segunda-feira, 15 de março de 2010

Mulheres da ribeira de Muge - Juliana

JULIANA (OU D. JORGE, O VENENO DE MORIANA, D. AUSENIA, ETC.)

Está o tema deste “verso” da “Juliana”, recolhido em Paço dos Negros, intimamente relacionado com a lenda escandinava de Sigurd. Lenda que foi disseminada pela Europa por volta do século V. Nele está presente um mote universal, o tema do ciúme e do crime perpetrado através de uma bebida envenenada.

Ramón Menéndez Pidal, dá-nos notícia que Gil Vicente na “Comédia Rubena”, em 1521, pela boca de uma criada, faz referência a este romance.

Como nenhum outro semanticamente desfigurado, neste lindo “verso” vemos como as velhas lendas e imagens são refeitas, renovadas e actualizadas; é esquecido o título nobiliárquico de D. Jorge, os personagens transportados ainda e sempre para ambientes que, neste caso, são familiares às mulheres da Ribeira de Muge.
Pela linguagem utilizada: – Passadas que o Jorge dava eram só para te iludir…, deixa transparecer este versículo, a familiaridade para as mulheres com aquilo que era quase uma fatalidade do destino, para as filhas de um qualquer pobre servo: o filho de um lavrador "enganar" uma rapariga.
De salientar que não faltam as bem populares “Torradas”, propícias a uma certa vingança, um remate moral, como conclusão.

Eu bem te dizia ó filha, mas tu não querias ouvir,
Passadas que o Jorge dava eram só para te iludir.
– Deixe lá ó minha mãe, ó meu pai que me criou,
O Jorze também se engana, assim como ele me enganou.
Recolhido à posteriri

– Aí vem ele minha mãe, no seu cavalo amontado…
– Pois adeus ó Juliana, como estás como tens passado?...
– Eu já cá ouvi dizer, que tu andavas para casar…
– É verdade ó Juliana, venho-te agora convidar.
– Espera aí que eu também vou, que eu quero ir ao teu lado,
Vou buscar um copo de vinho que eu p’ra ti tenho guardado.
– O que pantaste no copo, o que pantaste no vinho?
Que eu já tenho a vista turva, eu já não vejo o caminho!?...
– Se a minha mãe lá soubesse, que eu que cá tinha morrido!...
– Também a minha julgava, que tu casavas comigo!

Torradas, novas torradas
A faca que corta a cana
O Jorze queria ser esperto
Esperta foi a Juliana.

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