quarta-feira, 31 de março de 2010

A mulatinha

Hoje vou mostrar aos visitadores deste blog, pobre mas esforçado e livre, uma “nova” Canção. De algum modo uma reminiscência de vivências da escravatura em séculos passados. Com pequenas nuances na letra, foi recolhida junto de duas mulheres. Uma nascida e criada no Monte da Vinha, a outra nascida e criada no Pego da Curva, no limite da antiga Coutada da Ribeira de Muge. Ambas têm mais de 80 anos.
Aguarda para ser cantada e dançada pelo Grupo de dança da Academia Itinerarium XIV-Ribeira de Muge. Isto se os dois caciques-mores, os especialistas em mudar fechaduras e em Folclore de autor, o permitirem, claro.

Clique para ouvir: A mulatinha

terça-feira, 30 de março de 2010

O Folclore de autor de Almeirim

Uma brevíssima análise de conteúdo às letras de 24 modas cantadas pelo rancho folclórico de Paço dos Negros.


Algumas modas nos remetam para um momento de recordação de um passado que não está presente.

Minha terra antigamente...

Pensamos que uma canção folclórica é ela passado, e como tal deve ser rememorada, tornando presente, actual, esse espaço e esse tempo passados, no momento da representação. Quase como se fossem espaços e tempos sagrados.

Verifica-se que os termos utilizados revelam pouca antiguidade. Patenteiam grande parte ser termos correntes usados na linguagem de hoje. E as palavras significam também modos de vida. Repetem-se as palavras como Menina. Não aparece a palavra Cachopa:

Eu gosto de ti menina
Eu te faço a confissão
Se não te importasses muito
Davas-me o teu coração

Repetem-se as palavras Colega e Amigo. Não aparece a palavra Camarada.

Pois com esta não me vou calar
Escuta bem o que eu te digo
Gosto de cantar a teu lado
Como colega e amigo

Demasiados desafios e demasiadas vezes acabam estes desafios num acordo leviano:

Vou-te dizer uma coisa
Eu te explico a cantar
Vamos entrar em acordo
Iremos os dois casar

O teu coração é uma aventura
Vamos acabar com esta loucura

E com esta me despeço
Estamos só a brincar
Ficamos ambos amigos
Terminamos a cantar

Quase, ou não aparece mesmo, uma única metáfora, figura de estilo de que o nosso folclore é riquíssimo: Exemplo:

Ó roseira tu tens bicos
Talvez me queiras picar
Não te lembras ó roseira
Quando eu te ia regar

Do Vira da Tira, da Academia da Ribeira de Muge

Fui falar com a Criadora do Rancho, a Gina do Josué, essa GRANDE MESTRA DA DANÇA FOLCLÓRICA LOCAL, que me confirmou: sempre que nas suas recolhas de músicas e danças, as letras estavam incompletas ou não existiam, ela completava-as, ou compunha-as, inventando, tendo sido a autora da maioria das letras cantadas pelo rancho folclórico de Paço dos Negros.

Verifica-se assim, terem autor a quase totalidade das cantigas que são cantadas pelo Rancho Folclórico de Paço dos Negros.

Acredito que os dirigentes do Rancho nem tivessem consciência plena deste facto. Tal é a sua ignorância. Mas a partir de agora, sempre que o Rancho Folclórico de Paço dos Negros exiba o seu folclore de autor, é de justiça que se dê o seu a seu dono e digam que as letras são da autoria de Gina do Josué.

Os ridículos especialistas em mudança de fechaduras

No dia 27, ao verificar que não poderia dar a palestra, no Paço, para o que havia sido convidado, desconhecendo o que se estava a passar, fiquei preocupado pelos alunos e pelos professores.
Eis que surge o sr. Vereador da cultura da Câmara Municipal de Almeirim, que vinha fazer de porteiro, e confrontei-o logo ali, com o que me parecia uma cobardia e uma traição, pois para substituir o fiel depositário da chave, que estava autorizado pela Câmara, não era necessário substituir as fechaduras. Bastava dar uma ordem. Este, aqui, dizendo alguns palavrões, enervado, mostrou todo o seu autoritarismo.
Quero dizer-lhes daqui aos senhores porteiros, e outros, que o moinho tem duas portas e que só mudaram a fechadura a uma. Incompetência? Nem para porteiro presta.
Já agora aconselho-os, não mudem apenas as fechaduras, mudem também as portas, pois as que colocaram, de alumínio, em todo o complexo, deviam saber que portas de alumínio, em edifício quinhentista, se não são uma aberração, denunciam muito mau gosto.
É para impedir o nascimento da Associação Academia da Ribeira de Muge, que este indigno acto foi realizado. E prestam-se estes senhores da Câmara, a colaborar neste acto que envergonha a cultura de Almeirim.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Os especialistas em mudar fechaduras

Compare este naco do pseudo folclore, salazarista e decadente, exibido pelo Rancho Folclórico de Paço dos Negros.

Clique aqui para ouvir. Bailarico do jardim:

Meu concelho é mesmo assim por ele sinto alegria
As Fazendas de Almeirim é a minha freguesia (bis)

Mas não esqueça que a freguesia de Fazendas foi criada em 1956 e o dito rancho diz representar data anterior que, aliás, se lhes perguntarem nem sabem qual é.

Oiça agora, um exemplo, de recente recolha feita em Paço dos Negros, numa gravação de um dos primeiros ensaios do Coro das Mulheres da Ribeira de Muge.


Ó preto, ó preto
De que terra és tu?
Venho de jogar as cartas
Venho do Kartum!

Ó preto, ó preto
De que terra és tu?
Barriguinha cheia
Pontapés no cu!

Era dançada só por homens, nas tabernas, em Paço dos Negros, ainda há cerca de cem anos.

Talvez agora se comece a perceber porque é que um cientista do social ainda que o não deseje, não pode contemporizar com embustes. É claro que são notórias aqui duas atitudes: Uns são especialistas em pesquisas científicas, no seu respeito, em procurar debaixo das ruínas da cultura, outros, são especialistas em mudar fechaduras.

Continua...

Vicissitudes por que tem passado o Paço-Da Aristocracia para o povo

Este documento da T.T. Santarém, no qual o Conde de Atalaia, D. Fernando Manoel, faz o arrendamento do Paço a Manuel Tomé, sogro de Manuel Francico Fidalgo, mostra ser o precursor do que viria a ser o aforamento em 1903-4, e a venda do território não aforado, em 1918, a Manuel Francisco Fidalgo.

domingo, 28 de março de 2010

Paço dos Negros e o seu pseudo folclore

A cena evitável que se passou ontem no Paço Real da Ribeira de Muge de que me sinto envergonhado (e que mais uma vez peço desculpa aos alunos e professores), a respeito de cultura e sua pesquisa, defesa, valorização, revela duas atitudes: aqueles que com gosto dão o seu tempo e o seu dinheiro, que procuram ir às raízes, respeitar a realidade histórico-cultural, e aqueles que, quais cucos, de cultura só sabem aproveitar-se do trabalho dos outros.

Senti-me desgostoso de ver as tristes figuras que fazem: sem vergonha, ridículos, aparecem, alguns quais Pides amedrontadores, sem serem convidados, não cumprimentam, mal-educadas e autoritários dizem palavrões, pavoneiam-se a mostrar que estão ali, ficam de réu, confesso que nunca pensei ver este triste espectáculo. Tudo isto por uma simples palestra que vale o que vale.

Palestra que ainda assim positiva, tive o feedback, baseada unicamente em dados científicos, sobre a qual, se tivessem a mínima percepção do que é a cultura e a história desta terra, deixavam de fazer esta e outras figuras tristes que têm andado a fazer e que achincalham o FOLCLORE, envergonham a terra que dizem representar e são um empecilho ao desenvolvimento cultural.

Imagine porque me sinto envergonhado por a minha terra ser representada por esta gente, muitos deles mercenários, que não se preocupam em investigar.
Eis um naco do FOLCLORE DE AUTOR, que é uma deturpação histórica, e com o qual estes senhores têm andado a enganar os outros, e a enganar-se a si próprios.

Minha terra antigamente
Quem admirado não fica
Hoje chama-se Paços Negros
Dantes era Paços de Manique

Dança do Conde Manique

Continua...

Paulo Soares da Mota - 14º almoxarife

Principais características deste almoxarifado: Obrigado a residir a maior parte do ano no Paço. Foi nomeado a 3 de Março de 1769, mas recebeu o ordenado e trigo e cevada a partir de 8 de Maio de 1770.  Deveria manter o cuidado do Pomar, com dois hortelões, para o que recebia 40.000 reis. Ruas limpas e cultivo de terras anexas.

sábado, 27 de março de 2010

Ignorância e caciquismo

O que se passou hoje no Paço Real da Ribeira de Muge é revelador da ignorância e caciquismo que reina em Paço dos Negros e no concelho de Almeirim.

Ao contrário do que era habitual (ainda na Quarta-feira, dia 24 de Março, o povo da localidade ali se reuniu para um sessão se sensibilização da população para estudarem as hipóteses de criação de um lar de idosos), tendo eu sido convidado para fazer hoje ali uma apresentação da história do Paço, a cerca de 30 alunos da Escola Marquesa de Alorna, para o que havia sido convidado, deparámos que as fechaduras eram outras.

Não sem antes ter passado por ali um do grupo dos caciques e ignorantes da cultura da minha terra, que deu meia volta e foi-se embora, sem ter a coragem de dizer que as chaves era ele que as detinha a partir de agora.

Entretanto aparece o senhor vereador da cultura, sr. José Carlos que disse que haviam mudado (a pedido de quem?, para tramar o povo?) as fechaduras às portas, sem comunicar ao responsável, que as detinha, autorizado e a pedido da Câmara, para abrir as portas sempre que a população necessitasse. O que sempre foi respeitado.

Por respeito ao grupo de alunos e professores dei, com todo o gosto, a minha palestra sobre a bem documentada mas até agora desconhecida História da minha terra, Paço dos Negros.

Daqui quero dizer a esses caciques e ignorantes da Cultura e da História desta terra, que fazem da arrogância da ignorância um fundamento e modo de vida, e se pavoneiam vendendo uma falsa cultura, que chego a ter vergonha do que apresentam, que chega a ser afrontoso e indigno das mulheres, da história e da cultura de Paço dos Negros. Uma fraude cultural, neste momento, que é o caso do rancho de Paço dos Negros, repleto de "mercenários", que não conhecem, nem estudaram a cultura desta terra.
Não conhecendo, como podem transmiti-la e representá-la?

A partir de agora, eles políticos, não contem mais comigo para lhes dar qualquer contributo. Não merecem.

Não preciso da colaboração de gente desprezível, que enxovalha a cultura, ignora e despreza a ciência das pesquisas, adultera a realidade, e prejudica o progresso cultural, e não só, da minha terra.

 
Não quero fazer parte desse grupo de cegos nestas coisas da cultura, a conduzir outros cegos, e que se comprazem a exibir a sua ignorância.

  
Penso que a visita correu bem, ainda assim peço as minhas desculpas ao grupo de professores e alunos.

Clique para ouvir uma dança palaciana que os ignorantes culturais do Rancho de Paço dos Negros se têm recusado a dançar, e que é uma pérola da terra. Talvez quinhentista:

 

sexta-feira, 26 de março de 2010

Curiosidades sobre Uma escrava da Rainha

Neste documento, em 8 Fev. de 1552, assinado em Almeirim, faz a Rainha D. Catarina, que permaneceu em Almeirim desde Julho de 1551 a Fevereiro de 52, mercê de 4.000 réis a uma sua escrava, Isabel Ribeira, para comprar uma cama, pelo seu casamento com Baltazar Veloso, o qual assina o documento comprovativo do recebimento.
Não será esta Isabel Ribeira uma escrava do Paço da Ribeira?
De que os escravos do Paço cedo foram adquirindo alforria, pelo casamento? Tanto que em 1574, o alvará de nomeação do almoxarife Duarte Peixoto, fala já no pagamento de 24 mil reís para dois homens que hão-de cuidar do Pomar. O que se vem a confirmar em todas as nomeações seguintes.


quinta-feira, 25 de março de 2010

D. Sebastião, um rei de boa boca

Será que este caso de quando D. Sebastião se perdia pelas matas da Ribeira de Muge, de quando "fugia" à avó, para ser perder nas matas, se esconder no Convento da Serra, que nos conta o Padre Amador Rebelo, que foi seu Mestre,  tem alguma coisa a ver com uma história que existe em Paço dos Negros "O rei de boa boca".

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ingenuidades e embustes

Ainda a propósito do interessante livro "Almeirim no Coração da Lezíria", na pág. 34 lemos:

Esta frase, muito em breve serão conhecidos os tipos de vegetais cultivados nesta horta (ideia que parece-me tem direitos de autor), fosse ela consequente e não seria um embuste. Espero para ver o Novo Pomar Real, desta vez com os ditos vegetais semeados em terreno de pedras e barro, encavalitados em cima de um aterro. Que é em o que está transformado o Pomar real, que durante quase três séculos foi cuidado a expensas dos vários reis, que para tal mandavam que se pagasse a dois homens de deveriam trabalhar ali em permanência.



Aspecto actual do Pomar real, junto ao paço

domingo, 21 de março de 2010

Almeirim: No Coração da Lezíria

Encontrámos há dias este livro, interessante, sobre Almeirim. Interessante porque condensa informação dispersa, óptima qualidade de papel e impressão, dezenas de patrocinadores privados, o que pensamos ser positivo.
Contudo, pensamos ser nosso dever corrigir algumas lacunas que o mesmo apresenta no que respeita ao tema que vimos estudado. A Ribeira de Muge. Assim entre outros:

Na p. 25 repete aquela velha ideia demissionária de que de tudo o que outrora foi importante deste complexo, resta o dito Pórtico. Acrescenta-lhe a capela, vá lá. Quanto ao renovado interesse da autarquia estamos conversados.

Na p. 31 por várias vezes confunde o leitor, Muge com a Ribeira de Muge.


Na p. 32 afirma o paço de 1512. Pensamos já ser tempo de as referências virem correctas, 03 de Maio de 1511, data da escritura. Conquanto já estivesse em construção a esta data.


Na p. 33 este casal dos Frades não passa de um erro passado, derivado de falta de investigação, que é difícil corrigir.

Na p. 34-35 um desbafo da autora e uma crítica muito acertada.


Na p. 119 parece confundir a vala do moinho com a Ribeira de Muge.


Nas p. 25 e 30 faz, ainda que pedindo desculpas, referência à Inquisição introduzida por D. Manuel I. Oficialmente, com introdução dos tribunais é de 23.05.1536, ao tempo de D. João III, conquanto D. Manuel a houvesse pedido.

Desnecessária a afirmação “bem com se divertiam a negociar”. Não fica bem a um historiador.



É da Héstia Editores, com texto de Sandra Meireles Silva. Não tem data.

Sobre tudo o resto não me pronuncio, por desconhecer. Ainda assim, globalmente acho-o um livro interessante, que qualquer almeirinense deve conhecer.

Ritual de trabalho - Quem é que leva a gaita

Ritual de trabalho, das mulheres da Ribeira de Muge, quando no trabalho das mondas e plantas do arroz.

Clique aqui para ouvir: Quem é que leva  a gaita?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Contos de Entre-Muge-e-Sorraia

Para quem não teve oportunidade de ler n"O Almeirinense"

A casa grande demais

Eram duas famílias de cabreiros. Uma morava no Arneiro Alto e a outra morava no Zebro do Grou. Eram lá caseiros. Um casal tinha uma filha e o outro tinha um filho da mesma bugalhada.
A mãe da cachopa vendo a filha já passada, os rapazes da Lamarosa aquilo era um corrupio, e como na boca do povo “já estava furada”, um falatório pegado, tinha que arranjar maneira de arrumar a filha quanto antes.
– Um desmancho!?... Se quiserem morder que olhem para dentro das casas delas – desavergonhadas!...
– Ó comadre a minha filha não se cansa de falar no seu João…
Sempre a gabar a filha, não perdia uma ocasião de, cada vez mais às claras, falar na filha à mãe do rapaz.
Diga-se que o João, que era o nome do moço do gado, por jeitos não tinha as aduelas todas. Um pobre diabo. Sempre de barrete coçado na cabeça, chamavam-lhe o João Simborla.
Ao contrário, a cachopa tinha tuna. Saía à mãe. Pelo menos na boca da desta: Que não havia outra. Que nada lhe morria nas mãos. Nadinha que se lhe pudesse apontar.
– Por estrear! Por estrear, lhe garanto eu, comadre!
Ora, isto é como diz o povo, se se haviam de estragar duas casas estragava-se só um palheiro; armaram em casamenteiras, fizeram o arranjinho, as comadres. Falariam com o patrão e sempre se arranjaria um buraquito, mesmo pequeno, para morarem.
Feita a caldeirada do arroz-doce, que a mãe dela não deixava para amanhã o que podia fazer hoje, ficaram a viver lá no casal, ao pé da mãe do rapaz.
A mãe dela, muito abelhuda, ao fim de eles se ajuntarem, foi logo observar conversas com a comadre, a mãe do rapaz, e prepará-la.
– Então comadre, e daí como é que eles se estão a dar?!
– Estão-se a dar bem. Vejo-os contentes um mais o outro. São unha com carne, comadre.
– Eu não lhe dizia, comadre, que o seu filho fazia uma boa parelha mais a minha filha!
– É verdade. É como eu lhe digo, comadre; que eles estão contentes um mais o outro, estão, disso não haja duda. O meu João então… Só que tem uma coisa, comadre…
– Diga comadre. Vão ter um cachopo!
– Não é nada disso; p’ra mais, ‘inda só casaram o mês passado, comadre!
– Ó comadre isso não tem importância. Ora conte lá: Eles casaram em Abril não foi: Abril, Mamil e Remamil; Maio, Mamaio e Remamaio; S. João e S. Joanás e o mês que há-de nascer o rapaz! Faz nove meses.
A mãe dele já a zangar-se: – Não é isso comadre! O meu João diz que acha a casa muita grande, prontes! Logo na noite do casamento…
A mãe da cachopa, muito biscainha, mais esperta que a outra, virando-lhe as costas, nem a deixou acabar. Sentenciou:
– Ah comadre, isto não é a casa que é muito grande, ele é que não tem mobília para a encher!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Academia Itinerarium XIV - Ribeira de Muge


Convidam-se todas as pessoas que sonhem construir algo cultural interessante e verdadeiro na nossa terra.

Precisam-se mulheres jovens e menos jovens, para o Coro das "Mulheres da Ribeira de Muge", que recriará as cantigas, os romances, os “casares”, os desafios, etc., como outrora as nossas mães e avós o faziam.



Precisam-se bailadores para recriarem as danças, tal como elas eram no passado.

Homens e mulheres com veia artística para a recriação etnográfica de peças teatrais baseadas em factos reais acontecidos com os nossos antepassados.


Precisam-se homens e mulheres para o enriquecimento da tocata.

Homens e mulheres, mormente reformados, que queiram ocupar algum do seu tempo organizando o museu etnográfico, na recuperação e exposição de peças, utensílios, trajes, etc.

Junte-se àqueles que já estão a dar o seu valioso contributo. Nestes destacamos os acordeonistas Sr. Jerónimo Baptista, o Guilherme e a Carla.

Compareça 4ª feira, 24 Março, pelas 20:30, no Paço Real. Os ensaios serão às 4ªs feiras. Toda a gente será bem-vinda.

Casos da vida real o sofrimento das mulheres, Clique para ouvir: Ribeira da Salga

quarta-feira, 17 de março de 2010

Os azulejos do Paço

Compare os azulejos e talvez fique a saber onde param algumas obras de arte, espólio do Paço dos Negros da Ribeira de Muge.
Numa Quitação refere a quantidade de 3 milheiros de azulujos.




in Almeirim no coração da Lezíria

Eis o que nos diz Frazão de Vasconcelos, membro da Associação dos Arqueólogos, no seu "Paço dos Negros e seus almoxarifes", do ano de 1926, página 4 :


Inteiros, raros haverá mais. Alguns trouxemos para o Museu do Carmo, por oferta do
actual proprietário do Paço, sr. Manuel Francisco Fidalgo.





De um livro do Museu de Arqueologia, Museu do Convento do Carmo, onde numa vitrine estão expostos, sem referência à procedência.
Repare-se que nestes documentos a referência é "Proveniência desconhecida".

terça-feira, 16 de março de 2010

A construção do Paço Real - Curiosidades

Feita a escritura no dia 3 de Maio de 1511, logo o rei manda os vários órgãos e entidades contribuírem para a construção do Paço.

RETIRADOS

Francisco Palha




RETIRADOS 
Feito em Santarém a dezasseis dias do mês de Agosto de mil quinhentos e onze.

                            Diogo Roiz                              João Coelho

segunda-feira, 15 de março de 2010

Mulheres da ribeira de Muge - Juliana

JULIANA (OU D. JORGE, O VENENO DE MORIANA, D. AUSENIA, ETC.)

Está o tema deste “verso” da “Juliana”, recolhido em Paço dos Negros, intimamente relacionado com a lenda escandinava de Sigurd. Lenda que foi disseminada pela Europa por volta do século V. Nele está presente um mote universal, o tema do ciúme e do crime perpetrado através de uma bebida envenenada.

Ramón Menéndez Pidal, dá-nos notícia que Gil Vicente na “Comédia Rubena”, em 1521, pela boca de uma criada, faz referência a este romance.

Como nenhum outro semanticamente desfigurado, neste lindo “verso” vemos como as velhas lendas e imagens são refeitas, renovadas e actualizadas; é esquecido o título nobiliárquico de D. Jorge, os personagens transportados ainda e sempre para ambientes que, neste caso, são familiares às mulheres da Ribeira de Muge.
Pela linguagem utilizada: – Passadas que o Jorge dava eram só para te iludir…, deixa transparecer este versículo, a familiaridade para as mulheres com aquilo que era quase uma fatalidade do destino, para as filhas de um qualquer pobre servo: o filho de um lavrador "enganar" uma rapariga.
De salientar que não faltam as bem populares “Torradas”, propícias a uma certa vingança, um remate moral, como conclusão.

Eu bem te dizia ó filha, mas tu não querias ouvir,
Passadas que o Jorge dava eram só para te iludir.
– Deixe lá ó minha mãe, ó meu pai que me criou,
O Jorze também se engana, assim como ele me enganou.
Recolhido à posteriri

– Aí vem ele minha mãe, no seu cavalo amontado…
– Pois adeus ó Juliana, como estás como tens passado?...
– Eu já cá ouvi dizer, que tu andavas para casar…
– É verdade ó Juliana, venho-te agora convidar.
– Espera aí que eu também vou, que eu quero ir ao teu lado,
Vou buscar um copo de vinho que eu p’ra ti tenho guardado.
– O que pantaste no copo, o que pantaste no vinho?
Que eu já tenho a vista turva, eu já não vejo o caminho!?...
– Se a minha mãe lá soubesse, que eu que cá tinha morrido!...
– Também a minha julgava, que tu casavas comigo!

Torradas, novas torradas
A faca que corta a cana
O Jorze queria ser esperto
Esperta foi a Juliana.

Clique aqui para ouvir: Juliana

domingo, 14 de março de 2010

Homenagem a todas as mães simples mas felizes

A GENTE NÃO LÊ

Ai Senhor das Furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a Deus que nos guarde
Confiar-Lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar de cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por detrás da luz

Ai Senhor das Furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem.

Carlos Tê e Rui Veloso em (A Portuguesa, Isabel Silvestre)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Filhos e enteados





Auto-realização dos privilegiados


Necessidades básicas por satisfazer




Um mesmo concelho, direitos desiguais

quarta-feira, 10 de março de 2010

Contos de Entre-Muge-e-Sorraia

As luvas de pele de ouriço


Nos anos 50 habitavam na Calha do Grou vários arroteadores. Muitos deles habitavam em barracas de tojo e carqueja e cobertas com palha de centeio. Entre eles, havia um que tinha uma filha e três filhos. Em certa altura um dos rapazes, de 16 ou 17 anos, começou a andar doente, com uma cara muito amarela, os vazios metidos para dentro, sempre cheio de frio, mesmo que fizesse calor ensamarrava-se todo, sempre com as mãos nos bolsos. Via-se-lhe o sol pelas orelhas.
Um dia a madrinha disse à mãe do rapaz: – ó comadre tens de levar o rapaz ao médico a Almeirim.
– Tenho lá dinheiro e estamporte para ir ao médico – respondeu a mãe do rapaz.
Um vizinho, chamado o Manel Preto, de alcunha o conquistador, porque com uma cara daquelas, tão bonita, já tinha tido 27 mulheres, mal morria uma entrava logo outra na barraca, a cama nunca lhe arrefecia, tinha dois burros, que utilizava no amanho das arroteias e então ofereceu um burro para levar o rapaz até Almeirim.
Albarda em cima do burro e lá foram.
Chegados a Almeirim, dirigiram-se a uma oficina de ferreiro, nos Areeiros, e perguntaram onde havia um médico para consultar o moço.
Indicaram-lhe o doutor Ernestino.
Chegados ao consultório, logo o doutor confirmou: – O rapaz está muito doente…
– Mas ó senhor doutor, não lhe recomende remédios da botica, porque eu não tenho dinheiro para os pagar.
O médico perguntou onde é que moravam e a mãe disse que moravam na Calha do Grou.
– Calha do Grou, uma boa zona, e há lá muitos ouriços – murmurou o doutor.
– Pois há senhor doutor – confirmou a mãe do rapaz.
– Então a senhora pode apanhar dois?
– Ah pois posso, que o meu home é caçador. E ó senhor doutor é para ele comer guizados ou assados? Que eu até sei fazer um guisadinho muito bom.
Não, não são para comer. Com as peles faz duas luvas para o rapaz usar de dia e de noite. Mas mais de noite que de dia.
E foi assim, com umas luvas de pele de ouriço, que o rapaz se curou e ainda hoje é vivo e são, e mora em Paço dos Negros.

habitante da Calha do Grou, anos 30

terça-feira, 9 de março de 2010

Mulheres da ribeira de Muge "Versos"

António veio de viagem

Encontramos nesta região da ribeira de Muge, uma grande variedade de “Versos” alguns de grande beleza, E que, pelas vozes telúricas, penetrantes, por vezes rudes e agrestes das mulheres, foram cantados com orgulho, por sucessivas gerações dentro dos arrozais desta Ribeira de Muge. Quantas vezes como lenitivo para aguentar a fome, a dureza do trabalho, a saudade de maridos e namorados, normalmente nas partidas da guerra.
“Versos” cujas letras relatando os mais díspares acontecimentos, com funções ora de divulgação da notícia, ora de entretenimento, por vezes a persistência dos mesmos temas ao longo do tempo, denota uma actualização temporal de antigos temas.Apesar de usarem uma linguagem simples, própria do povo por quem eram criados e de um povo iletrado a quem quase sempre se destinavam, neste, e em outros, é patente uma menor antiguidade, uma qualidade conceptual e literária bastante inconstante. Alguns deles são meras quadras, de rima muito variável, “versos” que até meados do século XX, eram propagados através da tradição oral, cantados por “ceguinhos”, divulgados por meio de folhetos, que vendiam nas tabernas ou nas feiras, ou disputados, oralmente, junto dos ranchos que vinham de outras regiões do país, fazendo hoje parte do Romanceiro tradicional desta região.

Antonio veio de viagem  clique aqui para ouvir

domingo, 7 de março de 2010

João de Seixas Henriques - 13º almoxarife

João de Seixas Henriques foi o 13º almoxarife do Paço dos Negros. Principais características deste almoxarifado: Apresentou "carta julgada por sentença de justificação" de filho legítimo de Paulo Soares da Mota.
Certo é que o almoxarifado de seu pai durou de 1685 a 1750. 
Deveria manter dois homens a cuidar do Pomar real.



João de Seixas Henriques filho de Paulo Soares da Mota

Houve Majestade por bem tendo respeito ao que se lhe representou por parte do dito João de Seixas Henriques filho legítimo de Paulo Soares da Mota proprietário o último que foi do ofício de almoxarife dos Paços dos Negros da Ribeira de Muge como constou da carta que ajuntou e estava julgada por sentença de justificação a poder requerer a propriedade do dito ofício em seu nome por ser o filho único e legítimo como também consta da dita sentença e porque será merecedor da dita graça pedia lhe fizesse mercê da dita propriedade pois nele se concorriam todos os requisitos necessários para bem o poder exercitar o que sendo visto seu requerimento carta de propriedade do dito seu pai e sentença de justificação por onde consta ser o próprio filho do último proprietário dela há Sua Majestade por bem fazer mercê ao dito João de Seixas Henriques da propriedade do dito ofício de almoxarife dos Paços dos Negros da Ribeira de Muge o qual terá e exercerá enquanto o dito senhor houver por bem e não mandar o contrario esta mercê lhe faz com a clausula geral com o qual ofício haverá de ordenado em cada um ano dois moios de trigo e dois moios de cevada ou um moio de trigo por eles pagos no almoxarifado das Jugadas da vila da Santarém e trinta e quatro mil réis em dinheiro pago no almoxarifado das Sisas da dita vila que há-de haver por esta maneira dez mil réis de seu ordenado e 24 mil réis para dois homens que hão-de andar contínuos trabalhando nos pomares dos ditos Paços que tudo lhe há-de ser pago em cada ano com certidão do provedor das Obras dos Paços de como servem e os ditos homens andam trabalhando continuamente nos ditos pomares constando processo em como tem dado fiança segura e abonada ao recebimento do mesmo ofício na forma do Regimento da Fazenda de que lhe foi passada carta a qual foi feita a 23 de Julho de 1750.
Assinatura indecifrada

sábado, 6 de março de 2010

Mulheres da Ribeira de Muge - Rituais de trabalho


Compadre abegão, um ritual de trabalho, de quando as mulheres da ribeira de Muge, nas mondas e plantas do arroz, "iam fora". Recolhido em Paço dos Negros.

Clique aqui para ouvir: Compadre abegão

sexta-feira, 5 de março de 2010

O almoxarife Paulo Soares da Mota

Um dos muitos documentos em que este almoxarife, Paulo Soares da Mota I, e sua mulher, (e também seus filhos, António e Eufrásia), no início do se. XVIII, aparecem como padrinhos de casamentos e baptizados na capela de S. João Baptista de Paço dos Negros e na Paroquial de Raposa.

tt, paroquiais, santarém, freg. Raposa, microfilme 1506 

quarta-feira, 3 de março de 2010

Paço dos Negros pré-romano

Urna funerária, Paço dos Negros  - idade do bronze

Associação de Defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim

terça-feira, 2 de março de 2010

Paço dos Negros romano

Moeda Romana Imperador Valentinianus, séc. IV, Paço dos Negros.
 
Associação de Defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim