sábado, 21 de março de 2015

Dia Mundial da Poesia I

Zé Moira



Vim parar ao Vale da Lama
Para me fornecer de capitais
Entre matos e chaparrais
Imito a fraga africana

Eu tenho tantas farturas
Sem conhecer o dinheiro
Por falta de candeeiro
Deito-me sempre às escuras

Tenho portas sem fechaduras
De palhas é o telhado
Tenho um tecto envernizado
Com fumos de várias cores
Neste jardim de flores
Estou deveras encantado

Eu nunca posso usar
Casaco nem sobretudo
A mim me faz falta tudo
Pois assim é que é gozar

Uma esteira para me deitar
Por não ter outra cama
Era uma pobreza franciscana
A minha roupa são farrapos
Os meus companheiros são gatos
Porque habito numa cabana

O meu calçado fino é
Foi feito por um vaqueiro
As solas são de salgueiro
Que mal posso andar de pé

Ainda não perdi a fé
De comprar um vestuário
E umas lindas alpercatas
Para dar ligeiro de patas
No deserto solitário

É um signo de mau porte
E com ele temos que seguir
E assim temos de cumprir
Cada um com sua sorte

Eu fugi a este golpe
Para ver se ninguém me chama
Vim esbarrar ao Vale da Lama
Para me fornecer de capitais
Entre matos e chaparrais
Imito a fraga africana.


Recolhido junto de Norberto Evangelista