Como ficara decidido, pela Academia que seriam publicadas neste dia, três "poesias", coisas do povo, iletrados alguns, aqui vai a homenagem final.
Como eu brincava, ninguém adivinha
Quando eu era criança
Brincava com o que tinha
Fazia uma boneca de trapos
Como eu brincava, ninguém adivinha
Tão bonita a minha boneca
Braços e pernas eram de buínho
O cabelo era de barba de milho
Como eu brincava ninguém adivinha
Quando se partia uma peça de loiça
Ninguém adivinha e nem vai acreditar
Eu ficava toda contente
Para os pedacinhos aproveitar
No quintal com umas pedras
Fazia a minha cozinha
Aproveitava os cacos mais bonitos
Como eu brincava ninguém adivinha
Noutra divisão fazia o quarto
Para a minha boneca deitar
Nos pedacinhos de retalhos
Se eu disser nem vão acreditar
Ao 84 não posso voltar atrás
Mas tenho tudo na lembrança
Já posso brincar outra vez
Já sou outra vez criança
Maria de Lurdes Baptista