Foto de Marcos Evangelista. Premiada em concurso de fotografia, Chamusca, 2003.
O sonho
Depois de um dia de trabalho
Senti-me muito cansada
Que me errei a dormir
Mesmo no chão assentada
Acordei era escuro
A noite estava cerrada
Sem saber o meu futuro
Eu já não via nada
Apenas uma sombra desabitada
Com uma cova lá dentro
Junto dela uma enxada
Onde sepultei meu pensamento
Fui arrastada pelo vento
Que me levou pelo ar
Numa montanha de cinzento
Ele aí me foi poisar
Lá vi o céu e o inferno
Ouvia gente a gritar
Ouvi alguém a sorrir
E os anjos a cantar
Foi tudo tão de estranhar
Por onde quer que passei
Se me vierem procurar
Eu contar-lhes não sei
Fiquei meio perturbada
O caminho era diferente
Não vi nada rastejado
Pelos passos de outra gente
Fui andando para a frente
Por altos e montanhas
Ouvi barulhos de outros seres
Com umas vozes tão estranhas
Galguei vales, galguei espinhos
Galguei estradas e carreiros
Vi os pássaros em seus ninhos
Lá em cimo nos outeiros
Onde estavam os carvoeiros
Com os fornos em chama
Isto não passou de um pesadelo
A dormir na minha cama.
Silvina Fidalgo