De um excerto do livro Paço dos Negros da Ribeira de Muge – A Tacubis Romana, pode ver-se como os escravos do rei eram tratados:
Em 1530, os negros da ribeira de Muge são referenciados como os beneficiários dos remédios e mezinhas do boticário de Santarém. São chamados de escravos do rei. Ordena Matela a Henrique Nunes que mande curar os ditos escravos que adoecerem e mande pagar os mestres e mezinhas de qualquer dinheiro que houver neste almoxarifado de Santarém. (CC, 2, maço 164, doc.48). (cf. anexo 39):
«Pedro Matela cavaleiro da Casa d’el-rei nosso senhor e seu contador na comarca dos escravos desta mui nobre e sempre leal vila de Santarém e da vila de Abrantes, corregedor perpétuo da vila de Almeirim, vos mando a vós Henrique Nunes, almoxarife do almoxarifado desta dita vila de Santarém, que qualquer dinheiro que tiverdes do ano passado de mil quinhentos e vinte e nove, deis e pagues a Simão Roiz, boticário, os mil duzentos e dez reais contidos nesta carta de Mestre Luís, os quais mil duzentos e dez reais foram de mezinhas para os ditos escravos do dito senhor, que lhe deu por meus mandados a qual carta se fez perante mim, e se montou nos ditos proveitos os ditos mil duzentos e dez reais, e portanto vos mando que lhes deis e pagueis e por este, e com seu conhecimento vos serão levados em conta para sempre sem duvida que nele punhais. Feito na dita vila de Santarém ao primeiro dia do mês de Agosto, António Ribeiro que tem carrego de escrivão dos escravos o fez de mil quinhentos e trinta anos, os quais mil duzentos e dez reais lhe dareis de vossa renda do ano de 1528, e este para que conste manda el-rei nosso senhor por seu alvará que é em meu poder que eu mande curar os ditos escravos que adoecerem e mande pagar os mestres e mezinhas de qualquer dinheiro que houver neste almoxarifado de Santarém e o dito António Ribeiro o escreveu. Pedro Matella».
No mesmo documento o bacharel confirma o recebimento do dinheiro, para pagamento despesa feita com o tratamento dos escravos da ribeira de Muge. (cf. anexo 39-A):
«O bacharel Mestre Luís, físico dos escravos desta vila, que tenho cargo de curar os escravos del-rei nosso senhor, da Ribeira de Muge, digo que é verdade que eu contei umas mezinhas a Simão Roiz de certas receitas que ele deu de sua botica para os ditos escravos, as quais mezinhas foram mandadas dar por o dito contador e assinadas por ele e por o físico, e ao fazer desta conta foram todos perante ele nos quais se montaram 1210 reais, e para lhe serem pagos lhe dei este por mim assinado e feito em Santarém ao primeiro dia de Agosto de mil 515 anos.»Assinatura indecifrada
Eu Simão Roiz, boticário, digo que é verdade que eu recebi de Henrique Nunes almoxarife estes mil e duzentos e dez reais neste mandado atrás escrito e por ser verdade que os assim recebi assinei este conhecimento por mim feito e assinado. Feito aos xiii dias do mês de Agosto mil 530 anos. Simão Roiz