terça-feira, 30 de março de 2010

O Folclore de autor de Almeirim

Uma brevíssima análise de conteúdo às letras de 24 modas cantadas pelo rancho folclórico de Paço dos Negros.


Algumas modas nos remetam para um momento de recordação de um passado que não está presente.

Minha terra antigamente...

Pensamos que uma canção folclórica é ela passado, e como tal deve ser rememorada, tornando presente, actual, esse espaço e esse tempo passados, no momento da representação. Quase como se fossem espaços e tempos sagrados.

Verifica-se que os termos utilizados revelam pouca antiguidade. Patenteiam grande parte ser termos correntes usados na linguagem de hoje. E as palavras significam também modos de vida. Repetem-se as palavras como Menina. Não aparece a palavra Cachopa:

Eu gosto de ti menina
Eu te faço a confissão
Se não te importasses muito
Davas-me o teu coração

Repetem-se as palavras Colega e Amigo. Não aparece a palavra Camarada.

Pois com esta não me vou calar
Escuta bem o que eu te digo
Gosto de cantar a teu lado
Como colega e amigo

Demasiados desafios e demasiadas vezes acabam estes desafios num acordo leviano:

Vou-te dizer uma coisa
Eu te explico a cantar
Vamos entrar em acordo
Iremos os dois casar

O teu coração é uma aventura
Vamos acabar com esta loucura

E com esta me despeço
Estamos só a brincar
Ficamos ambos amigos
Terminamos a cantar

Quase, ou não aparece mesmo, uma única metáfora, figura de estilo de que o nosso folclore é riquíssimo: Exemplo:

Ó roseira tu tens bicos
Talvez me queiras picar
Não te lembras ó roseira
Quando eu te ia regar

Do Vira da Tira, da Academia da Ribeira de Muge

Fui falar com a Criadora do Rancho, a Gina do Josué, essa GRANDE MESTRA DA DANÇA FOLCLÓRICA LOCAL, que me confirmou: sempre que nas suas recolhas de músicas e danças, as letras estavam incompletas ou não existiam, ela completava-as, ou compunha-as, inventando, tendo sido a autora da maioria das letras cantadas pelo rancho folclórico de Paço dos Negros.

Verifica-se assim, terem autor a quase totalidade das cantigas que são cantadas pelo Rancho Folclórico de Paço dos Negros.

Acredito que os dirigentes do Rancho nem tivessem consciência plena deste facto. Tal é a sua ignorância. Mas a partir de agora, sempre que o Rancho Folclórico de Paço dos Negros exiba o seu folclore de autor, é de justiça que se dê o seu a seu dono e digam que as letras são da autoria de Gina do Josué.