quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Subsídios para a História de Paço dos Negros

Numa Quitação, Chancelaria de D. Manuel, liv. 9º fl. 26v; encontramos, referência aos primeiros 7 escravos que vieram para a construção do Paço. Pode ver-se ainda as instituições e personalidades como Bartolomeu Marchione, grande comerciante veneziano que tinha os tratos da Costa da Guiné, Casa da Mina, entre os participantes financeiros da construção do Paço. Ainda os diversos artigos e materiais.



Trecho de Quitação




«Dom Manuel etc. a quantos esta nossa carta virem fazemos saber que nós mandámos tomar conta a Diogo Rodrigues, nosso escudeiro, almoxarife dos nossos Paços da Ribeira de Muja, de todo o dinheiro que recebeu, e coisas que os anos passados de 511, 512, 513, 514, e despendeu para despesas das obras deles, e achou-se por bem da dita conta receber em dinheiro os quatro anos 3.343.805 reais, das pessoas abaixo declaradas, a saber: 1.817.306 reais de Diogo Fernandes Cabral; e 614.970 reais de João Fernandes de Espanha, nosso almoxarife de Santarém; e 6.000 de Álvaro do Cocho, recebedor do dito almoxarifado; e 107.579 reais e meio de Francisco Ferreira, almoxarife de Abrantes; e 39.000 reais de Álvaro Monteiro, almoxarife das jugadas da dita vila de Santarém; e 26.000 reais de Pêro Fernandes, recebedor que foi delas; e 250.000 de Heitor Nunes, tesoureiro do dinheiro da nossa especiaria da Casa da Índia; e 200.000 reais de Rui Gomes, tesoureiro da Casa da Mina; e 220.000 de Bartolomeu Marchione; e 180.000 reais que recebeu a mais, 20 de si mesmo, por vendas que fez e reste de dinheiro que ficou devendo; e 144. 930 de pessoas extraordinárias, declaradas em seus livros e recadações, que fazem a dita quantia; pelas quais se mostra também receber muitas outras coisas, do conto, das quais se faz menção das seguintes: Item, de trigo, 1 moio e 21 alqueires, de Afonso Montes, almoxarife de Almeirim; de cevada, 11 moios e 6 alqueires, de João Dourado e de João Lopes, recebedor que foi da nossa chancelaria; de centeio, 1 moio; de milho, dois moios e 32 alqueires e meio, do ditos Afonso Monteiro e João Lopes; de escravos, 7 peças, 5 de Gonçalo Lopes, almoxarife dos nossos escravos e um do dito Bartolomeu e outro de mestre Pêro, pomareiro da nossa horta de Almeirim; Item recebeu de bordos 666 peças do dito António Monteiro e Gonçalo Carvalho; de tabuado de castanho 95 dúzias por André Vaz, recebedor que foi do dinheiro da nossa especiaria e Diogo Fernandes Cabral sobredito; de terçados, 10 carros do dito André Vaz; de pontes, 4 carros deles; de vigas, 15 carregos do dito Afonso Monteiro e Diogo Fernandes; de couceiras, 215 peças; e outra mais madeira de pontes, terçados tabuado de pinho de Flandres, madeira de toda a sorte, recebida por vezes, do dito Diogo Rodrigues Cabral, em que se montou 4.024 carros e meio. Item de azulejos, 3.000 milheiros, chumbo, estanho, cobre, tijolo de toda a sorte grande, alvenaria, portal. Item de cal 1821 milheiros; bois, vacas, cabras, galinhas, patos, ades, refeiros, maronês, carros, enxadas, alferces, rodas, pás de ferro, machados, podões, ancinhos, sachos, madeira de hormes. Item tapeçaria, alcatifas, colchões, leitos de flandres com seus paramentos, travesseiros, almofadas, com muita roupa de camas, cofre de Flandres, arquibancos, mesas de gonças, cadeiras de espaldas, livros, coisas de capela, de serviço de mesas, cozinha e de estrebaria, e de montear, e outras muitas coisas, que por nosso mandado estão nos ditos Paços em tombo, como pelos livros da sua receita e despesa dos ditos anos, fomos certo, por onde do dito dinheiro e coisas se lhe tomou a dita conta, de que os nomes e contas se não declara nesta dita quitação por estarem a recado do dito tombo, como dito é. E mostrou-se pelas ditas recadações das ditas contas, que foram vistas em nossa Fazenda pelos nossos vedores dela, ele dito Diogo Rodrigues nos dar de todo o dinheiro e coisas sobreditas, e contidas nos ditos seus livros e recadações, mui boa conta, pelo qual nós o damos por quite e livre. Dada em Lisboa a 20 de Junho, João do Porto a fez, de 1517 anos.»