terça-feira, 4 de outubro de 2011

RECOLHAS DA ACADEMIA: CONDE DA ALEMANHA

O “Conde da Alemanha” que também aparece com o nome de conde Alarcos, conde Alberto, etc., é um romance novelesco classificado como pertencente ao Ciclo carolíngio. Existe desde 1511 no romanceiro geral castelhano, mas segundo o grande romanista espanhol, Pidal, assim como o romance jogralesco derivou dos cantares de gesta anteriores, remontará a sua origem a data anterior, ao romance jogralesco do século XIII/XIV.

Discute-se a sua origem. Segundo Garrett, este romance trata de um caso da história de Portugal ou de Espanha. Durán no seu Romancero General compara-o com o do Duque de Bragança. Teófilo situa a sua origem nos povos do sul da Europa.
Esta versão tem uma feliz particularidade, a de situar geograficamente o romance: Tocam-se os sinos na Alhandra; referir-se-á a informante da versão da Ribeira de Muge, à Alhambra, em Granada?

Certamente fruto da fértil imaginação do povo, em outras lições, o romance “Conde da Alemanha” na maioria das variantes de que temos conhecimento, trata do caso de uma rainha que tida de amores ilícitos, é descoberta pela própria infanta sua filha; contudo, esta para levar à morte o sedutor e padrasto, “padrasto com pai vivo!”, e ainda assim não denunciar a mãe (que a tenta subornar), junto do rei seu pai, faz-se passar ela própria por vítima de tentativa de abuso por parte do dito conde galanteador.

Na presente versão do “Conde da Alemanha”, que também tivemos conhecimento como recolhido noutras regiões com esta designação e, entre outros, o nome de “Conde Alarcos”, “Conde Alberto”, “Silvana, Filha do Rei de Itália”, etc., o romance trata de princesa que vendo-se a ficar para sempre solteira, pede ao rei seu pai que mande matar a mulher do conde, para desposar este.

Apesar da decadência do romanceiro a partir do século XVII, Maria da Ascensão Rodrigues diz-nos que este romance, que canta o sentimento de povos semi-bárbaros, “continuou a reimprimir-se, sendo o mais divulgado na tradição portuguesa.”
De referenciar neste “verso”, recolhido na Ribeira de Muge, em Paço dos Negros, o facto da assonância em í-a se manter do princípio ao fim, que segundo os mestres denota pureza, com excepção dos versos 23 e 24, cujo dístico monorrimo tem assonância em a-o.

Lição bastante completa, apesar de não integrar o tema fantástico ou milagroso: Um menino com oito meses, p’la sua boca o dizia, temática que recolhemos junto de uma outra informante na localidade vizinha de Marianos.

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Na voz de Jesuína Vitória, uma mulher nascida nos anos 20, que o aprendera de sua mãe. Jesuína Vitória, uma das mais copiosas e uma das últimas transmissoras desta rica tradição oral que é o Romanceiro:
Conde da Alemanha