segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Às vezes interrogo-me: porquê tanto empenho em destruir? Não se vê dos responsáveis políticos que governam a Câmara de Almeirim um acto que indicie conhecimento, respeito, intenção de preservação do nosso património histórico. Quando pensam estar a fazer alguma coisa, é manhosamente, falaciosamente, anunciado com trombetas em cima de um palanque. Será isto a ambição dos medíocres?


Antes não havia conhecimento de documentação sobre este Paço, era como se não existisse. Paço que foi grande, como grandes foram os seus frequentadores no século XVI.

E agora, a “barbárie” de Almeirim, faz de conta, ainda, que não existem, acelerando a destruição, porquê?

Ver as fotos do último post.



Construindo a História de Paço dos Negros – A saída da Fazenda Real


Certamente Frazão de Vasconcelos ao nos legar, em 1926, o primeiro estudo conhecido sobre Paço dos Negros, “O Paço dos Negros da Ribeira de Muge e os seus Almoxarifes”, como homem de cultura e de ciência, foi com a intenção de que os vindouros viessem a pegar nas suas investigações e continuassem a Obra. É isso que modestamente estamos a fazer.


Diz o Vasconcelos na página 4: «Não podemos averiguar quando a propriedade entrou na Fazenda Real. Talvez que anteriormente a El-Rei D. Manuel. Também não sabemos ao certo quando dela saiu. O último almoxarife, de que temos noticia, foi nomeado em 1769 [Paulo Soares da Mota]. Deve portanto, ter sido posteriormente a esta data que o Paço dos Negros passou para a ilustre casa dos condes da Atalaia. Por que forma? Ignoramo-la, nem a sabe o Sr., marquês de Tancos, representante daquela nobilíssima família, que correspondendo amavelmente ao nosso pedido de informações, nos disse ter havido em tempos uma troca de propriedades da sua casa por outras da Casa Real. Teria, nessa Ocasião, a Casa Real cedido o seu Paço dos Negros?»

No final, página 12: «Depois deste Paulo Soares da Mota não encontrámos outra nomeação de almoxarife do Paço dos Negros. Teria sido o último? Teria sido no seu tempo que o Paço e coutada saíram da fazenda real? Como já o dissemos na nota da página 4, não o podemos averiguar.»



Trecho de documento.




Baseado num carta de doação, de Março de 1790, da rainha D. Maria I a D. António Luís de Meneses. R.G.M D. Maria I, livro 20, e em um traslado de documentos originais, guardados na Torre do Tombo, A. D. de S., Juízo do Tombo nº 24, Livro dos Registos dos Tombos dos Bens da Real Coroa de Santarém, podemos desfazer a dúvida do Historiador e confirmar a data exacta da saída da Fazenda Real, do Paço dos Negros e terrenos confinantes, o local onde se efectivou e os seus intervenientes. Desfazem-se assim, ainda, dúvidas sobre a efectividade do exercício, durante 21 anos, do último Almoxarife, de nomeação real, Paulo Soares da Mota. Não só foi efectiva, como foi o próprio que deu posse ao novo titular na pessoa do seu representante:


«Auto de posse dos Paços dos Negros da Ribeira de Muja. Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa, aos trinta dias do mês de Agosto do dito ano, neste Paço chamado dos Negros, termo da vila de Santarém, eu escrivão dos Paços da vila de Almeirim e Paço dos Negros, em companhia do almoxarife Paulo Soares da Mota, vim, sendo presente Manuel da Câmara procurador do Exmo. Marquês de Tancos D. António Luís de Meneses, o mesmo em cumprimento da carta de doação retro e por bem da sua procuração que apresentou, tomou posse mansa e pacificamente sem contradição de pessoa alguma do dito Paço dos Negros a sua pertença, abrindo portas fechando portas, tirando telhas e pondo telhas, e passeando por ele, deitando terra ao ar, arrancando ramos de ervas e árvores, dizendo tomava posse do mesmo paço e terreno por Sua Majestade haver feito deles perpétua doação ao Exmo. seu constituinte, o qual parte de Nascente José Henriques Figueira [actual Gagos], e de Norte com águas vertentes da Serra, e de Poente com D. Teresa, e de Sul com a Madre de Água e fazendas da mesma D. Teresa, e o dito almoxarife lhe houve por dada a posse do dito Paço e seu terreno o aval e corporal civil e natural, para o Exmo. Marquês de Tancos o ter e haver na forma da carta retro e de tudo mandei fazer este auto que assinei com o procurador apossado, e comigo Francisco Tridente de Faria Monteiro que o escreveu e assinou. Paulo Soares da Mota. Francisco Tridente de Faria Monteiro. Manuel da Câmara a folhas sessenta e seis verso. Pagou cento e vinte réis de selo.

Santarém, cinco de Outubro de mil oitocentos e treze.»


De salientar o curioso ritual de posse exercido pelo senhor Procurador Manuel da Câmara: abrindo portas fechando portas, tirando telhas e pondo telhas, e passeando por ele, deitando terra ao ar, arrancando ramos de ervas e árvore…