domingo, 28 de fevereiro de 2010

O segredo do Paço da Ribeira de Muge - lenda

Conta a história que aquando das invasões francesas, estes gálios invasores saqueavam tudo quanto encontravam. As igrejas e outros monumentos históricos eram os locais preferidos pois, albergavam, não poucas vezes, obras de arte de valor incalculável.

Conta a história destes tempos heróicos que, numa destas incursões, um batalhão de soldados de Napoleão ocupou Santarém, onde saquearam e vandalizaram casas e igrejas; delas fizeram caserna e camarata e até estábulo para os animais. Ali aguentaram meses, à espera de ordem para a continuação da marcha que os deveria levar vitoriosos até Lisboa.

Conta a lenda que a soldadesca se entretinha, entretanto, a saquear as igrejas e casas de várias léguas em redor, não se aventurando, contudo, a galgar a Serra de Almeirim.

Porém, na primavera de 1811 tiveram ordem de retirada para o Alentejo e então, apesar dos trabalhos das tropas portuguesas e inglesas para que estes não passassem o Tejo, diz a lenda que uma horda de gauleses passou pelo Paço dos Negros da Ribeira de Muge onde saquearam tudo quanto encontraram.

Conta-se que os frades, juntamente com os moradores e demais gentes que no Paço vinham ouvir a missa e fazer a desobriga pascal, sabendo do que se passava noutras terras, de noite, em carros de bois, aos quais tiravam os chocalhos, iam enterrar bens e géneros. Em segredo, entaiparam algumas imagens de santos e objectos de maior valor, em nichos cavados nas paredes da capela. Conta-se que é esta a razão porque se não conhece nenhuma imagem da real Capela de Nossa Senhora da Graça, nem de S. João Baptista, patrono da Ermida de Paço dos Negros.

Como às invasões se sucedeu um período de miséria, guerras civis, expulsões de frades, extinções de conventos, abandonos e fugas, perdeu-se-lhe o sítio exacto, e conta-se que ainda hoje se encontram estes objectos escondidos nas paredes da capela.

Aspecto que terá a capela de S. João Baptista, depois de ser objecto de recuperação: levar um telhado que não permita que a chuva lhe caia dentro, umas demãos de cal nas paredes, uma porta condigna com o monumento que é, arranjos no pátio, etc.

Trabalhado em fhotoshop.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Manel Braz

Este é o paradigma, um caso típico dos temas que eram cantados pelas mulheres da Ribeira de Muge: a morte de um jovem na flor da idade.


No início da década de 30, após cumprir o serviço militar, “estava muito mimoso”, Manuel Braz, natural de Fazendas de Almeirim, a morar em Paço dos Negros, morreu a ceifar trigo. Facto que as mulheres imediatamente cantaram.

Fomos encontrar (e salvar) a versão integral deste sumido “verso” de que muitas mulheres nos entoavam pequenos fragmentos, em Paço dos Negros, após mais de um ano de buscas.

Descrito com simplicidade, nele não faltam os receios da namorada em deixar-se comprometer indo ao funeral: “Tenho medo às más-línguas, eu não sei se vá se não”.

Ceifeiros, anos 40

clique aqui: Manel Braz

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Paulo Soares da Mota filho de José Soares da Mota

Embora em outros documentos já antes apareça, nos documentos de nomeação do almoxarife, é neste a primeira vez que surge a referência a Paço dos Negros.
É nomeado ainda na menoridade de Filipe Peixoto da Silva, por morte de seu pai José Soares da Mota, ainda com a condição de dar metade do ordenado a Dona Francisca de Moura, mãe de Filipe.
Nasceu em 1665. Vem a ser confirmado no cargo, em 1695, dada a renúncia ao cargo deste Filipe.
Era casado com Dona Josefa Maria Seixas. Foi titular de moinhos na ribeira de Muge. Foi um almoxarife muito popular na região.



CH. D. Pedro II, 2, 225

Houve S. Majestade por bem havendo respeito a boa informação que tem da pessoa e suficiência do dito Paulo Soares da Mota e a ser filho de José Soares da Mota a quem havia feito mercê da serventia do ofício de almoxarife dos Paços dos Negros da Ribeira de Muja para que o servisse enquanto durasse a menoridade de Filipe a quem também tenho feito mercê de o nomear na propriedade do dito ofício e por de presente vagar por óbito do dito José Soares da Mota há sua Majestade por bem de fazer mercê ao dito Paulo Soares da Mota da serventia do dito ofício de almoxarife dos Paços dos Negros da Ribeira de Muja enquanto durar o impedimento do dito Filipe menor na forma que o servia seu pai defunto com o qual ofício haverá o mantimento a ele ordenado prós e percalços que direitamente lhe pertencerem com a obrigação de que dava metade do dito ordenado a dona Francisca de Moura mãe do dito menor para sustento dele dando fiança segura e abonada aos recebimentos do dito ofício na forma do regimento da Fazenda e a mesma foi feita a 10 de Abril de 1685.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O território da Coutada da Ribeira de Muge

Um casamento efectuado na capela de S. João Baptista de Paço dos Negros, no ano de 1769. Nubentes: António José e Felicia Maria Prates, de Vale Flores. Os padrinhos de Casal do Zebro e Cruzetos, na ribeira dos Grous, limites da Coutada.

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Ponte na Ribeira de Muge, passagem de Palhas para Almotolias e Vale Flores


domingo, 21 de fevereiro de 2010

O desleixo, a ganância, a incúria e as lágrimas de crocodilo

Agora com a catástrofe que se abateu sobre a Madeira, voltaram as acusações e lágrimas de crocodilo.

O que se vê nesta foto penuncia uma futura catástrofe. Nem sequer é preciso ser profeta da desgraça para adivinhar isto. Basta conhecer este vale e o seu historial de cheias. Todo o aterro que se vê assenta sobre o leito de cheia, no Vale João Viegas, a 30-50 metros da Escola de Paço dos Negros. Ademais um óptimo exemplo para as crianças. Que têm a dizer sobre isto os responsáveis do Agrupamento escolar e da Autarquia e do Ambiente?

sábado, 20 de fevereiro de 2010

António Domingos

Do romanceiro local – Um romance "verso" nascido no período da Guerra 14-18.
Recolhido em Paço dos Negros, após persistentes dois anos de pesquisa.

António Domingos

Eu sei mesmo com certeza
Que eu a França vou morrer
Adeus mana Virgínia
Nunca mais te eu torno a ver

Adeus mana Luciana
Ó mana do coração
Eu agora vou para França
                                   Vou morrer de um alemão – recolhido à posteriori

Adeus ó mana Emilha
És minha mana real
Que alegria tinhas tu
Se eu voltasse a Portugal

Adeus ó sítio da França
Tens uma rosa encarnada
Onde morreu o António Domingos
Queimado de uma granada

Adeus ó sítio da França
Lá no meio tens uma flor
Adeus Conceição Jacinta
Já morreu o teu amor

Torradas novas torradas
A faca corta o limão
Já morreu o António Domingos
Cravo roxo em botão

Clique aqui: António Domingos


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Raposa - Um pouco da sua história

Um documento guardado no Patriarcado,  relata a visita que fez Feliciano Luís Gonzaga, visitador do Patriarcado, em 1760, a qual principiou em Raposa, no dia 1 de Junho, seguindo-se Lamarosa, Erra, Montargil, Chouto…, Torres Novas, e terminou em Alcanena e Monsanto a 4 de Agosto, num total de 30 paróquias.
Neste podemos confirmar a dedicação a S. João Baptista a tão desprezado capela real de Paço dos Negros.



Isaías da Rosa Pereira, Visitas paroquiais da região de Torres Novas, ano de 1760: 45:

Torre sineira da Igreja de Santo António de Raposa

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Os pássaros que não falavam espanhol

Esta vai dedicada especialmente aos meus amigos ferroviários.


O Zé Bernardo, maquinista, morava no Entroncamento. Tinha as suas manias. A mania que era ciclista era uma delas. Comprou até uma boa bicicleta de corrida, coisa cara na época. Vestia-se a rigor e de vez em quando, que os turnos do pessoal itinerante também não davam para mais, era vê-lo por aí, a dar nas vistas, a pedalar na sua bicicleta.
Quando era a Volta a Portugal, ele sabia a que horas é que passavam os corredores aqui por perto, aí meia hora antes surgia, feliz, qual Alves Barbosa, a correr isolado à frente do pelotão. Havia até quem o aplaudisse, confiando que era um fugitivo.
Era meio maluco, meio estarola este Zé Bernardo.
Nas horas vagas apanhava pássaros. Ainda que pouco, era exercício que rendia algum dinheiro vendendo-os a uns passarinheiros de ao pé da porta. Um dia experimentou vendê-los em Espanha, onde ia frequentemente em serviço. Uma mina.
Como só os pardais vinham poisar-lhe à porta, e pela falta de tempo, ele desabituou-se dos pintassilgos, e pensou em apanhar pardais. Não havia árvore ou telhado que lhe escapasse. Depois era só pintá-los.
Para quê perder horas e horas à espera dos pintassilgos, dos verdelhões, dos tentilhões, ali nos descampados de Mato Miranda, de Vale Figueira, se qualquer ramalhuda árvore dentro da vila era um céu aberto de pardais?
A mulher quando soube da ideia, ainda tentara demovê-lo: – Quero ver como é que fica essa pintura! – desafiava a mulher.
Mas qual quê. Os espanhóis, esses sim, pagavam bem. Estava decidido. Até porque o contrabando do bacalhau já se fora, o do café já tivera melhores dias. Era negócio já muito acomodado. Não havia cão nem gato que, debaixo do sobretudo, não passasse o seu saco de café. Até a Guarda-fiscal já fazia vista grossa.
Caçava pois Zé Bernardo os pardais e depois em casa pintava-os. Muito imaginativo, conseguia ver neles diferentes tamanhos, os quais coloria da cor dos verdelhões, dos tentilhões, dos pintassilgos e até dos canários.
Já estava a imaginar a próxima viagem para Badajoz. Bem sortido, um verdadeiro arco-íris de cores, não chegariam para as encomendas.
A Guarda-fiscal de Elvas bem podia afinar a vista e o ouvido que, os pássaros, esses, tinham o canto bem abafado pelo barulho dos motores. Era bem fintada!
O negócio era feito no cantão das manobras, sítio escuro, que a Guardia Civil franquista não era para brincadeiras.
Logo na primeira viagem após a descoberta do grande negócio, preparado para repetir a façanha, ele a chegar e os espanhóis descontentes com o ajuste anterior, a prova ali à mão, uns escuros e tristes pardais dentro de uma pálida gaiola, já estavam à sua espera:
– Mira portugués, los pájaros están perdiendo el color.
Por esta surpresa é que não esperava Zé Bernardo. Mas não se atrapalhou.
Teve ainda tempo de inventar: – Ha sido del cambio. Los pássaros españoles no le gustan de las mesmas colores de los portugueses. Eles ainda não conocen las colores espanholas – respondia numa mistura de portunhol.
– Pero, los canarios no cantan – insistiam os espanhóis.
– É que os pássaros ainda levam algum tempo a aprender a falar espanhol.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

D. Inês

D. INÊS (OU BRAVO FRANCO, D. FRANCO, GALLO FRANCO, RICO FRANCO, ETC.)

Teófilo Braga refere que “este admirável romance, coligido da tradição dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, não tem sido até agora encontrado nas versões continentais”. Apresenta algumas versões com os nomes que usamos nos subtítulos, que relaciona com a lição castelhana:

En Madrid hay un palacio/Que le llaman Urabé/en el vive una señora/Que llaman Isabel.

Leite de Vasconcelos, por sua vez, dá-nos uma versão muito incompleta, recolhida em Lageosa, Oliveira do Hospital.

Tivemos o privilégio de, no Agosto de 2005, no vale da Ribeira de Muge, em Paço dos Negros, encontrar este pelos vistos perdido tema, que não direi que está desfigurado, mas sim e mais uma vez adaptado à realidade local. “Verso” antigo, de grande beleza e expressividade de linguagem, canta o rapto de uma donzela.

Clique aqui para ouvir D. Ines

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Filipe Peixoto da Silva - na menoridade - 10º almoxarife do Paço



ch D. Afonso VI, 43, 294


Ao menor Filipe filho de Jorge Peixoto da Silva

Eu o Príncipe etc. faço saber aos que este alvará virem que tendo respeito a satisfação com que Jorge Peixoto da Silva serviu onze anos o ofício de almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge de que foi proprietário e haver já sido de seu pai e avós e a ficar, digo, e a lhe ficarem por seu falecimento um filho e duas filhas e a sua mulher Dona Francisca de Moura pejada hei por bem e me praz fazer mercê da propriedade do dito ofício de almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge a seu filho Filipe menor de doze anos para o servir como menor idade assim e da maneira que o tinha e que servia o dito seu pai servindo bem e não mandando eu o contrário pelo que mando aos vedores de minha Fazenda que tendo idade suficiente o dito menor Filipe para bem servir o dito ofício lhe faço passar carta dada em seu nome e para minha lembrança e sua guarda lhe mandei passar este alvará que se cumprirá inteiramente e valerá posto que sem efeito haja de durar mais de um ano sem embargo de ordenação em contrário porque pagou de nossos direitos trinta réis que se carregaram ao Tesouro a folhas 170 do livro de sua receita Francisco Ferreira o fez em Lisboa a dois de fev. de seiscentos e setenta e nove anos Manuel Francisco Rebelo o fez escrever // Príncipe // D. João Mascarenhas por portaria do Procurador das Obras e Paços. Lourenço Pires de Carvalho de vinte e dois de Fevereiro de mil e seiscentos e setenta e nove. João Fernandes de Morais. Pagou 30 réis e a folhas duzentos e dez. Lisboa oito de Julho de seiscentos e setenta e nove anos.
Dom Sebastião Maldonado.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Associação Itinerarium XIV - Ribeira de Muge

O Vira da Tira


O antigo Casal Tira é um pequeno povoado junto e, actualmente, por muitos de nós considerado como inserido em Marianos.
Este vira, por mim procurado durante vários meses, localmente, veio a ser recolhido em Paço dos Negros.
A letra, repassada pelo tempo, é uma bela metáfora, sobre os valores e vivências sociais. Prova que o povo simples, mesmo sendo iletrado, sabe construir, apreciar e guardar as melhores canções.
É interpretado pelo nascente coro das "Mulheres da Ribeira de Muge".

Na primeira quadra um rapaz recorda à rapariga, zangada, os tempos em que lhe dava os seus carinhos.

Ó roseira tu tens bicos
Talvez me queiras picar
Não te lembras ó roseira
Quando eu te ia regar

Na segunda, quiçá o rapaz mostra arrependimento:

Aquela menina chora
Chora que eu que a enganei
Neste mundo chora ela
No outro eu pagarei

Na terceira uma rapariga afirma que a sua honra não se vende, pelo que só a palavra de um homem digno lhe interessa.

A honra de uma donzela
Não é paga com dinheiro
É paga com uma palavra
Dum rapaz que é verdadeiro

Oiça aqui o Vira da Tira

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

D. Sebastião e o Paço dos Negros

D. Sebastião

Muitas são as histórias do rei D. Sebastião nas caçadas, nas coutadas de Almeirim e da Ribeira de Muja, conforme documentos, e como o sugerem as fugas a sua avó durante as suas longas estadias no paço de Almeirim. Desta vez, aos 17 anos, estava o rei D. Sebastião em Almeirim desde 21-12-1571. E como nos diz a carta de 10-02-1572, do cardeal a Dona Catarina, passou alguns dias no Paço da Ribeira: «elRey meu sor esta muito bem. não se lhe deve dizer algua cousa que de algua sospeita. E elRey meu sor esta nos Paços da Ribeira e não a de vir senão amanhã a noite. E também esta para ir ver V. A. logo na entrada da coresma. (A. Simancas, Estado, legajo 390, f. 88, citado em Joaquim Veríssimo Serrão, Os itinerários de D. Sebastião, 1568-1578).

Pois hoje, 9 de Fevereiro, neste aniversário desta estadia documentada, este blog quer recordar esta data, de algum modo desagravando os atentados que vem sofrendo este Paço e a memória dos que por aqui passaram, por políticos que não respeitam o património, a história e a cultura.

Rainha D. Catarina

Pórtico do Paço dos Negros

Mulheres da Ribeira de Muge



Oiça no post anterior "Oh preto, oh preto", dança recolhida na Ribeira de Muge, em Paço dos Negros. Era dançada só por homens, ainda no início do século XX.


oh preto, oh preto

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Academia Itinerarium XIV – Ribeira de Muge

Está a nascer em Paço dos Negros uma nova Associação. Associação que será uma Academia onde se pesquisa, se preserva e se divulga a cultura desta região, tendo o Paço dos Negros, como centro aglutinador.
Academia onde não mais se faça a apologia de um pseudo folclore, criação do salazarista António Ferro que, por não ser representativo dos saberes do povo, tem mostrado ser factor de menorização desse mesmo povo.
Aspira esta Associação vir a recrear a cultura da Ribeira de Muge em todas as suas vertentes, e a dar novamente voz às “Mulheres da Ribeira de Muge” de tão grata memória. Para tal está a nascer o grupo coral “Mulheres da Ribeira de Muge”.
Irá esta futura associação apresentar peças que já foram recolhidas e outras que continuam a ser pesquisadas, não esquecendo a vertente do passado palaciano e “dos Negros” que em Paço dos Negros fizeram história, e que tão esquecidos têm sido.
Também será objecto de estudo a dança, a museologia, o teatro, com as peças vividas pelo povo, peças que a vida criava, que o povo inventava, por vezes representava enquanto trabalhava, tendo para se exibir um palco de lama e erva, dentro dos canteiros do arroz.
Oiça no post anterior uma das peças que na primeira metade do século XX era dançada em Paço dos Negros. É cantada pelo Coro das Mulheres da Ribeira de Muge, num dos seus primeiros ensaios. A Condessa.

A Condessa

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Minutas de cartas de monteiros

Luís Dias, monteiro - forma extensa

Dom Afonso, etc, faço saber a quantos esta minha carta virem que confiando eu de luís Dias, mercador, e morador na vila de Santarém, que no que o encarregar, me servirá bem como cumpre a meu serviço e bem das partes, e querendo-lhe fazer mercê tenho por bem de lha fazer e o dou ora daqui em diante por meu Monteiro e guardador da Mata da Ribeira de Muge, convém a saber de Vasco Velho até a Marmeleira, águas vertentes de uma parte e da outra, com todos seus vales, pernadas e fornecos que são da mesma ribeira, e das mais matas que são das montarias da dita vila de Santarém, em lugar de Mateus Gonçalves, Monteiro e guardador que foi das ditas matas, que ora aposentei por ser velho e doente, e porquanto fui certo por Garcia de Melo meu Monteiro mor deste reino, que o dito Luís Dias é bem idóneo e pertencente para bem servir no dito cargo de Monteiro e guardador das ditas matas, quero e mando que se ele não andar nas vintenas do mar, nem for besteiro do conto, que não seja para este constrangido pelo meu Almirante, Capitão ou anadel, ou outrem que para isso meu poder tenha; outrossim mando que não seja nenhum tão ousado assim de minha mercê como da Rainha, Príncipes, Infantes, como de outras algumas pessoas, porque suposto que eu ou cada um deles vamos ao dito lugar donde ele morar, não pousem em suas casas de morada, adegas nem cavalariças, nem lhe tome pão, nem vinho, nem galinhas, nem lenha, nem gados, nem roupa, nem palha, nem cevada, nem bestas de sela ou albarda, nem outra nenhuma cousa do seu uso, contra sua vontade; posto que seja para mim ou para a dita Rainha, príncipe, Infantes; outrossim mando que não pague em nenhuma, peitas, fintas, nem talhas, nem em pedidos nem emprestados, nem em serviços, nem em outros serviços, nem em cargos que por mim ou pelo meu conselho donde ele morar, forem ou sejam ao diante lançados, por qualquer guisa e maneira que seja, nem vá com pesos ou com dinheiros, nem pague em bolsa nem em fontes, nem em monturos nem em calçadas, nem em caminhos, nem seja tutor, nem curador de nenhumas pessoas, nem haja outros nenhuns oficiais do conselho contra sua vontade, posto que seja para ele pertencente, salvo se for tutoria lídima; outrossim mando que não pague jugada oitavo de pão, nem de vinho, nem de linho, nem de outra nenhuma cousa por lançar nem haver; outrossim mando que nenhum seja tão ousado que nas ditas matas meta porcos, nem em nenhuns tempos que seja, salvo os porcos dos moradores das cabeças das ditas matas enquanto aí houver lande e mais não; e mando a este Monteiro e aos outros seus Paceiros, que se aí acharem porcos de outras pessoas, os matem, sem coima nenhuma que seja, e se alguma pessoa ou pessoas contra isto for os prenderão e os entregarão a minhas justiças, e eles os não soltarão sem meu mandado; outrossim mando que se o dito Monteiro houver demanda alguma com alguns de seus paceiros, sobre seus ofícios e guardas da dita montaria, que o meu Monteiro-mor dela os oiça, e livre, como achar que é direito, porque sendo feitos crimes ou cíveis, não tomarão deles conhecimento, e o dito Monteiro tenha uma ascuna, e uma buzina e um sabujo, e um pelote verde, para quando dele me cumprir serviço, e se alguma pessoas, ou pessoas contra isto for em parte, ou em todo, mando que pague seis mil réis por cada vez que contra isto for, os quais mando ao almoxarife da dita vila, os receba e os arrecade para mim, e ao escrivão do dito ofício que os ponha sobre ele, em receita, sob pena de ambos eles os pagarem em dobros de suas casas; outrossim por esta minha carta de privilégio dou licença e lugar ao dito luís Dias, meu Monteiro, que ele possa trazer suas armas de noite e de dia, quaisquer que quiser, sem embargo de minhas defesas e ordenações que fala nas armas defesas que podem trazer os privilegiados; porém, mando a todas as minha justiças que lhas não tomem, nem mandeis tomar, nem embargar, nem lhe consintais por lhe ser feito põe ele, outro algum desaguisado, porquanto é minha mercê e vontade dar-lhe para ele o dito lugar, enquanto assim for meu Monteiro e guardador das dita matas, pelo que mando as minhas justiças que se cumpra de que se lhe passou a dita carta, ao dito luís Dias, como assim se declara, a qual carta foi deita por Manuel Cardoso Pinto e assinada por Garcia de Melo a 16 de Junho de 1666.


Álvaro Anes - forma breve
ch. D. Afonso V, 28, 9v.

D. Afonso etc. a vós Juízes da nossa vila de Santarém e a todos os corregedores, Juízes e Justiças e alcaides e oficiais dos nossos reinos que esta carta for mostrada saúde. Sabede que nós querendo fazer graça e mercê a Álvaro Anes, hortelão, morador nos Olivais da dita vila temos por bem e o damo-lo por nosso monteiro e guardador da mata da ribeira de Muge desde o moinho de Vasco até Mouta de Mem Fernandes assim como parte com os Cruzetos em lugar e vaga de Afonso Eanes Cordoeiro já defunto, que Deus haja, morador que foi na ribeira da dita vila de Santarém nosso monteiro e guardador que foi da dita mata da ribeira de Muge etc, etc, em forma. Dada em a dita vila de Santarém a vinte dias do mês de Abril El rei o mandou por o dito Nuno Vaz de Castelbranco seu monteiro mor.

Lopo Alvarez a fez ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil 468 anos.

Casal do Pego da Curva - foto 2006

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paço dos Negros - Capital da Ribeira de Muge

Durante 3 séculos, XVI, XVII, XVIII, de Paço dos Negros irradiava a cultura e a ordem para as populações em redor. A o paço vinham casar as populações e baptizar os filhos. Dali levavam a cultura que depois à sua maneira a repetiam e transformavam. No Paço Real habitava o almoxarife e dali partiam os monteiros a guardar a coutada. Esta ia desde o Moinho de Vasco Velho (o Pontão a sul de Raposa), até ao Pego da Curva, pelo Espinhaço de Cão até à Ribeira do grou e pelas vertentes desta até novamente ao Moinho de Vasco.


Trecho de mapa das montarias de Santarém
Paço dos Negros, apesar de todas as discriminações de que tem sido vítima pela Câmara de Almeirim, tem condições para voltar a ser a o Centro do desenvolvimento e progresso da ribeira de Muge.


Foto de 2004. Podia ver-se ainda, ao fundo, o Pomar real, desprezado mas não destruído como está hoje.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Curiosidades sobre o Paço dos Negros da Ribeira de Muge

Recebia o almoxarife por ano, em 1519, para "as aves e cães", nove moios de milho.

cc, 2,84,146

É verdade que Antão Fernandes almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge recebeu de Álvaro Monteiro almoxarife das Jugadas da vila de Santarém nove moios de milho que dele em cada um ano recebe...

nota - um moio são 60 alqueires, de cerca de 15 quilos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Habitação em Paço dos Negros

A casa típica da primeira metade do século XX em Paço dos Negros. Tem apenas portas do lado da frente e apenas uma pequena janela para um quarto. Obrigatoriamente tem o forno a dar para dentro de casa. As paredes são de taipa. Não tinha casa de banho. Não tinha tecto nem sótão. O chão era de salão. Não era electrificada. Nesta se criaram oito filhos.

Casa dos anos 20