«No chão, dentro da terra de arroz, estavam os prumos da ponte. A ponte saía para o lado da ribeira da Calha do lado esquerdo da ribeira (de Muge). A estrada que saía era a direito a subir o cabeço. Não ia pela borda da ribeira como vai hoje.
Depois é que fizeram a estrada mais dentro, pela borda da ribeira da Calha acima e depois para a Lamarosa, era pelo Arneiro Alto.
Tinha dois prumos, que era onde estava o tal arco. Mas o arco completo já não o conheci.
Estavam dois prumos em tijolo. Eu andei lá a cavar, a arrotear a terra. Andávamos a cavar para fazer terra de arroz. E era para escangalhar os tais dois prumos.
O capataz, que era o Navalhas, dizia para o Manel Rato: – Manda a enxada!
O Manuel Rato mandou a enxada, escangalhou a enxada. Partiu a enxada.
Era dois prumos que havia. Devia ser coisa antiga.»
Ao ouvir este relato, de pessoas que não sabem ler, nem escrever, veio-nos à memória a indignação de Mário Saa, porque um cavador, em Água Branca, ali ao cimo da Ribeira de Muge, porque sabia ler, «ao encontrar inumerável quantidade de moedas» … e «… bem assim uma prancha de argila, com inscrição, prontamente estilhaçada e dispersa pelo próprio jornaleiro que a encontrou… o qual, homem novo, sabia ler e escrever. (É incurável o mal da “barbaria”; não há letras que a extirpem!)».
Atreves-te, Mário Saa, a dizer que não tinha o direito de escavacar a inscrição de imediato a olho de enxada, só porque sabia ler!? Se tu visses o que por aqui se passa, não só não fazem, como impedem, até perseguem quem o faz, até armam brigas a ver aquele que consegue destruir mais, e afirmam que sabem ler, que têm muitos poderes, até têm canudo e tudo; mais, até se afirmam defensores da cultura. Se visses, fartavas-te de rebolar no túmulo.
Pegão de Ponte "Romana" da ribeira de Muge.
Vista da saída da antiga ponte, sentido da ribeira
Vista do que foi a estrada, saída da Ponte, no sentido da cumeada.