quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cidadania e cultura em Almeirim


Coisas que precisam de ser ditas, por alguém livre e despido de interesses pessoais e mesquinhos, até para assinalar algum mal-estar social, localmente evidente, exorcizar alguns medos, manhas e cobardias, e repor a dignidade na área cultural no concelho de Almeirim:
Em Maio de 2011, foram comemorados os 500 anos do maltratado Paço da Ribeira de Muge. [Carta-escritura, 3 de Maio de 1511].
Um grupo de cidadãos responsáveis, que se mobilizaram em nome da entidade Academia da Ribeira de Muge, que vinha celebrando estas memórias, com um evento cultural popular, mensal, desde Dezembro 2010 [a Maio de 2011], no Paço, onde foram, nestes meses, recriadas e apresentadas peças locais “inéditas”, evidentes pérolas perdidas das recolhas populares locais.
Convidou a Academia as escolas da terra, freguesia e sede concelhia, associações do concelho, mais de meia centena, para participarem individualmente, ou se fazerem representar no memorável evento.
Foram, neste distinto dia, apresentadas as pérolas mais raras da cultura popular recolhidas, cuja temática, os negros, remontando a pretéritos séculos, vai beber à alma da cultura do povo de Paço dos Negros e da Ribeira de Muge;
Foi apresentado “O Livro” que conta a ignorada História de Paço dos Negros, desde tempos imemoriais até à actualidade.
Compareceram ilustres convidados, como a Grande escritora Deana Barroqueiro, Autora de D. Sebastião e o Vidente, livro cuja trama é também passada neste Paço;
Honrou-nos com a sua presença, um ilustre representante da Casa Real Portuguesa.
As comemorações efectuaram-se com todo o sucesso e dignidade. A sociedade civil, os cidadãos livres mobilizaram-se; não foi necessário pedinchar dinheiro, nem favores, às costumeiras entidades. O que é um exemplo de cidadania activa e criativa, que a todos deveria orgulhar, não fosse preferirem viver de esmolas.
Verificámos com tristeza, que, das associações concelhias, com uma grande e inverosímil coincidência, destas entidades nem uma se fez representar, nem apareceu alguém a título individual. De Santarém, terra da liberdade, sim, disseram presente. (Se alguma pessoa destas associações e escolas compareceu, pedimos desculpa, não tivemos conhecimento; tivemos conhecimento sim, de funcionários com ligações à autarquia, que depois de marcarem lugar, vieram a desistir).
(De salientar que as comemorações dos 600 anos do Paço real de Almeirim [1411], começaram no fim do prazo, em Dezembro de 2011, tendo terminado já no ano de 2012).
Atreve-se este pobre escriba a pensar «que se teriam “esquecido” da História da terra», e perante a revelação, o sucesso e a dignidade das comemorações da sociedade civil em Paço dos Negros, resolveram colmatar esta imperdoável falha com umas serôdias e encomendadas palestras.
Escrevo isto, não porque pense que as pessoas não devam ter a liberdade de ir aonde querem, de participar, ou não, no que querem, mas porque como cidadão livre e que pensa pela sua cabeça, penso que o desenvolvimento da cultura e do movimento associativo no nosso concelho, em liberdade, sem submissão e sem medo, está em risco; está manchado por esta e outras indignidades de subjugação aos ditames políticos, por pessoas que, por acaso, em alguns casos até deviam ser, para nós, exemplos de cidadania.
Até para ter o benéfico efeito de catarse nas consciências, que se deseja aconteça, gostaria que esta mensagem fosse conhecida dos representantes das Associações e Escolas do concelho.

Algumas fotos a relembrar os festejos dos 500 anos do Paço, um dos poucos, se não o único, monumento quinhentista de pé, no concelho.
foto 1 foto 2

foto 6 .. foto 6
foto 30 foto 11 foto 12 foto 13 foto 14 foto 15 foto 16 foto 22 foto 23 foto 24
foto 28

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Paço da ignomínia em Almeirim

Em Almeirim continua a existir um amesandado lóbi, chamado do Restopórtico, baseado não sei se na ignorância se na má fé. Apesar de ser do domínio público toda a história deste Paço, do mesmo continuar teimosamente de pé, continua a ser referenciado, até por quem teria o dever de o preservar e defender, de modo pejorativo e ignominioso. Vejamos o que encontramos na NET:
http://www.cm-almeirim.pt/conhecer-almeirim/historia/item/188-pa%C3%A7o-dos-negros-da-ribeira-de-muge
Apenas o pórtico ainda marca um símbolo da História de Almeirim que continua a desafiar o tempo e a pedir que a sua imagem não se perca no esquecimento.
http://estilosdevida.rtp.pt/rtp/ruinas-do-paco-real-dos-negros-locais-a-visitar-almeirim-paco-dos-negros-fazendas-de-almeirim-640-1.html
Do antigo Paço do século XVI, resta o pórtico que dava acesso ao pátio, coroado pelo escudo real.
2080-640 FAZENDAS DE ALMEIRIM
Paço dos Negros 2080-640 FAZENDAS DE ALMEIRIM http://www.lifecooler.com/portugal/patrimonio/RuinasdoPacoRealdosNegros
Do antigo Paço do século XVI, resta o pórtico que dava acesso ao pátio, coroado pelo escudo real.
 
A placa local anunciadora, há muito que devia ter sido substituída, por outra que repusesse a verdade:

PAÇO REAL DA RIBEIRA DE MUGE

1511

Placa onde pode ver-se que o desprezado, mas belo conjunto do Paço Real que o famigerado Lóbi, sabe-se lá com que interesses, nega ter existido.
Pórtico indicador f

Interior do desvirtuado Pátio, ocupado por construções. (uma casa de banho já foi demolida).
paço para classificação cdurto 005

Maqueta representativa do Paço no século XVI.
maqueta JPG

Que me conste, não haverá no país outra aberração que se compare.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Aforamento de Paço dos Negros e o que dele está a ser feito

Trecho de Escritura de Aforamento de Paço dos Negros, acontecido nos anos de 1903 e 1904.

Aforamento que deu uma particularidade e possibilidade rara a Paço dos Negros, que os actuais residentes, e poderes políticos ainda não compreenderam o alcance futuro: com a demarcação de ruas paralelas, grosso modo da ribeira à serra e todos de 300 em 300 metros, a possibilidade de estas se transformarem em amplas avenidas, bem como a construção de algumas centenas de ruas, igualmente bem delineadas, com a demarcação progressiva de quarteirões, devido à construção, derivado do aumento populacional. Hoje está-se a desperdiçar este património. Um dia vai ser tarde.

João de Oliveira Caniço, um dos pioneiros desse aforamento, nascido em 1864 e falecido em 1963.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

As caralhotas de Paço dos Negros

Segundo confirmação junto das mulheres mais velhas, as caralhotas nasceram de as crianças pedirem às mães um bolo, e estas raparem, aproveitando os restos de massa do fundo e bordos do alguidar. Massa que enrolavam, esfregando com as mãos. Porque estes restos de massa eram mais rijos, faziam uma espécie de rolo sobrecomprido, com que as crianças se deliciavam. Este formato sobrecomprido, que modernamente se designa de baguete, nestas pessoas simples e rudes, é que lhe deu o nome de “caralhota”.

Pelo dito, pensa o autor que a caralhota nunca poderá ser um pão redondo, tipo merendeira.

Com o tempo, e maior desafogo económico, passou a usar-se a massa normal do alguidar.

Quem escreve estas linhas, ele próprio nos anos 50, pedia a sua tia Joaquina que lhe fizesse uma caralhota, por vezes até ajudava a rapar a massa do alguidar, pois a mãe apenas cozia pão de milho.

Fornada de pão, acabado de deitar, com algumas caralhotas.

caralhotas 008

 

Cesto com caralhotas.

caralhotas 010

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

ALMEIRIM PORQUE NÃO HÁ UM PROJECTO REABILITAÇÃO DA RIBEIRA DE MUGE?

Com a devida vénia, retirado do blog “Nós somos capazes”

Escusado será repetir que foi o próprio poder político vigente em Almeirim, inclusive os autarcas das freguesias que têm a responsabilidade da preservação dos recursos dos seus territórios, que votando como votaram originaram esta situação.

ALMEIRIM PORQUE NÃO HÁ UM PROJECTO  REABILITAÇÃO DA RIBEIRA DE MUGE?

A Ribeira de Muge, atravessa todo o Concelho de Almeirim, mas nasce no concelho de Abrantes, atravessa a Chamusca, Almeirim e vai desaguar no Tejo no concelho de Salvaterra de Magos (junto a Muge), outrora constituiu uma via fluvial de enorme importância para toda esta vasta área (pesca, água potável, e rega de várias culturas), hoje o seu “abandono é notório, a mesma encontra-se num estado de degradação ambiental e necessitar de uma intervenção urgente de reabilitação ambiental, nomeadamente a erradicação de vegetação invasora com aplicação de herbicidas, limpeza do leito com remoção de árvores caídas, desflorestação, poda selectiva, remoção de resíduos, desobstrução e desassoreamento, bem como a consolidação das margens em toda a sua extensão.

Não deixa de ser muito “estranho”, ou talvez não tanto, como é possível que as Câmaras, em especial a de Almeirim, não desenvolva os maiores esforços, tendo em vista a realização de obras de reabilitação deste importante recurso fluvial, através de um projecto de empreitada que deveria incidir, essencialmente, na limpeza e desobstrução das linhas de água, transversal a todos os concelhos, consideradas como sendo "zonas de risco" num cenário de inundação em período de chuvas, com vista a acautelar e prevenir eventuais inundações, a aplicação de herbicidas e erradicação de vegetação invasora, desobstrução e desassoreamento de  árvores caídas da  florestação e resíduos. Uma única razão a “desertificação de ideias, numa revelação de incompetência, falta de capacidade, falta de ideias e de projectos para o desenvolvimento em especial do Município de Almeirim e falta de sentido da sua missão de serviço público por parte da “gestão politica” da maioria que “desgoverna” esta Câmara Municipal?

Não se entende porque não foi até hoje realizado um projecto intermunicipal, com apoio da  Administração da Região Hidrográfica, das Câmaras Municipais abrangidas e  da Agência Portuguesa do Ambiente, entidades a quem deverá ser apresentado este projecto de recuperação ambiental de modo a colher também os respectivos apoios comunitários e não ser suportado pelos respectivos municípios?

sábado, 13 de outubro de 2012

Romanceiro da Ribeira de Muge


Na presente versão do medievo romance “Conde da Alemanha”, recolhida na Ribeira de Muge, de que temos conhecimento como recolhido noutras regiões com esta designação e, entre outros, o nome de “Conde Alarcos”, “Conde Alberto”, “Silvana, etc., o romance trata de princesa que vendo-se a ficar para sempre solteira, pede ao rei seu pai que mande matar a mulher do conde, para desposar este.
De referenciar nesta lição, o facto da assonância em í-a se manter do princípio ao fim, com excepção dos versos 23 e 24, cujo dístico monorrimo tem assonância em a-o.
Discutem os romanistas a origem deste romance: castelhana ou portuguesa?
Esta versão da ribeira de Muge tem uma feliz particularidade, a de situar geograficamente o romance?: Tocam-se os sinos na Alhandra; referir-se-à a informante da nossa lição da Ribeira de Muge, à Alhambra, em Granada?
Clique para ouvir: Conde da Alemanha.
https://dl.dropbox.com/u/4453889/4%20Conde%20da%20Alemanha.mp3
Começa com um excerto dos Açores, outro da Beira Alta, de José Alberto Sardinha e termina com a versão da Ribeira de Muge.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Romanceiro Medieval da Ribeira de Muge


Hoje dispus-me a voltar a ouvir o melhor da nossa música étnica:

 Michel de Giacometti, Trás-os-Montes.
INTEMPORAL.

Ora, neste romanceiro, o tema D. Fernando é o mesmo romance medieval que recolhemos na Ribeira de Muge e que tem o nome de O Soldadinho.
Comparemos ambos os temas.

Clique para ouvir:

https://dl.dropbox.com/u/4453889/O%20Soldadinho%202.mp3

Começa com um excerto da versão de trasmontana, continua com a lição recolhida na Ribeira de Muge, e termina com um excerto da mesma, numa recreação da Academia Itinerarium XIV.

domingo, 7 de outubro de 2012

A sedução na cultura popular

Hoje vou apresentar neste espaço a prova de que em matéria de cultura se pode subir ao povo, e com o povo, como nos diz Pedro Homem de Melo.

Em vez de nos retermos em folclorices que denigrem a nossa cultura popular, que nos são apresentadas nos espectáculos vazios do “agora seguidamente…”, sem dignidade, nestas aldeias entregues a autênticos carroceiros da cultura, quase sempre falsificadas, de modo a servirem o poder político, que deles se serve passando o cheque senvergonhista, em cima do palanque.

Nesta metáfora do povo simples, recolhida em Paço dos Negros, está presente toda a riqueza e simbolismo da sedução HOMEM/MULHER: O tremoço rechonchudo, o rapaz homem feito que já bebe da murraça, garboso, responsável; a pevide na simbologia feminina, a conquista da mulher, frágil, a pevide brejeirinha, o tremoço pequenino antes de cozido, e que é escorregadio.

Clique para ouvir:

O tremoço rechonchudo

https://dl.dropbox.com/u/4453889/tremo%C3%A7o%20rechonchudo.mp3

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os moinhos da Ribeira de Muge

Em boa hora começam a surgir artigos científicos sobre o Paço e ribeira de Muge. 
Do nosso conterrâneo Samuel Tomé, sobre o Moinho do Fidalgo, publicado na revista Molinologia Portuguesa, nr. 4, editada em julho de 2012:

Foto inserida no artigo

Pequeno excerto do artigo

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Do Romanceiro Nacional

 

Nesta recolha da Academia Itinerarium XIV- Ribeira de Muge, podemos ver a alegria que o homem ribatejano põe nas suas recriações.

A Pastorinha, numa bonita e plangente versão das nossas Beiras Trasmontanas, de José Alberto Sardinha, comparando com a vivacidade das gentes do Vale da Ribeira de Muge, onde foi recolhida junto de Jesuína Vitória, num trabalho da Academia.

clique para ouvir:

Versão beirã, e da ribeira de Muge. Solistas Gustavo Pacheco Pimentel e Maria de Jesus.

https://dl.dropbox.com/u/4453889/Pastorinha.mp3