domingo, 26 de setembro de 2010

FOLCLORE e folclorice



Parafraseando Mário Saa a propósito de uma outra ciência, a arqueologia:

...os preconceitos “folclóricos” quando este tema desabrochava para a ciência, mais não fizeram que um acumular de erros que não é fácil hoje desfazer.

Vem isto a propósito do meritório trabalho do Rancho Folclórico de Benfica do Ribatejo, o qual ontem tivemos o ensejo de apreciar no Cine-Teatro de Almeirim.

Pareceu-nos que está este Rancho com vontade de empreender um novo conceito de cultura popular, a devolver à palavra Folclore o seu genuíno significado: Cultura do povo. A retirar-lhe a carga negativa e aviltante, de coisa mais ou menos improvisada, mais ou menos fantasista, mais ou menos irreal, que em Portugal passou a aplicar-se também a pessoas cujos actos têm estas características, que um pseudo folclore, sem se firmar nas raízes, mais ou menos circense, que por aí pulula, tem permitido que degenerasse.

Trabalho artístico que, repito, tem mérito, contudo, porque baseando-se em filmes, jóias raras é certo, de meados do século xx, pode enfermar por, talvez, não reconhecer estes já atacados dessa doença da propaganda de um certo regime, que tem vitimado o nosso folclore como genuína expressão da cultura de um povo.

O que é genuíno, desde que bem representado, é bom. A prová-lo um momento bem conseguido, e aplaudido, que foi uma dança, talvez “à sesta”, apenas ao som de uma flauta.

O final do espectáculo, a apologia dessas fantasias que tiveram o seu tempo, foi a prova provada dessas influências perniciosas, culturais e políticas, que muitos designam de salazaristas, de que se não consegue a nossa cultura libertar.