COM A DEVIDA VÉNIA...
… Lá, nos esquecíveis anos 30 e 40, António Ferro foi o ideólogo do regime que inventou novos padrões para o folclore do povo português, acrescentando 6 (seis!) saias às mulheres da Nazaré, ornamentando as minhotas com ouro, resumindo o fandango ao Ribatejo (ainda por cima só com homens, como se os ribatejanos fossem homossexuais!), pôs cintas com pontas caídas aos beirões, chapéus com borlas para ribeirinhos da Beira Litoral e, pasme-se!... as algarvias pacatas e púdicas, foram desafiadas para uma nova dança, chamada corridinho, onde levantariam a perna mostrando coxas envolvidas em coullotes acabados de importar da cosmopolita Paris. Tudo novo, em nome do folclore antigo, mas para viabilidade do regime e desgraça da cultura tradicional portuguesa. Em consequência e passado meio século, o que foi inventado tornou-se quasi-tradição, tal como os collotes, as cintas com pontas caídas, as sete saias da Nazaré, as borlas nas fitas dos chapéus, o fandango só de homens, as pernas levantadas no corridinho, o ouro minhoto, etc, etc. A farsa é tão grande, que os próprios políticos que foram os pais da incultura tradicional, dizem que é folclore quando puxam das suas farpas politiqueiras contra os seus adversários. Trata-se, efectivamente de incultura não saber que folclore é significado de valores e de património cultural imaterial dos povos, não se resumindo a danças e transportando a identidade de que somos parte. …/… SALVAR A CULTURA TRADICIONAL Começa a ser visível que, nos dias de hoje, é grande o esforço de melhoria nos grupos de folclore que estão conscientes da necessidade de eliminar de vez os conceitos e os tiques salazaristas introduzidos nas décadas 30 a 50 do século passado. Está em causa, não apenas restaurar a credibilidade do folclore, mas essencialmente salvar a cultura tradicional portuguesa do esquecimento e dos efeitos da adulteração introduzida pelo Estado Novo. Para além do estudo e da investigação da etnografia e da antropologia, os folcloristas de hoje obrigam-se ainda a separar o “folclore” do “folclórico”, sabendo que o primeiro está para o segundo como a política (nobre e genuína) está para a politiquice (chafurdeira e falsa), que resulta das intervenções incultas, ainda que algumas sejam letradas, que sobreviveram ao regime salazarista, conservadas em naftalina ou mantidas à custa de cremes e plásticas sucessivas.
in Manuel Farias, em Soberania do Povo, http://www.soberaniadopovo.pt/portal/index.php?news=7515
UM BOM EXEMPLO DA FOLCLORICE QUE LEVA A QUE UMA CULTURA POPULAR SEJA DENEGRIDA E ENVERGONHE QUALQUER POVO.
ALGUMA VEZ AS MULHERES DO POVO USARAM AS FAMOSAS COULLOTES FRANCESAS?