Perfaz amanhã, nove de Abril, 98 anos que se deu a famosa batalha de LA LYS. A nossa admiração e homenagem aos corajosos soldados portugueses.
Manuel António-Paço dos Negros, um dos muitos expedicionários em França.
“Verso” decerto criado, in loco, no
próprio dia 9 de Abril de 1918, dia da Batalha de La Lys, retrata bem o
desânimo, mas também a coragem de um soldado (que desconhecemos o nome). Foi-nos deixado por Francisco
Maria, de Paço dos Negros, em manuscrito. Cedido por seu neto Samuel Tomé. (O mote é nosso, pois
que está implícito nas décimas).
NOVE DE ABRIL MEU AMOR - BATALHA DE LA LYS
[Ao escrever-te estas linhas
Só chora o meu coração
Porque as palavras são minhas
Somente as letras não são.]
Nove
de Abril, meu amor
Triste
data em que ditei
A
carta que te mandei;
Ó
[minha] adorada flor
Descanso
da minha dor
Fatalidades
daninhas
Não
pensas nem adivinhas
Quanto
eu sofro minha querida
Estou
entre a morte e a vida
Ao
escrever-te estas linhas.
Numa
horrorosa batalha
Após
um grande cansaço
Fui
ferido e perdi um braço
Numa
chuva de metralhadora
Foi-se
nossa esperança;
Falha,
ou acaso maldição
Pois
já por minha mão
[Era]
para te [pedir] em casamento
Do
meu triste sofrimento
Só
chora o meu coração.
Olha
leva a minha mãe
Muitos
beijos e carícias
Diz
que de mim tens notícias
Que
estou vivo e estou bem;
Depois
engana também
Minhas
pobres irmãzinhas
Inocentes
coitadinhas;
O
sentir-te como tu te sentes
Diz-lhe
[que] não és tu que mentes
Porque
as palavras são minhas.
Enquanto
a minha [alma] desvanece
Arranja
um namorado
Que
um pobre mutilado
Futuro
algum te oferece;
Todo
o nosso amor esquece
Fica
para mim a paixão
Guarda
para recordação
Esta
última cartinha
Junto
às outras, porque é minha,
Somente
as letras não são.Do livro Romanceiro da Ribeira de Muge.