da Regueifeira, do Gonçalo, de Vasco Velho, do Policarpo, do Clérigo, das Donas e de Cima.

Por outro lado, há que ter igualmente presente o contexto regional em que o mesmo se insere. Com efeito, e no que ao caso português concerne, há uma diferença substancial entre o sul e o norte do país. Se a norte o moinho é um edifício pequeno, utilizado sobretudo para a economia familiar, tendo normalmente apenas um casal de mós, a sul são comuns moinhos com quatro ou cinco casais de mós, destinados essencialmente à comercialização. Para além disto, há uma diferença, de local para local, nos utensílios dos moinhos (devido às matérias-primas existentes), além da designação dos próprios nomes dos elementos que constituem o engenho. A título de exemplo deste último, um pouso pode também assumir o nome de mó de baixo, pedra jazente, cepo, poiso, dormente, mó de pé ou assento.

O que abordamos aqui é o que podemos considerar, para o caso português, padrão. Contudo, existem realidades dispares de local para loca, tanto no nosso próprio país, como no estrangeiro. As imagens abaixo transportam algumas dessas mesmas diferenças, e ainda que com configurações diferentes, nos casos mediterrânicos, os moinhos do centro da europa são totalmente diferentes daqueles que temos no nosso país.



Imagem 4: Moinhos de Vento na Ilha de Porto Santo (Madeira). Imagem da Internet.


Imagem 5: Moinhos de Vento na Ilha do Faial (Açores). Imagem da Internet.


Imagem 6: Moinhos de Vento em Toledo (Espanha). Imagem da Internet.


Imagem 7: Moinhos de Vento em Mykonos (Grécia). Evidenciam-se aqui os capelos cobertos de colmo. Imagem da Internet.


Imagens 8, 9 e 10: Post Mill (Países Baixos), Tower Mill (Inglaterra) e Smock Mill (Inglaterra). Imagens da Internet.


2. Um olhar histórico à atividade moageira na Ribeira de Muge
A zona em estudo abarca o médio curso da Ribeira de Muge, ao longo de três concelhos (Chamusca, Almeirim e Salvaterra de Magos). Estabelecemos como limite a montante a confluência da Ribeira do Chouto com a Ribeira de Muge e a jusante a confluência desta última com a Ribeira da Lamarosa. Para além dos engenhos situados na ribeira, abordamos também aqueles que estão nos seus afluentes, ou que são de outras tipologias, nomeadamente de vento.

O mais antigo vestígio de moagem aqui presente vem das Ferrarias (Raposa), e é uma mó manual, atribuída ao Período Romano.

Em relação aos moinhos em si, temos vestígios (físicos, documentais ou testemunhos orais) de 22 engenhos nesta área. Do ponto de vista histórico, iremos apenas abordar o primeiro testemunho que temos de cada um deles.

1434: D. Duarte, para por fim a uma contenda entre os limites dos Termos da Vila de Muge com a Vila de Santarém estabelece que este “vai da estrada pelos moinhos da regueifeirapara Coruche”. Este engenho, que chegou aos nossos dias, encontra-se hoje perto do limite entre os concelhos de Almeirim e Salvaterra de Magos.

1459: Já no Termo da Vila de Muge, é construído nesta data um moinho por Gomes Eanes (Moinho do Gomes), entre dois outros já existentes (Moinho do Porto de Lançarote, a jusante e a montante o Moinho do Gonçalo – anteriormente da Regueifeira).

1511: são neste ano mencionados três engenhos junto ao local onde se estava a edificar o Paço Real da Ribeira de Muge, que eram pertença de Vasco e Francisco Palha. Eram eles o que estava junto à cerca do paço, o Moinho do Meio, por ser o que estava no meio dos três, e o Moinho de Baixo ou Moinho Derradeiro, por ser o último no curso da ribeira. São todos doados ao rei.

1518: no Paço Real da Ribeira de Muge é criado um almoxarifado. Ao segundo almoxarife, Antão Fernandes, D. Manuel I autoriza a construção de um moinho em qualquer parte do Vale João Viegas.

1549: Nesta data, João Pires tem autorização para construir um engenho em frente ao Vale Porco, sendo mencionado nas confrontações do local que abaixo existia um outro engenho, o Moinho de Cristóvão Soares.

1709-1741: É este o período de abrangência do primeiro livro dos assentos paroquiais da Paróquia da Raposa. Para além de muitos dos moinhos já aludidos, surgem pela primeira vez o Moinho dos Gagos (1712), Moinho da Raposa (1712), Moinho do Fidalgo Fernão Teles de Meneses (1715 – na Ribeira da Calha) e o Moinho de Vale Flores (1718). Para além destes, surgem outros engenhos, designados pelos nomes ou de seus proprietários ou moleiros, que não conseguimos atribuir a nenhum dos que já sabemos existir, mas também não conseguirmos comprovar que serão outros engenhos além dos já testemunhados.

1876-1881: segundo um testemunho oral, é construído um novo Moinho dos Gagos ao mesmo tempo que a ponte de Santarém.

1900-1920: segundo testemunhos orais, será neste período que será construído o Moinho do Fidalgo, no espaço do Paço Real da Ribeira de Muge, entretanto vendido a Manuel Francisco Fidalgo. Este manda fazer este novo engenho para tirar um rendimento superior ao das duas minholas que tinha no Vale João Viegas, sendo que acreditamos que uma delas seja o moinho (ou o herdeiro) de Antão Fernandes.

1933: Nesta data é efetuado um levantamento de toda a “Herdade dos Paços dos Negros”, onde são grafados os engenhos e surgem pela primeira vez o Moinho do Ti Manuel Custódio, e uma azenha e moinho de vento junto à casa de Custódio Caniço.

1937/38: É construído um Moinho de Vento, por Manuel Custódio, para conseguir alternar com a falta de água da ribeira. Ficou conhecido simplesmente por este nome por ser o único da sua tipologia em Paço dos Negros.

Por fim, podemos mencionar o Moinho da Gaga, moinho de vento situado junto aos Foros de Benfica, mas já no Concelho de Salvaterra de Magos, assim como a Minhola de Vale Flores, situada no concelho da Chamusca. Destes não temos qualquer testemunho ou registo, contudo, temos as suas ruínas nos locais em questão.


Imagem 11: Mapa com a localização geográfica dos vários engenhos. Elaboração própria a partir de cartas militares.


3. Um olhar técnico à atividade moageira na Ribeira de Muge
3.1. Tipologias de Moinhos presentes


Imagem 12: Mapa com a localização geográfica dos vários engenhos, com as tipologias devidamente assinaladas. Elaboração própria a partir de cartas militares.

3.1.1. Moinhos de Vento
No que ao Moinho de Vento de Armação diz respeito, este teve uma curta duração. Foi construído no final da década de 30 e desmantelado em 1964. Era um moinho de armação, tipo americano.
Quanto ao Moinho de Vento da Gaga, foi um moinho de vento de torre fixa, com tração de sarilho. Com efeito, apesar do capelo já ter desaparecido, são ainda visíveis os arganéis na parede interior do engenho.

3.1.2. Moinhos de Rodízio
Como podemos reparar através da imagem, a tipologia predominante de moinhos na Ribeira de Muge são os moinhos de rodízio. Com efeito, há três razões que levam a que estes sejam os engenhos mais numerosos em Portugal, e que à nossa realidade se podem adaptar.

a) Não necessitam de um grande caudal. Tendo presente que os moinhos não se edificam nos próprios cursos de água, mas em canais desviados para esse efeito, e tendo igualmente em conta que ao longo da Ribeira de Muge, precisamente no Verão (quando há menos água) se cultiva o arroz (cultura que necessita de uma grande quantidade de água), esta teria de ser melhor repartida entre as várias necessidades, e um moinho que necessite de um caudal mais diminuto seria um fator de peso. 

b) Investimento diminuto. Com efeito, a construção de um moinho de rodízio requer, face a outros menos dinheiro investido. Por se poder localizar junto a qualquer pequeno curso de água (o que diminui o custo da localização), pode adaptar-se também o seu tamanho as necessidades, nomeadamente económicas, construindo um engenho com mais ou menos casais de mós.

c) Conhecimento técnico mais reduzido. A manutenção dos engenhos podia ser feita pelo próprio moleiro, ainda que com materiais diferentes, e ficando os vários elementos diferentes do original, mas ainda assim, funcional.

3.2. Mecanização dos engenhos tradicionais de moagem
O Decreto-Lei 35 551 de 13 de setembro de 1949 vem autorizar a adaptação de motores de combustão nos engenhos tradicionais de moagem, movidos pela força do vento e da água. Na Ribeira de Muge laborariam nesta altura cerca de dez engenhos (é difícil ter uma noção exata, uma vez que tínhamos acabado de sair de um período de racionamento em 1945, em que foram proibidos de laborar os engenhos tradicionais). Destes, cinco levaram adicionados motores de combustão. Apenas sabemos a data de dois deles: o Moinho de Vale Flores, em 1950, e o Moinho de Vento, em 1957. Para além destes, também o Moinho de Cima teve um engenho, assim como o Moinho do Fidalgo (motor esse que tinha servido para regar os campos do Sorraia). Quanto ao Moinho da Raposa, foi-lhe adaptado um motor de um barco, e tornou-se num local onde se descascava o arroz (tanto que o edifício é conhecido na Raposa como “o descasque”).


3.3. Proprietários e utilizadores de moinhos
Bertold Moog criou uma grelha teórica, onde podemos encontrar as mais variadas realidades no que à exploração de moinhos diz respeito. No que diz respeito à realidade da Ribeira de Muge, podemos encontrar duas realidades distintas:

a) Hired Miller ou Moleiro contratado: aqui o moinho é uma valência de uma herdade ou quinta, e o moleiro é um empregado do proprietário da mesma. O trabalho desenvolvido no engenho é com os cereais cultivados na propriedade ou com os dos caseiros residentes na mesma. 

b) Wage Milling ou Moagem a soldo: nestes engenhos, o moleiro pode ser o proprietário do moinho ou um empregado deste. Situam-se por norma junto ou nos aglomerados populacionais, e trabalham para as populações, com os cereais que estas cultivam nas suas hortas. Cobram uma maquia (uma parte do cereal que é para ser trabalhado). As populações encaram o moinho como o local onde podiam comprar tudo aquilo que as suas hortas não davam: a farinha e o arroz (para quem não os cultivava, logo não os mandava fazer pelo regime da maquia), assim como o farelo, que era utilizado para alimentação dos animais.


Imagem 13: Tabela onde surgem alguns dos engenhos cuja história económico-social do séc. XX temos devidamente recolhida e tratada, sendo distribuídos pelo tipo de propriedade e localidade.

Pela tabela acima, há uma coisa que salta imediatamente à vista: onde vigora o sistema de “Moleiro contratado”, os moinhos assumem o nome da herdade onde se inserem (com exceção do Moinho de Cima / Quinta do Pinhão). Onde podemos considerar que existe a chamada “Moagem a soldo”, os moinhos assumem o nome dos seus proprietários ou moleiros (o Moinho do Pinheiro também era conhecido como Moinho do Bento, por ser esse o nome do seu moleiro).

3.4. Trabalho do Moinho

Imagem 14: Trabalho do Moinho do Fidalgo, por casal de mós.

Sobre o quadro acima, elaborado pela realidade económica dos anos 60-70 do Moinho do Fidalgo, podemos constatar que num mesmo engenho trabalhavam-se vários cereais, e que as mós podiam ser tocadas por várias forças diferentes.
Para alem disto, há que lançar duas notas importantes. Em primeiro lugar, o moinho não trabalhava apenas para a produção de farinha, tendo um outro produto trabalhado: o arroz. Com efeito, aqui descascava-se arroz (colocando uma forra de cortiça no pouso, e aumentando a distancia entre as mós, por forma a não farinar o grão). Por outro lado, aqui fazia-se também milho partido, para forragens de animais.

3.5. Especificidades regionais / locais dos moinhos da Ribeira de Muge
Existem alguns elementos que caracterizam a atividade moageira que são transversais a algumas zonas do país. Outros elementos apenas os conseguimos encontrar, até à presente data, na zona da Ribeira de Muge. Assim, podemos salientar os seguintes:

a) Rodízios: Os rodízios dos moinhos, na zona em estudo, são forjados em ferro. Cremos que mais uma vez é a zona de Coimbra que atua como fronteira nesta questão, sendo que a norte desta cidade será mais comum encontrar rodízios feitos em madeira. 

b) Suspensão dos tegões: na zona da Ribeira de Muge, os tegões são suspensos sobre o casal de mós agarrados a um poste, e será esta a forma predominante no sul do país. Já a norte, predomina a suspensão do tegão em barrotes.

c) Rela: a rela é o dispositivo onde assenta o aguilhão, ou seja, a ponte da pela. A pela (que começa no aguilhão e termina na segurelha) é o veio que transmite o movimento do rodízio à andadeira. Aqui, encontramos relas feitas de cubos de cobre. Foi o único local onde encontramos relas desta forma. Nos demais sítios em Portugal que visitamos, temos notícia da rela ser uma pedra.

d) Levada: como já referimos, os moinhos encontram-se sob um canal artificial que é desviado do curso de água principal. Esses canais são, por norma, lajeados, e com algumas dezenas de metros e chama-se levadas. No caso da Ribeira de Muge, esses canais chegam a ter quilómetros, tocam vários moinhos e servem outros fins, como regar as hortas e a cultura do arroz. São chamados “vala do munho”, ou seja “vala do moinho”. Existem duas, sendo que a primeira vale tem cerca de 1,2 Kms, tocando o Moinho do Ti Manuel Custódio e o Moinho do Fidalgo. A segunda terá cerca de 5 Kms, tocando o Moinho do Pinheiro, Ponte Velha, Várzea e possivelmente terá tocado também o desaparecido Moinho da Parreira.

Comunicação apresentada no I Colóquio "Paisagens Agrárias do Vale do Sorraia: Arqueologia, História e Património", que decorreu em Glória do Ribatejo, no dia 18 de julho de 2015.