terça-feira, 28 de junho de 2011

Arraial de S. João

Algumas fotos do Arraial Popular de S. João, no Paço Real da Ribeira de Muge.
Intervenientes:
Marcha "Fonte dos Namorados", Almeirim
Actuação da Academia
Marcha de Cortiçóis, Benfica do Ribatejo
Baile popular























domingo, 26 de junho de 2011

Um ano de actividade da Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge

O primeiro ano de actividade da Academia foi altamente produtivo. Eis um resumo:
Fez a sua estreia na igreja de Paço dos Negros no dia 11 de Setembro de 2010, com um repertório medieval/religioso.

Em Dezembro, o seu concerto de Natal;
Em Janeiro, o Romanceiro Medieval da ribeira de Muge;
Em Fevereiro, “Os Casares” da Ribeira de Muge;
Em Março, Folclore Rural;
Em Abril, As Brincadeiras;
Em Maio, As Grandes Comemorações dos 500 anos do Paço Real da Ribeira de Muge. Pela primeira vez, uma entidade privada, com toda a dignidade, esteve à frente das comemorações aniversárias deste monumento concelhio, substituindo-se à Câmara Municipal..
Em Junho, um Arraial Popular de S. João, na reabilitação da memória e da Capela de S. João Baptista de Paço dos Negros.

Pelo caminho esteve a Academia em Benfica do Ribatejo, na Quinta do Casal Branco, em Vale de Figueira e em Perofilho.

Foram, neste primeiro ano de actividade, criados e representados 4 quadros teatrais:
A Descamisada de Cintinhos
A Praça
O Anivle
Entre marido e mulher

Foi continuada a reabilitação do Paço Real da Ribeira de Muge. Foi dada a conhecer a História desta paço, através da publicação de um livro. Foi reabilitada a memória e a história do lendário Rei Preto. Foram criadas as condições para que possa ser do conhecimento público a maquete da configuração original do Paço real da Ribeira de Muge.

Foram retiradas do esquecimento em que se encontravam e integradas no repertório da Academia, e apresentadas ao público 42 modas, canções e romances:

Dança do fidalgo
Ó preto, ó preto
Canção das escravas
Mulatinha
Mulatinha chiapá
Vira da tira
A chita da ‘nha blusa
Tenho uma saia nova
Pavão
A condessa
D. Inês
A Pastorinha
Bom Jesus da Aurora
O soldadinho
A noiva
S. Jerolmo
Devota da ermida
Manel e Maria
Ó criada tu mal sabes
À beira do rio
Frei João
O anel de sete pedras
O pipó
Pedi-te um beijo ó menina
Mas que chita tão bonita
Inda onte comi tremoços
Os piais da minha sogra
Olha as sogras
Tenho uma concertina
Já o circo vem aí
Parti a tola à Maria
Venho da ribeira da Salga
O “Moca”
Menina no laranjal
Escuta ó menina
Olha o papagaio
Entrei pela Espanha adentro
Saringa-tinga-tinga
Casará olé casará
Toma lá carário
Ó cu ricocu
Na Quinta da laranjinha

Depois deste ano de intenso trabalho, a Academia vai de Férias até Setembro. Férias dos sistemáticos trabalhos de pesquisa, recolha, ensaios...
Que não de ir publicando o que entender.

FÉRIAS MERECIDAS.

Uma das primeira exibições, em 2010. Ainda sem trajes regionais. Nesta gravação aparece a Mulatinha Chiapá.
Terra de Negros, que se dispersaram pela região, esta canção apenas dela encontramos uns resquícios no Brasil, no estado de Sergipe. Remontará ao século XVII/XVIII?

MULATINHA CHIAPÁ.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Arraial de S. João na Academia

Depois de mais de um século de abandono, de se haver perdido até a memória do orago desta capela, S. João Baptista, e enquanto o edifício não é restaurado para as suas plenas funções, agora, quem sabe, para servir a cultura e o turismo, a Academia vai comemorar o primeiro patrono de Paço dos Negros. São João Baptista.

Não perca.

sábado, 18 de junho de 2011

Almeirim - Uma história mal contada?


Trecho de documento de criação do assentamento dos paços e demarcação da vala e coutada de Almeirim. Era de 1424. (Núcleo Antigo, fol. 103).

 «O mui famoso e da louvada memória el rei D. João havendo achado seus grandes desenfadamentos de caças e montarias na charneca de Santarém desejou fazer da parte dalém do rio e de Alpiarça para sua aposentadoria porque muitas vezes embargavam seu desenfadamento as águas das cheias do Tejo. Havido seu propósito começou logo de eventar a grandeza e magnificência que era fundada em fazer sempre grandes obras mandou comprar por seus dinheiros todas as terras da vala que jazem dentro do termo das divisões e confrontações que dito(?) havemos. E parte dessas terras houve por escambo por outras que eram da coroa do reino tudo isto a prazer dos senhorios à boa fé sem enganos. Ora tanto que as terras foram suas as mandou cercar por grossos e altos valos e por razão dos valos levou toda a terra de dentro deles nome a vala. E porque a serra se chama d’Almeirim lhe puseram o sobre nome a vala d’Almeirim, assim é chamada até o presente dia e por este nome intitulada. Acabado este fundou o bom rei suas casas de posentadoria dentro na terra da vala que é um grande e nobre assentamento de paços segundo dão dele testemunho fez edifícios com grandes salas câmaras retretes varandas e outras muitas casas nos sobrados e térreas e dos paços um grande recoito de casas e fora do assentamentos dos paços outras casas a redor todas próprias del-rei …»

 Vemos frequentemente ser atribuído o topónimo "Almeirim", indo a reboque de todas as palavras (topónomos), com o prefixo al. O assentamento do Paço ter sido feito sobre quinta régia já denominada de Almeirim.
Pelo documento anexo, não se pode afirmar a existência de quinta, e que se possa dizer que Almeirim tem origem em palavra árabe. O nome da Serra que deu nome à Vala, e Assentamento, será bem mais antigo.

Consultando o Dicionário Fenício-Português, de Moisés Espírito Santo, vemos que o topónimo “Almeirim” derivará de um milenar culto animista, praticado na Serra. Mrym (tal como Mron, Moron), que significa altura, elevação, local elevado. Al, que significa Árvore majestosa, sagrada, deus para estes cultos da Natureza, na língua Ugarítico-fenícia, falada neste recanto da Hispânia ao tempo dos fenícios. que por aqui andaram uns bons pares de séculos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Miliários epígrafos de Almeirim e Alpiarça

In Noticias Archeologicas de Portugal, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 187.

PELO PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE BERLIN SÓCIO CORRESPONDENTE TRADUZIDAS E PUBLICADAS POR ORDEM DA MESMA ACADEMIA.

Do preâmbulo:
O doutor Emilio Húbner veio á Hespanha e a Portugal em 1861 encarregado pela Academia Real das Sciencias de Berlin d'uma missão archeologica. Os relatórios da sua viagem dirigidos á Academia, contendo noticias circumstanciadas de tudo quanto digno de menção se lhe offerecia em relação ao objecto principal das suas investigações, formam um grosso volume in 8.º. A leitura das paginas consagradas a Portugal determinou a Segunda Classe da Academia a fazel-as traduzir e publicar….
A.S.

NA PÁG.19:
A posição da cidade [Scallabis, Santarém] só pôde com certeza inferir-se do seguimento da estrada, que com toda a probabilidade atravessava, n'este ponto, o rio; visto terem-se descoberto nos logares de Almeirim e Alpiarça, que estão na margem opposta, vários marcos miliarios, que Rezende conservou, de Trajano, de Maximino, de Tácito e alguns fragmentos. Depois cessam de todo os vestígios da estrada, sendo completamente impossível determinar o local das estações de Tabucci e (ad) fraxinum. A segunda, era todo o caso, era uma simples mansio. Os restos de uma via romana, mencionados por Luiz Cardoso, junto a Alter do Chão e Alter Pedroso, podem attribuir-se tanto a esta como á segunda estrada que ia de Lisboa a Merida.

Pensamos que ninguém contesta a existência de uma via entre Santarém e Mérida. Pensamos, no entanto, que no texto de Hubner, supra, (nos logares de Almeirim e Alpiarça), reside o erro que permanece até hoje, que se encontra disseminado, de modo nada científico, e que em nada contribui para a verdade e o progresso de qualquer terra. O que, tudo indica ter sido um erro de interpretação, passou a ser citado como verdade do senso comum, não questionável. Vejamos três exemplos de como este tema se encontra profusamente difundido por tudo quanto é publicação.

(O senso comum como ciência):
…Por esta vila, [Alpiarça], assim como por Almeirim, passava certamente a via romana que ligava Lisboa a Mérida, visto que nesta área apareceram diversos marcos milionários…


(De salientar a dúvida, “miliário a Tácito”, e, diremos nós, que a ponte de Muge fica a sul de Porto Sabugueiro):
… Porto Romano do Sabugueiro próximo da povoação de Muge, rumando depois para N pela Ponte Romana? de Muge e por Benfica do Ribatejo (villa da Azeitada e villa em Alqueva da Branca) até atingir Almeirim, onde conflui com a VIA principal Almeirim (miliário a Tácito?;…


(De salientar a ousadia contida na frase “recentemente identificados”).
…os marcos miliários recentemente identificados, pertencentes à via romana que ligava Lisboa a Mérida…


Finalmente o que diz André de Resende no seu Livro “Antiguidades da Lusitânia”. Tradução de Raul M. Rosado Fernandes:
…Por outro lado, o caminho a partir de Santarém, sobranceiro ao ópido de Almeirim, era conduzido pelas nascentes do rio Alpiarça. [no original, per Alpiarsae fluvii initia ducebatur]. Em qualquer lado se vêm grosseiros fragmentos de colunas, das quais nada havia a transcrever.
Depois, apesar de ter encontrado no caminho quatro colunas caídas, apenas pude ler numa delas o seguinte:
«O imperador César Gaio Júlio vero, nobre general vencedor cinco vezes, com o poder tribunício, cônsul, procônsul, Pai da Pátria…».

Mil passos depois estão tombadas três colunas:
«O imperador César, divino Trajano Augusto, Germânico, Pontífice Máximo, duas vezes com o poder tribunício, restaurou onze».
A segunda estava partida e apenas tinha no fim estas letras:
«Restaurador da cidade de Roma».
[Na terceira]:
«Ao Imperador César Cláudio Tácito, Pio, Feliz, Invicto, Augusto, Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, procônsul…»

Mil passos depois e estavam três colunas, duas caídas, com letras desgastadas pelo tempo, e uma de pé que tem o seguinte:
«Ao Imperador César Marco Cláudio Tácito, Pio, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria…»

Mil passos a seguir estão duas colunas tombadas e no fim de uma delas apenas podem ser lidas as palavras:
«Cônsul pela quarta vez, procônsul, refez».

Mil passos adiante, junto à encruzilhada a que chamam Mestas, estão quatro colunas caídas. Três têm inscrições inutilizadas, mas numa lê-se:
«O Imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximiano, Pio, Feliz, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, Pai da Pátria, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria, ters vezes com o poder tribunício, cônsul Germânico Máximo, Dácico Máximo, e Gaio Júlio Vero Máximo, nobilíssimo César, Príncipe da Juventude, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, quarto filho do imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximino, Pio, Feliz, Augusto, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, Valentíssimo».

Do original, livro terceiro, eis a transcrição da última coluna:


Vemos que Resende localiza os miliários encontrados, à distância de uma milha uns dos outros e o último em Mestas, [concelho de Abrantes].

Perguntamos: Valerá a pena ter medo de discutir estes temas, continuando iludir a ciência e a laborar em possíveis erros, e omitindo a verdade? Em troca de quê?


* negritos do autor.

















quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quinta-feira de Ascensão


Das recolhas junto das mulheres da Ribeira de Muge, podemos apreciar duas formas de viver a Quinta-feira de Ascensão: Num tempo em que o trabalho não tinha direitos, o povo cultivava os interditos que proibiam o trabalho, estava aberto o caminho para O Dia da Espiga, para as romarias ao campo, com grandes festejos junto das barragens e outros lugares de lazer, folguedos que ainda hoje se mantêm.

Clique para ouvir

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dos estudos da Academia

Sem a intenção de que alguém localmente se melidre com estes estudos, pois todos teremos a ganhar com a valorização da nossa genuína cultura, não pode, nem deve, um estudioso destas coisas da cultura, ficar calado perante certos atentados à nossa cultura popular. Atentados que, ainda que com boas intenções, só a prejudicam, porque fora da realidade. Nunca um povo pode progredir não conhecendo a realidade. Sem raízes profundas, fica-se pelo exibicionismo.


Com a devida vénia...

Até finais dos anos 30, a palavra “rancho” vinha sendo utilizada para identificar o grupo de trabalhadores que desempenhavam tarefas agrícolas por conta dos proprietários das quintas para quem trabalhavam” e que quando acontecia uma festa ou um grande evento que mobilizasse os grandes proprietários, aos seus trabalhadores era solicitada a participação para apresentarem os seus fatos mais antigos, músicas, cantares e danças”. De qualquer modo, e em minha opinião, estes “ranchos de trabalhadores” tinham uma essência popular que não existia nos grupos que em 1940, e para o enviar a Madrid, o SNI “farda” sob orientação de “3 etnógrafos” oriundos de Lisboa que transmitiram “uma ordem que vinha das entidades do Estado”.

Um dos casos, é o do Rancho Folclórico de Alte”, e sobre o assunto já tenho falado sobre o assunto com o seu responsável, sendo que os “trajos inicialmente recolhidos na formação do Rancho foram substituídos por outros pagos pela FNAT.

E ao que parece, também Sebastião Arenque, ao assumir em 1967, a orientação do Rancho “Ceifeiras e Campinos” de Azambuja, teve que fazer-lhe algumas transformações, retirando-lhe “todo o repertório, dado tratar-se de músicas compostas, poemas feitos e coreografias encenadas ou imaginadas, sem nada em comum com as usanças antigas das gentes da Azambuja”.

Era a regulação fiscalizadora dos ranchos folclóricos. Aliás, e antes de 1939 António Ferro reivindica para si esse papel de controlador e regulador, e não é por acaso que Salazar afirma: ”fazei as leis de um povo, mas deixai-me fazer as suas canções e veremos qual de nós governa esse povo”.

Em 1953, e enquanto o International Folk Music Council define a Música Folclórica como “ a música que tem estado sujeita ao processo de transmissão oral, que é produto de evolução e se acha dependente de circunstâncias, de continuidade, variação e selecção”, em Portugal sob o ponto de vista etnográfico a mesma era difícil de definir” devido à abordagem alienante do mesmo pelo SNI que ao pretender que o folklore fosse um elemento de actividade turística, acabou por desenvolver uma pretensa etnografia bonitinha, representativa de um povo pobre mas exótico, onde as formas espontâneas de expressão musical chegavam a ser corrigidas e emendadas, por entidades contratadas para o efeito, com vista a perderem a rusticidade original e adquirirem uma estética mais de acordo com os fins em vista.” (Almeida de Sousa)

Lino Mendes, em Cadernos de Etnografia e folclore, http://noticiasdoribatejo.blogs.sapo.pt/1049401.html

"músicas compostas, (plágio), poemas feitos e coreografias encenadas ou imaginadas...", para mais contém uma falsidade histórica. Das dezenas de mulheres idosas que ouvi, e das quais recolhi canções e danças genuínas, não houve uma que tivesse dançado, cantado, que conhecesse esta moda.

Oiça um extracto bem ilustrativo do texto acima.