Para quem não teve oportunidade de ler n"O Almeirinense"
A casa grande demais
Eram duas famílias de cabreiros. Uma morava no Arneiro Alto e a outra morava no Zebro do Grou. Eram lá caseiros. Um casal tinha uma filha e o outro tinha um filho da mesma bugalhada.
A mãe da cachopa vendo a filha já passada, os rapazes da Lamarosa aquilo era um corrupio, e como na boca do povo “já estava furada”, um falatório pegado, tinha que arranjar maneira de arrumar a filha quanto antes.
– Um desmancho!?... Se quiserem morder que olhem para dentro das casas delas – desavergonhadas!...
– Ó comadre a minha filha não se cansa de falar no seu João…
Sempre a gabar a filha, não perdia uma ocasião de, cada vez mais às claras, falar na filha à mãe do rapaz.
Diga-se que o João, que era o nome do moço do gado, por jeitos não tinha as aduelas todas. Um pobre diabo. Sempre de barrete coçado na cabeça, chamavam-lhe o João Simborla.
Ao contrário, a cachopa tinha tuna. Saía à mãe. Pelo menos na boca da desta: Que não havia outra. Que nada lhe morria nas mãos. Nadinha que se lhe pudesse apontar.
– Por estrear! Por estrear, lhe garanto eu, comadre!
Ora, isto é como diz o povo, se se haviam de estragar duas casas estragava-se só um palheiro; armaram em casamenteiras, fizeram o arranjinho, as comadres. Falariam com o patrão e sempre se arranjaria um buraquito, mesmo pequeno, para morarem.
Feita a caldeirada do arroz-doce, que a mãe dela não deixava para amanhã o que podia fazer hoje, ficaram a viver lá no casal, ao pé da mãe do rapaz.
A mãe dela, muito abelhuda, ao fim de eles se ajuntarem, foi logo observar conversas com a comadre, a mãe do rapaz, e prepará-la.
– Então comadre, e daí como é que eles se estão a dar?!
– Estão-se a dar bem. Vejo-os contentes um mais o outro. São unha com carne, comadre.
– Eu não lhe dizia, comadre, que o seu filho fazia uma boa parelha mais a minha filha!
– É verdade. É como eu lhe digo, comadre; que eles estão contentes um mais o outro, estão, disso não haja duda. O meu João então… Só que tem uma coisa, comadre…
– Diga comadre. Vão ter um cachopo!
– Não é nada disso; p’ra mais, ‘inda só casaram o mês passado, comadre!
– Ó comadre isso não tem importância. Ora conte lá: Eles casaram em Abril não foi: Abril, Mamil e Remamil; Maio, Mamaio e Remamaio; S. João e S. Joanás e o mês que há-de nascer o rapaz! Faz nove meses.
A mãe dele já a zangar-se: – Não é isso comadre! O meu João diz que acha a casa muita grande, prontes! Logo na noite do casamento…
A mãe da cachopa, muito biscainha, mais esperta que a outra, virando-lhe as costas, nem a deixou acabar. Sentenciou:
– Ah comadre, isto não é a casa que é muito grande, ele é que não tem mobília para a encher!