Algumas modas nos remetam para um momento de recordação de um passado que não está presente.
Minha terra antigamente...
Pensamos que uma canção folclórica é ela passado, e como tal deve ser rememorada, tornando presente, actual, esse espaço e esse tempo passados, no momento da representação. Quase como se fossem espaços e tempos sagrados.
Verifica-se que os termos utilizados revelam pouca antiguidade. Patenteiam grande parte ser termos correntes usados na linguagem de hoje. E as palavras significam também modos de vida. Repetem-se as palavras como Menina. Não aparece a palavra Cachopa:
Eu gosto de ti menina
Eu te faço a confissão
Se não te importasses muito
Davas-me o teu coração
Repetem-se as palavras Colega e Amigo. Não aparece a palavra Camarada.
Pois com esta não me vou calar
Escuta bem o que eu te digo
Gosto de cantar a teu lado
Como colega e amigo
Demasiados desafios e demasiadas vezes acabam estes desafios num acordo leviano:
Vou-te dizer uma coisa
Eu te explico a cantar
Vamos entrar em acordo
Iremos os dois casar
O teu coração é uma aventura
Vamos acabar com esta loucura
E com esta me despeço
Estamos só a brincar
Ficamos ambos amigos
Terminamos a cantar
Quase, ou não aparece mesmo, uma única metáfora, figura de estilo de que o nosso folclore é riquíssimo: Exemplo:
Ó roseira tu tens bicos
Talvez me queiras picar
Não te lembras ó roseira
Quando eu te ia regar
Do Vira da Tira, da Academia da Ribeira de Muge
Fui falar com a Criadora do Rancho, a Gina do Josué, essa GRANDE MESTRA DA DANÇA FOLCLÓRICA LOCAL, que me confirmou: sempre que nas suas recolhas de músicas e danças, as letras estavam incompletas ou não existiam, ela completava-as, ou compunha-as, inventando, tendo sido a autora da maioria das letras cantadas pelo rancho folclórico de Paço dos Negros.
Verifica-se assim, terem autor a quase totalidade das cantigas que são cantadas pelo Rancho Folclórico de Paço dos Negros.
Acredito que os dirigentes do Rancho nem tivessem consciência plena deste facto. Tal é a sua ignorância. Mas a partir de agora, sempre que o Rancho Folclórico de Paço dos Negros exiba o seu folclore de autor, é de justiça que se dê o seu a seu dono e digam que as letras são da autoria de Gina do Josué.