sábado, 21 de março de 2015

Dia Mundial da Poesia II

Foto de Marcos Evangelista. Premiada em concurso de fotografia, Chamusca, 2003. 



O sonho

Depois de um dia de trabalho
Senti-me muito cansada
Que me errei a dormir
Mesmo no chão assentada

Acordei era escuro
A noite estava cerrada
Sem saber o meu futuro
Eu já não via nada

Apenas uma sombra desabitada
Com uma cova lá dentro
Junto dela uma enxada
Onde sepultei meu pensamento

Fui arrastada pelo vento
Que me levou pelo ar
Numa montanha de cinzento
Ele aí me foi poisar

Lá vi o céu e o inferno
Ouvia gente a gritar
Ouvi alguém a sorrir
E os anjos a cantar

Foi tudo tão de estranhar
Por onde quer que passei
Se me vierem procurar
Eu contar-lhes não sei

Fiquei meio perturbada
O caminho era diferente
Não vi nada rastejado
Pelos passos de outra gente

Fui andando para a frente
Por altos e montanhas
Ouvi barulhos de outros seres
Com umas vozes tão estranhas

Galguei vales, galguei espinhos
Galguei estradas e carreiros
Vi os pássaros em seus ninhos
Lá em cimo nos outeiros

Onde estavam os carvoeiros
Com os fornos em chama
Isto não passou de um pesadelo
A dormir na minha cama.


Silvina Fidalgo