terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Vandalismo cultural


À consideração do pelouro da Cultura e da Câmara Municipal de Almeirim.

Como estudioso da História e da Cultura da Minha Terra, sinto mágoa pelo que aconteceu na noite de passagem do ano no Complexo do Paço Real da Ribeira de Muge.

Um programa de comemoração da passagem de ano que só pode revelar o conceito de amor dos seus organizadores, pela Cultura e pela História da sua terra, conceito que se pensava já estar erradicado da sociedade.

A conselho de uma senhora Arqueóloga, que esteve no Paço, foram colocados pela Academia, uns “postaletes de madeira” e uma placa, a demarcar o espaço arqueológico anexo ao pátio, para evitar que se continuasse a degradar. Mas a barbárie, neste século XXI é tamanha. É maior, muito maior, do que o amor pela cultura. Tem a exacta medida da ignorância: Não tem coração, tão pouco cérebro. Começa no estômago e acaba na sanita.

Também não será para admirar, permitirem-se arrasar os vestígios e a monumentalidade que a História nos legou, portarem-se como indivíduos e instituições indignos deste riquíssimo legado cultural, quando o seu conceito de cultura é o aviltamento da Cultura de Paço dos Negros, apresentando como sendo Folclore da terra, umas pobres cantiguitas sem qualquer valor literário, que têm autor conhecido e reconhecido, e que as pessoas, dezenas de mulheres idosas investigadas, não reconhecem como tendo-as cantado, dançado, sequer ouvido tais letras. (e músicas também).

Uma pergunta à Câmara Municipal de Almeirim: Depois da aprovação por essa Câmara, por unanimidade, da intenção de aprovação do Paço como de Interesse Municipal, em 16 de Maio de 2011 (no rescaldo das comemorações dos 500 anos, que vergonhosamente não apoiaram, nem se dignaram assistir), será para assistir a este triste espectáculo, que se recusam a aprovar o que livremente decidiram, agora que o projecto de classificação está elaborado?

Pequeno excerto da Acta de 16 de Maio:
«… Proponho, pois que seja integrada na O.T. desta Reunião o
Ponto 6: Iniciar o processo conducente à eventual classificação
de Interesse Municipal do complexo do Paço Real da Ribeira de
Muge, em Paço dos Negros.”
“é vontade politica, ou não, iniciar este processo”.
INICIAÇÃO DO PROCESSO CONDUCENTE À EVENTUAL CLASSIFICAÇÃO
DE INTERESSE MUNICIPAL DO COMPLEXO DO PAÇO REAL DA RIBEIRA DE
MUGE, EM PAÇO DOS NEGROS.
Posto a votação foi deliberado por unanimidade aprovar.»


Como pesquisador e historiador da História desta minha terra, sinto-me envergonhado com estas atitudes destes meus conterrâneos. Tudo isto seria normal se não proviesse de indivíduos e instituições pretensamente defensoras da Cultura e da História. É este um triste registo histórico.
Estou de luto, pela História e pela Cultura da minha Terra, Paço dos Negros.

Restos de fogueira



Restos de fogueira 2


Podem ver-se as lajes de tijoleira, quinhentistas

Idem


Chão pisado


Dois "postaletes" desaparecidos

"Postaletes" levantados

"Postalete" arrancado que permite a entrada de viaturas até às lages

Dois "postaletes" arrancados, e desaparecidos, que permitem a entrada de viaturas para cima das ruínas