Carta Aberta ao Executivo da Câmara Municipal de Almeirim
Sobre a Conservação do Paço Real da Ribeira de Muge
Exmo. Sr. Presidente e Exmos. Srs. Vereadores,
A Academia Itinerarium XIV nasceu no seio de um grupo de cidadãos do lugar de Paço dos Negros, com o intuito de recolher, estudar, dignificar e promover a cultura da Ribeira de Muge. Por cultura da Ribeira de Muge entendemos não a da ribeira em si, mas a cultura popular das pessoas que vivem neste local. Por outro lado, incluímos em igual medidas no âmbito da nossa atividade tanto domínio histórico-patrimonial como também social e ambiental. É neste contexto que surge o Paço Real da Ribeira de Muge entrecruzado com a atividade da academia. Com efeito, temos não só estudado este espaço, como também ele tem sido o lugar nobre do desenvolvimento de algumas das nossas iniciativas.
Este local, que não devemos esquecer que é em grande parte propriedade do município, esteve durante vários anos votado ao abandono. Com efeito, há alguns anos atrás, um grupo de cidadãos de Paço dos Negros tomou a iniciativa de proceder à limpeza de entulhos que aqui existiam. Alguns desses mesmos cidadãos vêm mais tarde a integrar a academia.
Apesar de algumas obras já efetuadas, verificamos que há alguns elementos que estão em sério risco de conservação. Compreendemos que a altura não é melhor, do ponto de vista financeiro, para o empreendimento de um projeto de recuperação e valorização que este espaço merece. Contudo, vimos pelo presente meio manifestar a nossa preocupação por alguns elementos, que se encontram em estado de degradação ou em sério risco de conservação. A nosso ver, terão de ser empreendidas num curto-médio espaço de tempo algumas intervenções, a fim de que não só não se degrade mais o espaço, como também conseguir preservá-lo para o futuro, quando existir oportunidade de o valorizar.
Desta forma, cremos que importa assinalar os seguintes elementos:
- Portal: necessita de uma limpeza profunda e cuidada, uma vez que na parte superior deste foi-se desenvolvendo uma flora invasiva. Por outro lado, a própria estabilidade está em risco, assim como os revestimentos. Com efeito, são visíveis vários descarnamentos de rebocos na parede do portal, assim como nos próprios merlões. Chamamos à atenção que nestes revestimentos deverão ser utilizadas argamassas próprias, e não cimento portland (são visíveis na capela os efeitos nefastos da sua utilização).
- Páteo: a zona do antigo paço real que desapareceu (que forma um L entre a capela e o edifício onde fica a porta das casas-de-banho) foi pela academia devidamente fotografada e estudada, tendo inclusivamente sido produzida uma planta e uma maqueta do paço real. Foram, há alguns anos atrás, comprados e colocados por nós uma série de postes de madeira, para evitar que esta zona com vários pavimentos de tijoleira, arranques de paredes e cantarias de portas fosse danificada. Com o tempo, todos eles desapareceram. Verificamos que recentemente foram colocados outros. Saudamos essa atitude. Contudo, não só pela nossa experiência, como tendo presente que naquele espaço há moradores, está uma associação local e o próprio local é um ponto de atração de visitantes ocasionais, gostaríamos de sensibilizar o executivo municipal para os seguintes aspetos:
- Apesar de vedada parcialmente, a zona em questão continua a ter acesso a veículos pela parte junto à vala, pelo que seria importante também vedar esta parte com pilaretes ou uma cerca. Sobre isto, fazemos nota que na nossa última iniciativa de 27 de junho estavam trilhos de tratores marcados no terreno, junto à vala e em cima da zona de tijoleiras.
- Pela fragilidade do local, torna-se a nosso ver essencial tomar algumas atitudes no que diz respeito à conservação deste. Assim, e para termos a certeza que este bem poderá estar devidamente salvaguardado para quando num futuro mais ou menos longínquo for possível valoriza-lo e estudá-lo com mais profundidade, afigurar-se-ia como essencial colocar uma camada de areia (com cerca de 10 cm), seguida por um tapete geotêxtil e uma camada de saibro (com cerca de 15 cm). Isto levaria a que se pudesse circular a pé sem problemas sobre o lugar, e este deixaria de estar exposto às condições atmosféricas, que têm tido consequências visíveis sobre o mesmo. Permitiria este procedimento ser facilmente removido quando houver condições para valorizar o protegido.
- Contudo, a interdição da circulação de veículos automóveis dentro do complexo será, no nosso entender, uma das medidas mais urgentes a tomar, e que melhor poderá abonar para uma conservação preventiva. Esta situação poderia ser tomada com a simples colocação de um pilarete a meio da entrada, no portal.
- Ponte pedonal de acesso ao moinho, sobre a Vala do Pomar: é visível a degradação desta estrutura, sendo a sua consolidação um imperativo. Para a conservar a limpeza da vala, neste troço, deve ser feita manualmente e não com recurso a maquinarias que degradam o espaço.
- Ponte a jusante, no limite da propriedade do município: esta ponte, que inicialmente era pedonal e tinha guardas laterais, que foram destruídas para permitir a passagem de maquinaria para o arroz, encontra-se também ela em visível estado de degradação. Para a sua conservação deveriam ser reforçados os pilares, o pavimento e ser interdita a passagem de viaturas. Relembramos que no passado as maquinarias agrícolas entravam nos canteiros de arroz pela estrada que dá acesso ao Arneiro da Volta, e aí poderá voltar a ser construído um acesso. Verificar que na zona adjacente à direita e a jusante da ponte se encontram partes das anteparas (guardas laterais) que poderiam ser recolocadas e servir de modelo para a reconstrução das anteparas em falta.
A Academia Itinerarium XIV termina, certa de ter tocado na sensibilidade de V. Exs. para este assunto. Manifesta ainda a sua total disponibilidade para, em conjunto com o município, poder encontrar soluções que preservem e valorizem, mas também dinamizem o Paço Real da Ribeira de Muge.
O Secretariado da Academia Itinerarium XIV
Aquilino Manuel Pratas Fidalgo
Lucília Ferreira Cipriano Evangelista
Manuel da Conceição Evangelista
Maria Nélia Silva Castelo dos Reis
Samuel José Rodrigues Tomé
Esta carta será entregue individualmente a cada um dos membros do executivo municipal, e será dado conhecimento aos Grupos Municipais, ao Sr. Presidente da Assembleia Municipal, ao Executivo da Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim, Assembleia de Freguesia de Fazendas de Almeirim, Imprensa, rede de contactos da academia e publicação do blog da Academia Itinerarium XIV.