In Noticias Archeologicas de Portugal, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 187.
PELO PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE BERLIN SÓCIO CORRESPONDENTE TRADUZIDAS E PUBLICADAS POR ORDEM DA MESMA ACADEMIA.
Do preâmbulo:
O doutor Emilio Húbner veio á Hespanha e a Portugal em 1861 encarregado pela Academia Real das Sciencias de Berlin d'uma missão archeologica. Os relatórios da sua viagem dirigidos á Academia, contendo noticias circumstanciadas de tudo quanto digno de menção se lhe offerecia em relação ao objecto principal das suas investigações, formam um grosso volume in 8.º. A leitura das paginas consagradas a Portugal determinou a Segunda Classe da Academia a fazel-as traduzir e publicar….
A.S.
NA PÁG.19:
A posição da cidade [Scallabis, Santarém] só pôde com certeza inferir-se do seguimento da estrada, que com toda a probabilidade atravessava, n'este ponto, o rio; visto terem-se descoberto nos logares de Almeirim e Alpiarça, que estão na margem opposta, vários marcos miliarios, que Rezende conservou, de Trajano, de Maximino, de Tácito e alguns fragmentos. Depois cessam de todo os vestígios da estrada, sendo completamente impossível determinar o local das estações de Tabucci e (ad) fraxinum. A segunda, era todo o caso, era uma simples mansio. Os restos de uma via romana, mencionados por Luiz Cardoso, junto a Alter do Chão e Alter Pedroso, podem attribuir-se tanto a esta como á segunda estrada que ia de Lisboa a Merida.
Pensamos que ninguém contesta a existência de uma via entre Santarém e Mérida. Pensamos, no entanto, que no texto de Hubner, supra, (nos logares de Almeirim e Alpiarça), reside o erro que permanece até hoje, que se encontra disseminado, de modo nada científico, e que em nada contribui para a verdade e o progresso de qualquer terra. O que, tudo indica ter sido um erro de interpretação, passou a ser citado como verdade do senso comum, não questionável. Vejamos três exemplos de como este tema se encontra profusamente difundido por tudo quanto é publicação.
(O senso comum como ciência):
…Por esta vila, [Alpiarça], assim como por Almeirim, passava certamente a via romana que ligava Lisboa a Mérida, visto que nesta área apareceram diversos marcos milionários…
(De salientar a dúvida, “miliário a Tácito”, e, diremos nós, que a ponte de Muge fica a sul de Porto Sabugueiro):
… Porto Romano do Sabugueiro próximo da povoação de Muge, rumando depois para N pela Ponte Romana? de Muge e por Benfica do Ribatejo (villa da Azeitada e villa em Alqueva da Branca) até atingir Almeirim, onde conflui com a VIA principal Almeirim (miliário a Tácito?;…
(De salientar a ousadia contida na frase “recentemente identificados”).
…os marcos miliários recentemente identificados, pertencentes à via romana que ligava Lisboa a Mérida…
Finalmente o que diz André de Resende no seu Livro “Antiguidades da Lusitânia”. Tradução de Raul M. Rosado Fernandes:
…Por outro lado, o caminho a partir de Santarém, sobranceiro ao ópido de Almeirim, era conduzido pelas nascentes do rio Alpiarça. [no original, per Alpiarsae fluvii initia ducebatur]. Em qualquer lado se vêm grosseiros fragmentos de colunas, das quais nada havia a transcrever.
Depois, apesar de ter encontrado no caminho quatro colunas caídas, apenas pude ler numa delas o seguinte:
«O imperador César Gaio Júlio vero, nobre general vencedor cinco vezes, com o poder tribunício, cônsul, procônsul, Pai da Pátria…».
Mil passos depois estão tombadas três colunas:
«O imperador César, divino Trajano Augusto, Germânico, Pontífice Máximo, duas vezes com o poder tribunício, restaurou onze».
A segunda estava partida e apenas tinha no fim estas letras:
«Restaurador da cidade de Roma».
[Na terceira]:
«Ao Imperador César Cláudio Tácito, Pio, Feliz, Invicto, Augusto, Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, procônsul…»
Mil passos depois e estavam três colunas, duas caídas, com letras desgastadas pelo tempo, e uma de pé que tem o seguinte:
«Ao Imperador César Marco Cláudio Tácito, Pio, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria…»
Mil passos a seguir estão duas colunas tombadas e no fim de uma delas apenas podem ser lidas as palavras:
«Cônsul pela quarta vez, procônsul, refez».
Mil passos adiante, junto à encruzilhada a que chamam Mestas, estão quatro colunas caídas. Três têm inscrições inutilizadas, mas numa lê-se:
«O Imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximiano, Pio, Feliz, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, Pai da Pátria, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria, ters vezes com o poder tribunício, cônsul Germânico Máximo, Dácico Máximo, e Gaio Júlio Vero Máximo, nobilíssimo César, Príncipe da Juventude, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, quarto filho do imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximino, Pio, Feliz, Augusto, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, Valentíssimo».
Do original, livro terceiro, eis a transcrição da última coluna:
Vemos que Resende localiza os miliários encontrados, à distância de uma milha uns dos outros e o último em Mestas, [concelho de Abrantes].
Perguntamos: Valerá a pena ter medo de discutir estes temas, continuando iludir a ciência e a laborar em possíveis erros, e omitindo a verdade? Em troca de quê?
* negritos do autor.