Zé Moira
Vim
parar ao Vale da Lama
Para
me fornecer de capitais
Entre
matos e chaparrais
Imito
a fraga africana
Eu
tenho tantas farturas
Sem
conhecer o dinheiro
Por
falta de candeeiro
Deito-me
sempre às escuras
Tenho
portas sem fechaduras
De
palhas é o telhado
Tenho
um tecto envernizado
Com
fumos de várias cores
Neste
jardim de flores
Estou
deveras encantado
Eu
nunca posso usar
Casaco
nem sobretudo
A
mim me faz falta tudo
Pois
assim é que é gozar
Uma
esteira para me deitar
Por
não ter outra cama
Era
uma pobreza franciscana
A
minha roupa são farrapos
Os
meus companheiros são gatos
Porque
habito numa cabana
O
meu calçado fino é
Foi
feito por um vaqueiro
As
solas são de salgueiro
Que
mal posso andar de pé
Ainda
não perdi a fé
De
comprar um vestuário
E
umas lindas alpercatas
Para
dar ligeiro de patas
No
deserto solitário
É
um signo de mau porte
E
com ele temos que seguir
E
assim temos de cumprir
Cada
um com sua sorte
Eu
fugi a este golpe
Para
ver se ninguém me chama
Vim
esbarrar ao Vale da Lama
Para
me fornecer de capitais
Entre
matos e chaparrais
Imito
a fraga africana.
Recolhido
junto de Norberto Evangelista