domingo, 2 de maio de 2010

Santo António de Cadoiços


Trecho de mapa de Mário Saa

São conhecidos os famosos concheiros de Muge, de épocas pré-romanização.
Para Mário Saa, investigador, a Ribeira de Muge é o traçado onde assenta o célebre itinerário romano de Antonino Pio, sobre a qual estabeleceu uma das conclusões essenciais da sua obra, “As Grandes Vias da Lusitânia”: a tese de que o Itinerário XIV de Antonino, assentava na margem direita da ribeira de Muge, em toda a sua extensão.

Mas será este território da ribeira de Muge apenas romano?

São conhecidos os famosos concheiros de Muge, anteriores à romanização.
Mário Saa atribuiu o nome de Per[a]briga às villae de Vila Longa, junto da foz do Muge, e Aritium Pretório ao cimo.
Este traçado, defendido por Saa, é o único que satisfaz simultaneamente as condições postas pelo Itinerário de Antonino e Mapa de Ravena:
Mede a distância de 61 quilómetros, o que corresponde às primeiras 38 millium passum do Itinerário de Antonino, de Porto Sabugueiro, até Aritium Praetorium (Água Branca), bem como os restantes troços dos referidos mapas.

Neste percurso, vemos que a cada troço de cerca de 12 milhas (19 km), uma distância ideal, se situa um ponto de apoio à estrada.
Partindo de Porto Sabugueiro, ao km 19, o Paço dos Negros da Ribeira de Muge, estratégico, onde foram encontradas moedas romanas, e outros achados; ao km 39 chegamos à Estalagem; ao km 61 Água Branca, o dito pretório.

Outros topónimos: A 7,5 km os Caniçais (da Rainha), A 13 km, as Ferrarias, com o seu Cabeço de Ferro e estação ao Ar Livre, classificados como Necrópole. Foram aqui recolhidos materiais de vários períodos, nomeadamente Mesolítico, Idade do Ferro, Romano e Medieval.
Mais a norte, a 17 km, temos a Ponte Velha e a velha passagem da Ribeira, que já foi denominada Ponte do Bispo, ao km 18; confundindo-se com o local de acesso à ponte romana na via Santarém Évora. Ao km 46 temos Folgas e ao km 51 a Estação, ao 53 Cadouços.
A coroar este percurso da ribeira de Muge, ao cimo da ribeira, o referido por Saa, Cevo de Muge.

Como se vê, vetustos caminhos e topónimos que nos sugerem algo como velhos trilhos de passagem de caminhantes, apoio e descanso de viajantes, repasto (cevo) de gados.

Cadouços, ao cimo da Ribeira de Muge. Santo António de Cadoiços, em Mário Saa.
Procurámos o significado de tão estranho nome.

Moisés Espírito Santo, na sua obra, “Fontes Remotas da Cultura Portuguesa”, num estudo da origem dos topónimos de localidades portuguesas, dá-nos o significado de Cadoiços, kadosh – Santuário –, na língua Ugaritico-Cananita, falada na península ao tempo dos Fenícios.