domingo, 4 de janeiro de 2015

A arte da caça, no Paço Real da Ribeira de Muge

Nove moios de milho anuais para as aves do Paço da ribeira de Muge. Nove moios perfariam cerca de oito mil quilos.

Sendo o Paço erguido para o "desenfadamento" do rei, estas aves eram certamente os falcões tanto de Alto-voo como de Baixo-voo, usadas nas caçadas reais: duas técnicas de caça.

«Alto-voo
A ave é largada do punho para o ar para que “remonte”,
isto é, para que ascenda sobre o terreno de caça até se colocar
alto, onde aguardará, descrevendo círculos, ou “tornos”, que a
peça de caça seja levantada pelo falcoeiro, normalmente com a
ajuda de cães.
É também designado lance de “altanaria”, ou “voo de espera”.
O ataque é realizado em rapidíssimo voo descendente, no
qual o falcão intercepta a presa, “ preando” no ar, ou derribando
a presa ao chão.
Os lances de altanaria praticam-se em grandes espaços
abertos e caçam-se voláteis, ou espécies de pena (patos, sisões,
faisões, perdizes, pombos, etc.)

Baixo-voo
Modalidade de caça na qual se utilizam açores, gaviões e
algumas espécies do género aquila.
A ave é lançada do punho enluvado do falcoeiro no encalço
da peça de caça, quando esta já se encontra em voo, ou em corrida.
A ave caçadora realiza um voo de sprint, descrevendo uma
trajectória recta da luva até à presa, de pelo, ou de pena, sendo
por isso também chamado “lance à vista”, ou ainda “lance a
braço-tornado”?». (Cetraria, uma arte medieval, arquivo histórico municipal, torre de almedina)


«Sejam certos os que este conhecimento virem como é verdade que Antão Fernandes almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge recebeu de Afonso Monteiro almoxarife das Jugadas de Santarém os nove moios de milho que era ciente recebesse para despesa das aves dos ditos Paços os quais nove moios de milho são do ano passado de 518 e porque é verdade que os dele recebeu lhe dei este por ele assinado. Feito por mim Cristóvão Dias escrivão dos ditos paços que os sobre ele dito almoxarife carreguei em receita. Feito aos III dias do mês de Maio de mil 519 anos.

Antão Fernandes                               Cristóvão Dias»

(cf. CC, 2, maço 84, doc.146). CC, 2, maço 81, doc.122)